Memorial de Felipe Ribascik

Felipe Ribascik

1 - Apresentação

Meu nome é Felipe Ribascik e minha vida teve início no dia 24 de fevereiro de 1977, a 1hora e 35 minutos, no Hospital Presidente Vargas, na cidade de Porto Alegre. Segundo minha mãe, Ana Lúcia Ribascik era “época de carnaval e fazia muito calor”.
No final da década de 70, época em que nasci, o Brasil acabara de passar pelo período do chamado milagre econômico. O período do chamado “milagre” estendeu-se de 1969 a 1973, combinado o extraordinário crescimento econômico com taxas relativamente baixas de inflação (FAUSTO, 2002, p. 485). Foi nessa época que os militares conseguiram altos empréstimos financeiros junto a bancos norte-americanos para financiarem seus projetos de grandes obras no Brasil. Além desses projetos, o dinheiro também serviu para aumentar os valores dos salários dos trabalhadores. Era uma maneira de fazê-los ficarem satisfeitos e não criticarem ou pensarem em derrubar o regime de governo vigente, ou seja, a ditadura que imperava no país. Meu pai, Ari Fernando Ribascik, foi uma pessoa que ao longo de minha infância sempre me dizia: -“Na época dos governos militares eu sempre tive bons salários, comprava boas roupas, saía para me divertir com freqüência, só andava de táxi e de lotação, coisas que com o meu salário atual não consigo mais fazer”. Portanto, para meu pai o período da ditadura militar foi bom para os seus interesses econômicos, assim como para muitos outros cidadãos brasileiros que fecharam os olhos e se calaram diante dos horrores que os militares cometeram em relação aos direitos humanos.
Minha mãe, não trabalhava fora de casa enquanto eu era bebê. A sua oportunidade de emprego surgiu quando foi me inscrever numa creche municipal próxima de onde residíamos. Ao chegar, a responsável pela direção da creche perguntou se ela tinha interesse em um contrato de trabalho. Minha mãe disse que pensaria, mas logo depois acabou aceitando. Ela realizou uma prova, obteve aprovação e foi convocada.
Esse trabalho da minha mãe em uma creche foi importante para meu desenvolvimento. Logo que ela começou a trabalhar lá eu também ia com ela, mas ficava sob os cuidados de suas colegas. Foi na creche que eu aprendi a amarrar os sapatos, recortar, desenhar, pintar, contar histórias e principalmente me relacionar com outras pessoas. Entretanto lá, fiquei com um grande trauma que tenho até hoje que é o de não comer peixe, pois lá me obrigaram a comer, não gostei e continuo não gostando até hoje.
2 – Infância e adolescência

