Cássio Gonçalves Reis[*]
Porto Alegre
2008
2008
A história da construção de um professor
Sentado aqui em frente ao computador, fico pensando e relembrando minha vida para escrever este memorial, e percebo o quanto é difícil iniciar um texto autobiográfico, pois para mim fica posta a seguinte questão: por onde começar?
Bom, imagino que possa ser interessante começar falando sobre minha família, sobre ser filho de uma professora, ser afilhado de uma professora, além de ter várias outras tias também professoras, sendo importante destacar que todas elas são ou foram (maior parte delas estão aposentadas atualmente) professoras da rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul, ou seja, professoras de escola pública. Portanto, faço parte de uma família que tem forte ligação com a educação, tendo eu convivido com o ambiente escolar praticamente desde que nasci, o que provavelmente influenciou nas minhas escolhas profissionais. Aliás, não somente eu, pois tenho primos e primas que também optaram por carreiras na área de educação, fazendo com que nossa família, mesmo através das novas gerações, continue atuando fortemente na área da educação.
Nasci em Porto Alegre, e quando eu estava com 5 anos de idade, em 1982, meus pais compraram uma casa em Gravataí, para fugirmos do aluguel do apartamento onde morávamos nesta capital. Foi em Gravataí, e Cachoeirinha, cidade vizinha a Gravataí, que tive toda minha vivência escolar como aluno até me formar no “2º Grau”. Em 1982 e 1983, ano do título mundial do meu glorioso tricolor, eu cursei o jardim e o pré na Escola Maria Auxiliadora em Porto Alegre, onde minha mãe trabalhava com Jardim de Infância. Em 1984 fui matriculado na 1º série do 1º grau, como era chamado o Ensino Fundamental na época, na Escola Estadual Dr. Luiz Bastos do Prado, em Gravataí, onde minha mãe passou a lecionar em Gravataí com turmas de 1º e 2 º séries. Nesta escola eu participava muito da vida escolar, pois muitas vezes eu ia muito antes do meu horário para escola acompanhando minha mãe, pois não havia quem cuidasse de mim enquanto ela estava trabalhando. Toda esta convivência na escola fez com que eu tivesse uma proximidade muito grande com todos os professores da escola.
Na época em que eu estudei nesta escola, só havia turmas até a 5ª série, e quando passei da 4ª para a 5ª série, eu troquei de escola. Minha mãe me matriculou, então no ano de 1988, na Escola Municipal Jardim Florido, que ficava a 4 quadras da minha casa em Gravataí. Neste momento, então, passei a viver uma experiência nova: a de ser quase somente mais um aluno da escola, agora eu não era mais o “filho da professora Teresinha”. Eu passei a ser apenas o aluno, mas os professores desta escola, alguns pela proximidade da escola, e outros por morarem no mesmo bairro e serem colegas de profissão, conheciam muito bem minha mãe.. Na Escola Jardim Florido eu estudei da 5ª a 8ª séries, ia muito bem nos estudos, com exceção da matemática onde eu tinha grande dificuldade, passava sempre na recuperação. Tenho muito boas recordações desta escola, pois fiz grandes amizades, algumas que perduram até os dias de hoje.
Concluído o 1º grau na escola Jardim Florido, novamente houve a necessidade de trocar de escola, pois ali ia somente até a 8ª série. Fui, então, no ano de 1992 a Cachoeirinha realizar minha matrícula na Escola Estadual de 1º e 2º Graus Marechal Mascarenhas de Moraes, a maior escola pública da região de Gravataí e Cachoeirinha. A partir deste momento eu passei a ser definitivamente somente um aluno como qualquer outro matriculado na escola, se me destacasse por algum motivo, seria por atitudes minhas.
No Mascarenhas de Moraes eu cursei todo meu 2º grau, entre os anos, de 1992 e 1995. Em 1992 eu tive a minha grande decepção escolar que foi ter sido reprovado em matemática. Foi um ano diferente para mim, pela primeira vez, eu estudava longe de casa, pegava ônibus, ia para uma grande escola, conhecia muitas pessoas diferentes, a escola ficava junto ao centro da cidade, tinha muitos atrativos para um adolescente se atrapalhar com os estudos, principalmente se já tivesse alguma dificuldade, como era meu caso com a matemática. Na 1ª série do 2º grau eu fiquei em recuperação em 9 disciplinas, ou seja praticamente todas, estudei muito no final do ano, tirando inclusive boas notas na recuperação, mas com a matemática que eu sempre tivera uma grande dificuldade eu não consegui me recuperar. Após este grande golpe eu mudei muito minha postura como estudante, não tendo ficado mais nenhum ano em recuperação, me esforçando muito mais nas disciplinas em que eu tinha dificuldade para poder entender melhor os conteúdos, eu passei a valorizar o “aprender” ao invés do “estudar para passar”.