Tive uma infância muita tranqüila e feliz. Consegui realizar tudo o que uma criança normal era capaz, somente duas coisas não muito bem: jogar futebol e bolinha de gude (bolita).
Durante toda a minha infância e também a adolescência, morei num bairro de periferia, Lomba do Pinheiro, na cidade de Porto Alegre. Mesmo num lugar distante do centro da cidade pude fazer muitas coisas boas. Residia numa rua calma, onde todos se conheciam desde pequenos. Fazia parte de uma segunda geração, pois meu pai residia nesse local e agora eu estava convivendo com os filhos dos seus amigos de infância.
Na rua onde residia, todos brincavam sem preocupações, pois não havia perigo de violência e nem de trânsito movimentado. Recordo que havia sempre uma época específica para cada brincadeira. Assim havia o período em que só se jogava taco bola, em outras apenas bolita, depois futebol e assim continuava com outras brincadeiras. Em alguns momentos aconteciam brigas entre os amigos, mas que rapidamente eram resolvidas e tudo voltava a sua normalidade.
A adolescência também foi um período da minha vida muito bom e também de tranqüilidade. Não tive problemas de relacionamento e nem crises de identidade, por exemplo. Meu maior problema nessa fase da vida foram as acnes. Segundo Outeiral: O corpo, neste momento, assume um importante papel na aceitação ou rejeição por parte da “turma” (p.9). Era assim que me via, mesmo não sendo todo o corpo, era algo que me incomodava pelo lado estético. Nessa fase onde o jovem quer se sente mais livre e começa a sair em busca de novas conquistas, essa aparência, ao meu ver, desagradável me incomodava bastante. Nunca ninguém chegou a dizer, principalmente alguma menina, que isso era um problema, contudo era algo que estava dentro de mim. Mas felizmente consegui conviver bem com a acne e só consegui resolver o problema com 21 anos de idade, quando já estava na universidade.
Nessa fase também tive a oportunidade de sair com os meus amigos e nunca me envolver em confusões. Outro fato marcante dessa época foi o distanciamento com as drogas. Por morar num bairro de periferia o problema existia, mas eu e meus amigos nuca nos envolvemos com nenhuma substância entorpecente. Em todos nós sempre havia o medo de desapontarmos nossos pais que sempre procuraram nos proporcionar o melhor, muitas vezes algo que eles não tiveram como fazer devido a dificuldades financeiras. Isso foi muito bom para a formação de caráter e de adquirir responsabilidade para a vida.
3 – A vida escolar
Iniciei a freqüentar a escola aos 7 anos de idade, quando entrei na 1ª série. Antes disso freqüentei a creche (hoje escola de educação infantil) e não fiz o jardim de infância (atual 1ºano do ensino fundamental).
Comecei minha vida escolar no ano de 1984, na antiga Escola Municipal de Ensino Fundamental Heitor Villa Lobos, que se localizava próxima de onde eu morava com minha família. Logo que comecei a freqüentá-la, sempre tinha muito medo de me atrasar e perder o início da aula. Geralmente, meu pai me levava e sempre tínhamos algum atrito devido ao meu temor de não chegar no horário certo. Foi na escola Villa Lobos que aprendi as primeiras letras, a ler e a escrever.
Nas séries iniciais não tive problemas em relação ao rendimento e dificuldades de aprendizagem, quase sempre recebia elogios das professoras. Nunca esqueci da minha primeira professora Cleúza que me iniciou no mundo dos letrados. Na segunda série tive a professora Amélia que sempre foi muito amável para com toda turma. Na terceira série fiquei marcado pela professora Suzana, já falecida, que me ensinou muitas lições de vida sendo sempre rígida quando era preciso, mas carinhosa e amável nos momentos em que deveria agir dessa maneira.
Depois de ser aprovado para a quarta série, no ano de 1988, mudei de escola. A partir daquele ano fui estudar no Colégio Champagnat. Meus pais me colocaram na escola particular devido a oportunidade de uma bolsa de estudos oferecida pelo trabalho do meu pai. Foi uma grande mudança para uma criança de 10 anos de idade, pois saí de uma escola pública para uma particular, os colegas eram novos e a escola tinha uma estrutura bem diferente da qual estava acostumado. Logo na primeira semana e aula já comecei a entrar no padrão da escola. Sempre que tocava o sinal para sairmos no final da manhã, a professora ficava na porta esperando que os alunos lhe desses um beijo antes de irem embora. Na escola anterior não havia esse sistema, portanto eu fui embora sem dar o beijo. A professora não falou nada, apenas me puxou pelo braço e eu entendi que deveria lhe dar o “beijo de despedida”. Depois daquele dia fatídico eu, quase sempre, era um dos primeiros da fila do beijo na professora.
Após algumas dificuldades inicias fiquei bem adaptado com o sistema da escola e não tive maiores problemas. As séries seguintes 5ª, 6ª, 7ª e 8ª foram todas elas tranqüilas e sem grandes percalços. Por estar numa escola particular, onde meus pais tinham que pagar uma parte já que a bolsa de estudos era parcial, sempre tive que ter a responsabilidade e principalmente a obrigação de passar para a série seguinte e assim garantir o retorno do investimento que estavam fazendo nos meus estudos.
Quando concluí a 8ª série e chegaram os valores da rematrícula para o ano seguinte, 1992, meus pais levantaram a possibilidade de ser preciso mudar de escola devido aos altos valores das mensalidades. Fiquei triste pela possibilidade de não continuar a estudar na escola a qual estava ambientado e já ter uma grupo de colegas a alguns anos juntos. Assim, realizei testes de seleção em várias escolas estaduais e até em escolas técnica. Felizmente, meus pais conseguiram refazer seus cálculos e decidiram apostar nos meus estudos ao me deixarem estudando no Colégio Champagnat.
O 1º ano do segundo grau (atual ensino médio) foi um novo momento de mudança. Conheci novos colegas que continuaram juntos comigo até o final do 3º ano do segundo grau. No início nos sentíamos os donos da escola, pois agora já estávamos no 2º grau e nossa sala de aula, ficava no segundo andar da escola, portanto acima das “crianças” do primeiro grau. Foi nesse ano escolar que eu fiquei em recuperação terapêutica pela primeira vez na minha vida. Esse acontecimento foi terrível, pois eu não estava valorizando o esforço que meus pais fizeram para me manter naquela escola. Contudo deu tudo certo e consegui terminar o segundo grau, mesmo ficando em recuperação todos os anos, sem reprovar em nenhuma etapa. O mais importante desse período da minha vida foi a formação de grandes laços de amizade, que duram até hoje mesmo depois de 14 anos de formados. Para se ter uma idéia, quando concluímos o 1º ano, escrevemos uma carta para a direção da escola pedindo para que não separassem nossa turma chegando a relatar que nós tínhamos até mesmo pego catapora juntos, pois três de nossos colegas contraíram a doença na mesma época. Por esse e outros motivos, até hoje sempre que possível realizamos reencontros para nos vermos e sabermos os rumos que as vidas de cada um de nós tomaram e acima de tudo relembrarmos nossos tempos de escola.
Durante o período em que estive no Colégio Champagnat comecei a despertar meu interesse em História, mas não sei explicar bem o motivo visto que, na minha humilde opinião, tive apenas um bom professor dessa disciplina no 1º ano do segundo grau. Na 5ª série tive um professor, ao meu ver era péssimo, que prometeu um chocolate como prêmio para o aluno capaz de tirar nota 10 na prova relativa as navegações portuguesas e ao “descobrimento” (hoje sabemos que foi uma conquista, imposição dos portugueses) do Brasil em 1500. Eu consegui realizar a façanha, mas até hoje estou esperando o prêmio pelo meu belo desempenho. Possivelmente esse interesse tenha nascido pela minha dificuldade na área das ciências exatas, principalmente com as disciplinas de Física e Matemática.
4 – A opção por um curso superior

Logo depois que concluí o segundo grau, em 1994, pensava que apenas com o meu certificado de conclusão emitido pelo Colégio Champagnat iria conseguir um bom emprego. Porém, a realidade mostrou-se bem mais dura do que eu imaginava.
Em 1995, prestei o meu primeiro vestibular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por incrível que pareça, me inscrevi para o curso de Biologia. Isso aconteceu, pelo fato de no 2º e 3º anos do segundo grau em ter como professor o senhor Carlos Frozi. Nossa turma ficava maravilhada com o seu conhecimento e dedicação nas aulas de Biologia. Além disso, foi nessa disciplina que realizamos duas viagens de estudos: uma para a cidade de Torres e outra para a de Canela. Para nós, todos jovens, foram experiências muito marcantes. Além disso, eu tinha desempenho satisfatório nas aulas e tirava boas notas. Ainda quando estava na escola, realizei um trabalho de orientação vocacional que me encaminhou para essa área de atuação profissional.
Realizei as provas, mas não consegui a aprovação. Depois disso fiquei o restante do ano de 1995, freqüentando aulas num curso pré-vestibular. Resolvi seguir esse caminho, devido a influência de uma amigo de infância que queria prestar vestibular para Ciências da Computação. Confesso que íamos para as aulas, mas não me sentia realmente seguro e principalmente decidido para cursar Biologia. Contudo tentei novamente o vestibular na UFRGS, pois sabia que meus pais teriam dificuldades em bancar uma universidade particular, no ano de 1996 e não fui aprovado.
Depois dessa nova decepção, em 1996, fui procurar emprego, afinal de contas já estava com 19 anos de idade. Assim, por indicação de uma tia, consegui emprego numa metalúrgica. Essa oportunidade que surgiu foi algo totalmente diferente e novo para mim. Eu estava num ambiente completamente desconhecido, sujo e muito barulhento com colegas que tinham conhecimentos diferentes dos meus por terem estudado em escolas diferentes da que eu havia freqüentado. Fui escolhido justamente por não ter nenhuma experiência, pois a empresa queria me moldar para que pudesse poder trabalhar conforme os seus sistemas e interesses voltados para a produção de peças de automóveis. Algo muito bom nesse local, também foram os laços de amizade e companheirismo. Aprendi muito com colegas que nos momentos difíceis, em que devido a inexperiência e total inabilidade em trabalhar com alguns procedimentos técnicos, prestaram-me auxilio e solidariedade.
Embora estivesse trabalhando apenas para meus gastos pessoais, pois não precisava ajudar com nenhuma despesa da casa, não me sentia satisfeito com o meu trabalho. Assim, em 1997, mesmo sem ter estudado me inscrevi para o vestibular da UFRGS mais uma vez. Só que dessa vez decidi me inscrever para História por duas razões: eu gostava mais do que Biologia e o número de candidatos por vaga menor, ou seja, era mais fácil entrar na universidade. Como das outras vezes, não consegui a aprovação, mas estava decidido que iria entrar na universidade de qualquer maneira. Como já relatei não gostava do meu trabalho, não via possibilidades de crescimento e também vi que poderia ser demitido a qualquer momento, pois a empresa estava passando por dificuldades financeiras e o risco de demissões era iminente. Diante desse quadro entrei num acordo para ser demitido e prontamente fui atendido. Com o dinheiro que recebi da recisão trabalhista decidi investir num curso de informática e depois numa nova inscrição no curso pré-vestibular.
Após tomar a decisão de sair do emprego comecei a freqüentar as aulas do curso pré-vestibular com mais empenho. Agora a situação era diferente: eu estava pagando o curso e queria muito entrar na universidade para tentar um emprego melhor do que eu tinha anteriormente. Dessa vez, com mais certezas e decidido em relação aos meus objetivos, me inscrevi para o meu quarto vestibular na UFRGS, o segundo para o curso de História. Agora foi tudo diferente, mesmo tendo poucos acertos nas provas de Física e Matemática, consegui a aprovação em 24º lugar, entre os 50 selecionados no vestibular de 1998. Senti o retorno do meu empenho e dedicação aos estudos.
Foi uma conquista dupla, pois o meu amigo que havia dado o incentivo para a inscrição no pré-vestibular também foi aprovado em Ciências da Computação. Comemoramos muito, saímos para a “festa dos bixos” e recebemos todas as congratulações possíveis pela conquista de uma vaga na UFRGS. Entretanto eu não tinha dimensão do que iria acontecer ou fazer logo que entrasse na universidade. Estava com 21 anos de idade, mas sabia muito pouco sobre como iria ser o curso, o que eu iria estudar. Pensava que seria algo muito próximo do que vi na escola, bastaria estudar um pouco, ler algumas revistas ou livros, guardar as principais informações na memória e pronto já estaria formado e pronto para trabalhar. Outro acontecimento que me marcou era quando as pessoas perguntavam o que eu iria fazer quando me formasse, se eu tinha vontade e desejo de ser professor, pois era isso que eu iria fazer depois de concluir o curso. Eu respondia dizendo que não, pois poderia trabalhar em museus, ser pesquisador de algum tema específico e ganhar um bom salário para desempenhar tal tarefa. Ser professor era algo impensável, pois o salário era baixo e os alunos incomodavam muito, não valeria o esforço e o desgaste. Entretanto com o passar dos anos tudo mudaria de figura.
5 – A vida na faculdade de História