Entre 1993 e 1995 eu estudei a noite, pois eu queria muito buscar um “estágio”. Porém meu pai queria muito que eu me concentrasse nos estudos, para ele era muito importante eu estudar, pois ele estudou até a 5ª série do ensino fundamental, e ele sabe que apesar de ter conseguido construir uma vida boa para quem pouco estudou, ele é consciente de que tudo teria sido mais fácil se ele tivesse estudado na sua época, inclusive teria ido mais adiante. Então ele gostaria muito que eu tivesse todas as possibilidades de chegar inclusive até a faculdade. Eu acabei não trabalhando neste período, e fiz cursos de inglês e de informática. Acreditava que seria importante realizar estes cursos em paralelo, pois eu fazia o segundo grau básico, enquanto vários amigos meus cursavam cursos técnicos, e eu me preocupava, pois enquanto eu tinha a vantagem de me preparar melhor para o vestibular, eu tinha a desvantagem de não ter nenhum curso especifico para ingressar no mercado de trabalho após concluir o segundo grau.
Em todo o segundo grau eu me destaquei muito nas disciplinas na área das humanas, e me esforçava muito para ir bem nas exatas, mas eu gostava muito de lidar com informática, e tinha muita simpatia pelo jornalismo. Na verdade eu curtia muito o jornalismo esportivo, sempre fui apaixonado por futebol e como nunca tive talento suficiente para pensar em uma carreira futebolística, o jornalismo poderia me aproximar muito desta área. Mas ao concluir em 1995 o segundo grau eu resolvi investir no vestibular para informática, e acabei me dando mal adivinha aonde? É claro, não poderia ser diferente, me quebrei na matemática, prova de peso importante para quem quer cursar informática. Ao mesmo tempo eu havia me inscrito para as provas de seleção no curso de Técnico em Informática Industrial, no SENAI “Visconde de Mauá” em Porto Alegre. Fui aprovado e classificado, e em janeiro de 1996 fiz minha matricula para o curso, e, nos anos de 1996 e 1997 eu fui aluno do SENAI.
Durante estes dois anos neste curso técnico penei muito adivinha onde? Pois é, na matemática mais uma vez. Passei trabalho, mas com um esforço enorme eu ia superando as dificuldades. Ao final de 1996 fiz novamente vestibular para Informática, e mais uma vez tive uma média insuficiente para sonhar com a universidade, nas provas das áreas das humanas eu fazia médias excelentes, mas tinham pouco peso para o curso que eu desejava, ao mesmo tempo que a prova de matemática tinha muito peso para meu curso, e aí baixava muito minha nota. Comecei então a pensar em outras possibilidades.
No início do ano de 1997 surgiu uma oportunidade de fazer um estágio na UFRGS. Fui então com mais dois colegas meus do SENAI ver o que era, e acabamos nos transformando em Bolsistas ITI – B (Iniciação Tecnológica Industrial 1B) no Projeto Educadi ( Educação à Distância em Ciência e Tecnologia - ) do CNPq( Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico), no LEC(Laboratório de Estudos Cognitivos) no Instituto de Psicologia da UFRGS, projeto que envolvia outros 3 estados (Brasília, Ceará e São Paulo) trabalhando de forma coordenada, e que possuía aqui no Rio Grande do Sul a coordenação da Prof. Drª. Léa da Cruz Fagundes. Este projeto possuía três objetivos: 1 - Aplicações da Internet em EAD: ciência e tecnologia no atendimento de populações de regiões marginais urbanas; 2 - Aplicação das tecnologias da informática em EAD na formação de professores; 3 - Desenvolver pesquisas para avaliar o impacto da aplicação da informática em EAD no sistema de ensino público; e a partir daí então: elaborar modelos de metodologias para uso da internet na sala de aula; testar, avaliar os resultados e validar os produtos; disseminar resultados. O site é o http://educadi.psico.ufrgs.br/, onde pode-se encontrar mais informações sobre o projeto e as escolas desenvolvidas. Depois do treinamento inicial nos computadores do LEC, onde eu pude aprender muito sobre o uso e a produção de página de internet, e descobri que eu podia aprender buscando as respostas, sem ter alguém me dando as respostas prontas. Neste momento eu comecei a ter contato com leituras de textos de umas figuras que viriam a fazer parte da minha vida acadêmica e depois profissional como Jean Piaget e Paulo Freire. Autores até então desconhecidos para mim.
A escola para qual eu fui designado pelo projeto foi o Colégio de Aplicação da UFRGS, onde fui trabalhar com os professores do Projeto Amora. Tal qual está no site (http://amora.cap.ufrgs.br), o Projeto Amora objetiva a reestruturação curricular caracterizada pelos novos papéis do professor e do aluno demandados pela construção compartilhada de conhecimentos a partir de projetos de aprendizagem e integração das tecnologias de informação e comunicação ao currículo escolar. O projeto, que atualmente envolve alunos de 5ª e 6ª séries do Ensino Fundamental do Colégio de Aplicação da UFRGS, prevê a possibilidade de integração com outras séries.
Estes quase dois anos, entre 1997 e 1998, em que trabalhei diariamente no Colégio de Aplicação foram uma experiência fantástica para mim. Pude ter contato com uma escola que possuía uma estrutura excelente, especialmente para alguém que como eu havia tido toda minha vida escolar em escolas da rede pública estadual e municipal, e, principalmente, ter contato com uma nova realidade de ensino, muito diferente daquela na qual eu havia sido aluno a minha vida inteira: uma forma de ensino que estava propondo a eliminação da grade curricular, técnicas de perguntas e soluções de problemas, trabalhar através de projetos, interdisciplinaridade e planejamento compartilhado em assembléias semanais com professores e alunos. Foi um período em eu tive um crescimento pessoal e um aprendizado como nunca havia tido antes: aprendi muito sobre a minha área na época, que era a de informática, mas principalmente pude aprender muito sobre a educação. Foi uma experiência tão fantástica para mim, a de trabalhar com os alunos no laboratório de informática, em parceria com os professores, que acabei me apaixonando pela idéia de trabalhar em escolas.
Lembro até hoje de uma manhã em estava com uma turma do projeto Amora no laboratório, e a professora me pediu para dar uma atenção especial a um aluno que tinha mais dificuldade, sentei, então ao lado dele e fui auxiliando na construção do seu site com o resultado da pesquisa que ele havia realizado. Fui com toda calma e paciência que eu havia aprendido que era necessária para auxiliar o aluno a encontrar a solução dos problemas, sem receber a resposta pronta. Depois de uma hora de trabalho ele finalmente concluiu seu projeto e o apresentou a sua professora, que o elogiou e deu parabéns pelo seu trabalho e dedicação. Ele ficou radiante, pois havia sido a primeira atividade que ela havia conseguido concluir de forma completamente satisfatória, e, então, ele veio e me deu um abraço muito forte, onde percebi o carinho que ele teve por mim em retribuição ao tempo que eu havia ficado auxiliando ele para superar suas dificuldades. Aquele gesto mexeu muito comigo, e me fez parar para pensar que esse tipo de carinho são poucas as profissões que poderiam possibilitar, e que não tem salário que pague este gesto. Provavelmente neste momento nasceu o meu desejo em me tornar professor.
Então, no verão de 1999, sacudido pelas experiências no Projeto Amora no Colégio de Aplicação, e por ter realizado um vestibular para jornalismo e ter tido um desempenho muito superior aos vestibulares prestados para informática, eu resolvi apostar no vestibular para História. Na UFRGS fiquei 6 colocações abaixo do último que ingressou na Universidade, e fiquei entre os primeiros colocados no curso de História da PUCRS. Bom, como não estava mais a fim de esperar um ano para o outro vestibular da UFRGS, resolvi me apertar financeiramente e me matricular na PUCRS. Foram necessários 5 anos para concluir o curso, entre o primeiro semestre de 1999 e o segundo semestre de 2003. Foram 5 anos de muito jogo de cintura para poder pagar o curso, portanto, muito trabalho para cobrir as despesas, muito estudo e dedicação, mas também foram 5 anos de muito aprendizado e experiência.