Em fevereiro de 1998 foi realizar minha primeira orientação de matrícula. Tudo para mim era estranho: desde as salas de aula, até as pessoas as quais eu via circulando pelo Campus do Vale (local onde eram ministradas a maioria das cadeiras do curso). Naquela época os horários eram colocados em uma folha onde os alunos deveriam saber o significado de alguns códigos para se poder montar o seu horário. Depois disso havia um dia determinado onde deveríamos comparecer pessoalmente, ou alguém ia com uma procuração para efetivar a matrícula.
No início os professores já começaram a nos pedir leituras em espanhol. Isso foi um acontecimento que deixou muitos colegas da turma preocupados, mas que logo em seguida nos habituamos. Com esse começo difícil e pesado, devido a grande carga de leitura e de trabalhos, logo em seguida foi deflagrada uma greve que durou mais de 2 meses. Quando retornamos não estava mais com aquele pique inicial, mas consegui obter aprovação nas cadeiras as quais havia me matriculado. Em relação aos colegas a turma era composta, na maioria, por pessoas da minha idade, mas os que já eram mais velhos se enquadraram muito bem com os jovens.
Um fato que começou a chamar minha atenção foi o grande número de abandono, por parte de vários colegas. Na minha ótica tal fato era inconcebível, por se tratar de uma universidade pública onde as pessoas passaram por um difícil teste de seleção. Em relação às aulas havia aquelas ótimas, mas também as que não eram muito atraentes. Até o terceiro semestre ainda não havia decido qual ênfase seguiria: bacharelado (formava pesquisadores) ou licenciatura (formava professores). Para alguém se achava muito decidido era algo difícil de ser aceito. Além disso, desde o início do curso sempre consegui estágios dentro da UFRGS, que eram ligados em áreas administrativas e não a licenciatura.
Contudo, aos poucos fui revendo meus conceitos e cheguei a conclusão que deveria seguir a licenciatura, pois caso não gostasse, posteriormente poderia pedir um reingresso e concluir o bacharelado e ter as duas ênfases. Um temor que eu tinha era o de concluir o curso e não exercer a profissão, por incompetência ou desinteresse pela área. Muitas vezes ficava pensando como eu seria capaz de falar sobre a proclamação da Independência do Brasil sem errar os nomes dos principais envolvidos, ou o pior, passar alguma informação incorreta como sendo verdadeira. Para o meu alívio e satisfação tudo isso mudou depois de uma experiência profissional muito marcante.
6 – A experiência como docente

Minha primeira experiência como docente aconteceu em julho do não de 2001. Como já havia citado anteriormente, eu era estagiário desde o início da faculdade. Estava sempre me inscrevendo, procurando melhor remuneração. Então em meados de 2001, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, tinha um programa, destinado a graduandos de licenciaturas, chamado de experiência docente. Fui chamado para uma vaga na Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilaire. A escola se localiza na Lomba do Pinheiro, mesmo bairro o qual eu nasci, cresci e ainda residia.
Inicialmente fui chamado para realizar uma entrevista com a diretora da escola. Ela foi muito atenciosa e muito gentil e explicou que eu iria trabalhar como professor substituto, ou seja, sempre que faltasse um professor eu iria entrar em sala de aula. Devido a minha inexperiência, expus todos os meus temores em não saber, por exemplo, ministrar aulas de Matemática. Ela disse que seria muito tranqüilo, pois sempre haveria planos deixados pelos professores e qualquer dúvida alguém me auxiliaria.
Logo no início descobri que tudo seria bem diferente do que eu pensava. Era muito difícil haver algum plano deixado pelos professores e muitas vezes era preciso improvisar. Além disso, também sofria, um pouco, com o desrespeito por parte de alguns alunos, eu era jovem ainda, e não era um professor titular, era apenas o substituto, o estagiário que estava somente suprindo a falta do titular da disciplina. Depois desse início alucinante, fui pego de surpresa com a minha promoção para professor de Educação Artística de 6 turmas, pois não havia professor até que um novo fosse nomeado. Nesse momento quase desisti de tudo. Eu mal sabia algum assunto relacionado a História e agora como iria fazer para ministrar aulas para 6 turmas diferentes.
Esse acontecimento foi muito bom para o meu crescimento pessoal e profissional. Como não havia nenhum plano a ser seguido, eu precisei ir em busca de atividades para os alunos, pois agora eu era o professor. Inicialmente fui buscando informações com os professores mais antigos na profissão e depois em livros sobre o tema, precisei estudar e aprender. Foi nesse momento que pude contar muito com a ajuda do professor Ivo Viana, de História, que me repassou muitas dicas e conselhos valiosíssimos para serem utilizados em sala de aula.
A partir dessa experiência comecei a me ver como professor, visto que muitos dos professores da escola diziam que eu iria me tornar um bom profissional. Foi nessa escola que aprendi a como entrar numa sala de aula, perder o medo, o “friozinho na barriga” e ver que a profissão de professor pode ser muito gratificante.
7 – A vida depois da formatura