Enquanto cursava a faculdade, eu ia procurando alternativas de trabalho como bolsista. Entre 2000 e 2001 fui bolsista na Secretaria do Mestrado Profissional em Engenharia de Produção da UFRGS. Em 2001, atuei, também como bolsista ITI – A do CNPq no Projeto "Museu Virtual - Ferramenta de Autoria para a Criação de Museus em Realidade Virtual para apoio à Aprendizagem Colaborativa via Internet", no LEC(Laboratório de Estudos Cognitivos) no Instituto de Psicologia da UFRGS. Através deste projeto eu tive a oportunidade de participar em 2001 do 4th SBC Symposium on Virtual Reality (SVR 2001), em Florianópolis – SC, como apresentador da oficina “Desenvolvendo recursos para construção de Museus Virtuais”. Experiência interessante para mim, primeira vez que ando de avião, e para participar de um congresso internacional.
Entre 2001 e 2003, fui professor estagiário no Colégio Marista Irmão Weibert, em Porto Alegre, trabalhando Informática com alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio através de projetos que envolvem todas as áreas de estudo. Aqui também foi um período de muito aprendizado, pois apesar de ser estagiário de informática, sempre que possível participava das reuniões pedagógicas junto aos professores de história. Com certeza deste estágio levei muitos ensinamentos para minha futura carreira como professor.
Em janeiro de 2004 eu finalmente conclui meu curso superior de Licenciatura em História, fiz o concurso da Prefeitura de Charqueadas para professor, fui aprovado, e, em março de 2004 assumi como professor concursado deste município. Iniciava, então, ainda em março de 2004, na Escola Municipal Horácio Prates, em Charqueadas minha carreira como professor de história.
Em Charqueadas passei a dar aulas de história no turno da manhã para turmas de 5ª a 8ª séries, e no turno da noite, passei a trabalhar com Educação de Jovens e Adultos, ainda não na forma de EJA, mas organizado por Totalidades, com avanços por semestre.
O meu trabalho com adultos teve todo um processo de construção. Eu não tinha nenhuma experiência como professor, e muito pouco conhecimento sobre educação de adultos. No início eu preparava aulas para turmas regulares e tentava dar a mesma aula para os adultos. Logo em seguida eu já percebi que isso não funcionaria devido ao período reduzido de aulas que eu tinha no noturno, e ao longo do ano eu comecei a ver que as aulas com os adultos não rendiam da mesma forma que com as crianças. Era necessário uma nova linguagem e aulas com ênfases diferentes das aulas para as crianças, então comecei a preparar materiais específicos para o trabalho com os adultos, dando mais atenção para o diálogo e experiências de vida dos alunos.
Portanto, o ano de 2004 foi um ano muito especial, pois foi meu primeiro ano como professor, então, eram muitas as novidades para se aprender dentro da escola, e também muito trabalho por fazer, pois todos os conteúdos que ia trabalhando nas aulas eu ia descobrindo a melhor forma de utilizá-lo na prática. Lembro que isso me preocupava muito, cada vez que preparava uma aula ficava imaginando se seria uma boa aula, e ficava um pouco nervoso com isso, pois ao mesmo tempo que saía da escola me sentindo muito bem quando dava uma aula em que eu via que teve bom resultado, eu saía, também, muito frustrado com as aulas que não tinham um bom rendimento, já pensando em reparar os erros para as próximas aulas. Mas com o passar do tempo fui aprendendo a lidar com isso.
No início do ano, em fevereiro de 2005, fiz uma entrevista em uma escola particular, e fui convidado ser professor de História e Cultura Religiosa da Escola de Ensino Fundamental Vinicius de Morais, na zona sul de Porto Alegre. Atuei como professor desta escola entre fevereiro de 2005 e fevereiro de 2008. Aqui nesta escola ganhei muita experiência. Tive a oportunidade de aprender muito com profissionais mais experientes, com carreira consolidadas em grandes escolas particulares de Porto Alegre. Com estes colegas pude ter uma boa e importante idéia de como funcionam, se organizam e se trabalha em escolas particulares. Considero a experiência de trabalhar em escola pública e privada muito importante, pois podemos aprender muito nos dois lados, e, inclusive, levar para as escolas públicas muitas idéias de gestão escolar das escolas privadas.