Minha formatura ocorreu em maio de 2003, devido as greves era para ter ocorrido no final de 2002. Participei da formatura muito feliz por estar realizando um desejo pessoal, conquistando algo valioso e sendo um dos primeiros da minha família a ter um diploma de curso superior nas mãos.
Ainda durante o curso eu e meus colegas sabíamos das dificuldades em se colocar num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e exigente. De posse do diploma constatei a dura realidade, de que um diploma de curso superior não era garantia de emprego. Então comecei a deixar curriculum em várias escolas e a prestar concursos públicos (seguindo os passos dos meus pais que são funcionários públicos até hoje). Em relação a primeira alternativa fui chamado somente para uma entrevista, onde havia mais 7 pessoas concorrendo a mesma vaga. Não fui o escolhido. Já na segunda alternativa, concorri em concursos públicos em várias cidades da região metropolitana de Porto Alegre, mas ficava sempre no quase. Caso fossem, por exemplo, 10 vagas para professor de História eu ficava em 12º ou 13º. Não consegui classificação melhor devido ao mau desempenho na prova de títulos (cursos, especialização, mestrado e doutorado), já que não tinha nenhum, apenas a minha graduação, pré-requisito para poder concorrer a vaga. Também havia as inscrições para contratos emergenciais oferecidos pelo governo estadual do Rio Grande do Sul, para suprir a falta de docentes. Só para ter uma idéia me inscrevi em 15 contratos e não tinha sido chamado para nenhum deles.
Essa situação estava me deixando muito irritado e desiludido, sem perspectivas de mudanças. Antes eu não conseguia um emprego por não ter um curso superior, agora que o possuía era mais um desempregado. Nesse momento contei muito com a ajuda de minha fiel companheira e hoje esposa Kátia. Nós dois estávamos formados, ela em Pedagogia, mas queríamos ter a nossa vida, casar, ter uma casa própria e nos mantermos sem a ajuda de nossos pais, mas a situação era muito difícil.
Diante desse quadro decidimos apostar e fomos participar de um concurso público no município de Cidreira, localizado no litoral gaúcho. Pensamos nessa possibilidade pelo fato dos meus pais terem uma casa no litoral, que só era utilizado no verão, e nós podermos ir para lá com a finalidade de trabalharmos. Acredito que foi algo muito marcante para nós, pois pela primeira vez nós estávamos decidindo algo sem que nossos pais pudessem decidir ou interferir por nós. Nós estamos sozinhos e deveríamos assumir todos os riscos quando tomamos a decisão de participar desse concurso público que poderia mudar os rumos de nossas vidas.