Em 2005 assumi como professor, com contrato emergencial, no Estado do Rio Grande do Sul, para lecionar história na Escola Estadual Rio de Janeiro em Porto Alegre. Nesta escola dei aulas de geografia para 8ª série e de história para turmas de 5ª e 7ª séries. Nesta escola tive a oportunidade de atuar, também, como um dos professores responsáveis pelo Laboratório de Informática, ou seja, de manter organizado e prestar suporte aos colegas que desejavam desenvolver projetos utilizando os computadores. Trabalhei nesta escola entre 2005 e 2006, e apesar de ter tido muitas dificuldades em lidar com o comportamento dos alunos e a falta de interesse nos estudos dos mesmos, foi um local muito gostoso de trabalhar, pois me senti muito bem recebido pelos colegas e, também, pelo fato que a escola ficava próxima a minha casa, era só sair de meu apartamento no Bom Fim, atravessar a Redenção e estava na escola. Para mim esta sensação de proximidade foi muito prazerosa, pois sempre trabalhei em regiões distantes de minha residência, como o bairro Restinga e o município de Charqueadas.
Foi com muito pesar que desistindo de meu contrato com o Estado na época, mas foi necessário. Ao final do ano de 2005 tive problemas de estresse muito sérios, trabalhar 60 horas semanais e em locais distantes uns dos outros estava sendo muito desgastante parta mim, precisava largar alguma coisa, e como, infelizmente é o Estado que paga o salário mais baixo, tive que desistir da escola mais próxima da minha casa.
No inicio de 2006 a SMED do município de Charqueadas decidiu que era necessário centralizar a educação de adultos em somente 3 escolas do município, e o noturno da Escola Horácio Prates, onde eu também trabalhava à noite foi fechado. Na época eu não concordei com a decisão, pois a escola, diferentemente de outras que tiveram seu noturno fechado a noite, estava com um número de alunos ficando em número razoável e em crescimento. Foi com tristeza pelo fechamento do noturno na minha escola que passei neste ano a trabalhar no noturno de outra escola, a Escola São Miguel. Esta escola era mais afastada do centro da cidade, e atendia a um público mais carente.
Minha tristeza pela troca de escola não foi maior por que nesta eu tive a oportunidade de encontrar um bom grupo de professores para trabalhar (aliás, sempre tive muita sorte em encontrar grupos unidos e competentes nas escolas em que atuei), e encontrei alguns alunos que estudavam lá no Horácio Prates, e fiquei sabendo que outros, egressos daquela escola, também continuavam estudando a noite nas outras duas escolas do município que continuaram com a educação de adultos. Mas nesta situação toda o que me deixou incomodado foi que alguns alunos do noturno da Escola Horácio Prates acabaram deixando de estudar após o encerramento do noturno da escola. Enfim, foi uma decisão que fez com que alguns alunos abandonassem os estudos, e acredito que quem trabalhe com educação, principalmente de adultos, tem que se esforçar muito no sentido de evitar o abandono destes alunos, mas eu pude perceber, também, ao longo do tempo que a SMED conseguiu organizar de uma forma muito melhor a educação de adultos no município com essa centralização em somente três escolas à noite.
No início do ano de 2007 acabei centralizando toda minha carga horária na Escola Horácio Prates, e iniciei o ano trabalhando somente com crianças de 4ª a 8ª séries. Mas durante o verão deste ano tive uma crise sobre o que fazer com meu futuro profissional. Queria mudar algo, estava me sentindo muito desiludido com a profissão de professor. Aliás, não exatamente com o fato de ser professor, mas com a forma como os governos tocam a questão educacional aqui no Brasil, estava chateado com algumas questões relativas a política da SMED de Charqueadas, e também com algumas questões administrativas da escola particular em que eu trabalhava. Decidi, então, tirar uns meses de licença na prefeitura e seguir somente com a escola particular, para experimentar um negócio próprio. Foi o que fiz no início do mês de abril.
Passaram-se três meses, e eu estava sentindo falta do maior contato com as escolas. Os negócios não estavam saindo como planejado, e o futuro dele não estava se mostrando de uma forma positiva, e. então, de uma forma, podemos dizer, prematura, resolvi abrir mão da minha tentativa de ter o próprio negócio, antes que ele me causasse um prejuízo financeiro muito grande.
Encerrei meu período de licença na prefeitura, e voltei a trabalhar em paralelo com a prefeitura e a escola particular. Nesta volta ao município, acabei não conseguindo voltar a trabalhar na escola Horácio Prates, pela qual criei um carinho muito grande, e onde me sentia muito à vontade. Foi a escola em que entrei pela primeira vez na minha vida como um “professor de verdade”. Nesta escola aprendi muito, tive excelentes colegas, e um contato muito próximo com os alunos, onde consegui, inclusive conhecer as suas famílias, e ter um bom relacionamento com a comunidade escolar. Senti muito o fato de ter perdido de continuar meu trabalho nesta escola que já estava marcada no meu coração.
Porém, se perdi a chance de dar continuidade com meu trabalho na escola Horácio Prates, passei a trabalhar na Escola Maria de Lourdes agora com toda minha carga horária no noturno com a EJA. Neste retorno fui muito bem recebido pelos colegas desta escola, pela qual eu ainda não havia atuado, colegas que se mostraram também excelentes profissionais, com os quais pude sentir muito prazer em trabalhar e vontade de fazer um excelente trabalho. Esta volta, portanto, trabalhando diretamente com o EJA, e, em um excelente ambiente de trabalho, teve muita relevância para minha carreira, pois me ajudou a recuperar todo meu ânimo e empolgação pela educação.
No final do mês de setembro do ano passado, voltei a trabalhar para o Estado do Rio Grande do Sul, agora como professor concursado. Passei a trabalhar para o Estado na cidade de Charqueadas, pois quando fiz o concurso, acreditei que seria menos cansativo se tivesse a oportunidade de ter algumas escolas a mais na região onde já trabalhava, tendo a possibilidade de fazer somente uma viagem para trabalhar. Tive muita sorte de ir dar aula na Escola Cruz de Malta, onde mais uma vez fui muito bem recebido, e encontrei um excelente grupo de professores. Nesta escola fiquei com algumas turmas de EJA de Ensino Médio e duas turmas de segundo ano do Ensino Médio.
Logo após ter entrado no Estado, chegou, na escola municipal Maria de Lourdes, um comunicado enviado pela SMED, com informações sobre o Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e Adultos. Achei a proposta interessante e como estava gostando muito do trabalho com o EJA, achei que seria uma boa oportunidade, em um momento em que eu estava me sentindo muito bem com meu trabalho, de voltar a estudar, e fazer uma pós-graduação. Acabei sendo um dos relacionados para cursar a especialização e aqui estou neste momento encaminhando o final deste texto, já com idéias de concluir esta especialização e dar seqüência com um Mestrado na área de educação.
Este ano estou trabalhando no município no turno da tarde somente com 5ª séries com as disciplinas de Ensino Religioso e História, e, no Estado, fiquei somente no turno da noite, com todas as 8 turmas de EJA de Ensino Médio da escola, na disciplina de História.
A experiência deste ano com a EJA esta sendo muito importante, pois esta especialização está me proporcionando muitas reflexões sobre a minha prática docente. Reflexões de mudanças que já havia me proposto a realizar antes mesmo de iniciar este curso. Este curso está vindo em um momento em que estou me propondo a refletir e (re)pensar sobre o ensino das crianças e principalmente o de adultos.
Ao mesmo tempo que as leituras me dão algumas luzes sobre algumas indagações sobre a prática docente, trazem, também, mais questões e ainda mais dúvidas. E este fato está se tornando cada vez mais inspirador, me levando a buscar cada vez mais respostas e reflexões sobre a educação.
Este trabalho tem sido uma excelente forma de reflexão sobre a minha vida docente. Agora no momento em que estou concluindo este texto, e após ter repensado toda minha vida profissional, vendo de que forma minha vida pessoal também foi influenciando na área profissional, e vice versa, cheguei a conclusão de que gostaria de reescrever vários trechos deste trabalho. Pois quanto mais vamos fazendo leituras, mais vamos dando novos significados e novos valores aos mais diferentes momentos pelos quais passamos na nossa vida profissional.
Posso afirmar que estar participando deste curso está sendo excelente, este memorial foi algo muito especial e significativo de escrever. No início foi muito estranho, ou melhor, difícil de iniciar, mas após o texto começar a se desenvolver, e as memórias começarem a se abrir foi ficando cada vez mais prazeroso. Ao mesmo tempo que foi um prazer, foi, também, muito importante refletir sobre a minha trajetória profissional, pois me ajudou a trazer mais reflexões e indagações sobre minha prática docente. E tenho certeza que assim como este primeiro módulo do curso foi de muito proveito, muitas reflexões e muitos desafios, as próximas etapas também serão.
[*] Professor de história do município de Charqueadas e do estado do Rio Grande do Sul, e aluno da turma B do Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino Médio na Modalidade Educação de Jovens e Adultos.
2 comentários:
bem legal *-*' me deu bastante ideia pra criar o meu memorial õ/ parabéns !
Olá,parabéns agora sei por onde comerca meu memorial, você deu otimas dicas.
Postar um comentário