8 – Adquirindo experiência como profissional

Conseguimos a aprovação no concurso de Cidreira, dentro das vagas definidas pelo edital. Depois disso ficamos na expectativa de sermos chamados, fato que demorou cerca de 8 meses para se consumar.
Inicialmente tivemos que nos adaptarmos com um ritmo de vida bem diferente do qual estávamos acostumados. Como sempre vivemos em Porto Alegre, na capital, foi terrível nos acostumarmos com o ritmo lento de uma cidade pequena. Em relação ao trabalho, as dificuldades giravam em torno da preparação e aplicação do que foi planejado nas aulas. Dois fatos que me incomodavam era situação política, pelo fato de ser uma cidade pequena o prefeito era uma espécie de senhor feudal (controlava a vida de todos que lhe deviam satisfações) e a falta de perspectiva nos alunos que não pensavam em estudar para progredirem e mudarem os rumos de suas vidas, pois seguiam o ciclo de miséria imposto aos seus pais e avós.
Por outro lado havia muitos bons momentos por lá. Tive a oportunidade de trabalhar na Educação de Jovens e Adultos (EJA) que eu aprendi a gostar durante a minha prática de ensino e as amizades que surgiram com novas pessoas que conhecemos, como um casal que saiu de Caçapava do Sul, para ir residir em Cidreira. Durante todo o ano de 2005 vivemos no litoral. Entretanto a situação começou a se complicar quando minha esposa começou a sentir muita falta da vida que levávamos em Porto Alegre. Por coincidências, ou não, do destino, durante o período de férias, em janeiro de 2006, fui convocado pela prefeitura de São Leopoldo por ocasião de concurso público prestado em 2003. Foi essa a oportunidade que tivemos de retornarmos para a capital.
Durante o período onde realizei os exames de admissão fiquei com muitas dúvidas se deveria retornar. Em Cidreira levava uma vida tranqüila e sem complicações, tinha um salário garantido e férias no verão, um luxo para quem reside no litoral, pois essa época é a oportunidade de emprego para muitos moradores da região. Ainda permaneci durante 5 meses trabalhando 3 dias em Cidreira e 2 em São Leopoldo, para não perder a vaga conquistada num concurso. Contudo vi que as possibilidades de poder estudar e melhorar a minha formação estariam em Porto Alegre ou em São Leopoldo. Hoje posso dizer que fiz a escolha correta, pois se não tivesse retornado provavelmente não estaria fazendo parte dessa edição do PROEJA. Acredito que as oportunidades aparecem nos momentos certos de nossas vidas e depende de um cada um de nós decidir se elas podem ou não mudar nossos caminhos e objetivos a serem alcançados.

9 – Referências bibliográficas

Livros:

BENINCÁ, Elli e CALMI, Flávia Eloísa (Orgs.). Formação de professores: um diálogo entre a teoria e a prática. Passo Fundo/RS; Editora da Universidade de Passo Fundo, 2004.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
OUTEIRAL, José. Adolescer: estudos revisados sobre adolescência. Rio de Janeiro: Revinter, 2003. 2ª Edição revisada.

Sites na internet:

Endereço eletrônico: http://memorialinformativo.blogspot.com. Site com informações de como se fazer um memorial.
Endereço eletrônico: www.wipikedia.org Site de uma enciclopédia eletrônica. Para esse trabalho foram retiradas as regras e o funcionamento do “jogo da vida”.

3 comentários:

Unknown disse...

aaadorei meu afilhado querido o que li, não sei escrever como tu sabes, mas acho que tu vai entender pois a dindinha é um pouco burrinha,me orgulho muito de ter um afilhado de tamanha inteligencia pois eu não conseguiria escrever tudo isso me senti importante por ter alguem muuuuito inteligente em nossa familia.obrigada por vc existir.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Gostei muito desse memorial. Me identifiquei porque tive o mesmo trajeto. A diferença é que desisti de reprovar em tantos vestibulares e fazer faculdade particular, trabalhando de dia p/ estudar a noite.
Qdo tiver um tempo, vou fazer um memorial como esse.