Memorial de Zaqueu Key Claudino

MEMORIAL FORMATIVO
Zaqueu Key Claudino

No ano de 2008, quando concorri pela primeira vez a uma vaga para estudar em um curso de pós-graduação direcionado para jovens e adultos percebi que esta era a chance de colocar a ideologia dos povos indigenas e como estes se relacionam com a educação escolarizada e como realizam a educação cultural bilíngüe nos seus sistemas tradicionais.
Todavia, a partir do ingresso ao curso de graduação em Pedagogia escrevo e reescrevo o modo como este povo se relaciona com o mundo da educação escolarizada. Este memorial descritivo, é o primeiro que elaboro. Procurei seguir as orientações do professor Rafael Arenhaldt. Para a elaboração do memorial, o qual será apresentado à coordenação do Programa de Pós-Graduação do PROEJA PPGEDU, e é para a aquisição do título em especialista em educação profissional direcionada a (EJA) Educação de Jovens e Adultos e ao ensino médio, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

O INÍCIO
Sou indígena e o segundo filho de uma família de três irmãos e uma irmã – mesmo que sempre tenhamos nos relacionado muito bem, e meus pais tenham nos dado muita forca e incentivo aos estudos da educação escolarizada tive muitas frustrações relacionadas ao fato de eu não ter tido irmãos e irmãs que cursaram uma graduação. Meu pai, hoje aposentado, era funcionário da Fundação Nacional do Indio (FUNAI) e a minha mãe, uma senhora digna de ser chamada KUJÁ, pois conhecia muitas ervas medicinais. Nasci no ano de 1970 na reserva indigena da Guarita, que na época era chamada de terra indigena SAKROG no município de Redentora RS.
Quando eu tinha doze anos de idade fui alfabetizado na escola Indigena Sepé Tiaraju da aldeia do irapuá no ano de 1982, na Terra Indigena da Guarita, onde as aulas eram sempre presididas por professoras brancas – não sei quem eram, mas sabia que eram ( FÓG). Estas professoras eram mulheres de chefes do posto e de funcionários da FUNAI, nesta época já existia o ensino bilíngüe, porém com pouca intensidade, pois a grande meta era fazer com que os alunos indigenas aprendessem primeiro a língua portuguesa, então o idioma kaingang sempre ficava em segundo plano. Somente se ensinava nas aulas de bilíngües a cultura, quem presidiam estas aulas eram os monitores bilíngües. Permaneci nesta escola até meus dezeseis anos de idade, desestindo logo depois, motivo pelo qual eu casei tive dois filhos e uma filha com a primeira esposa com quem vivi por nove anos. Quando nasceu meu primeiro filho o Gilmar Fagvëjá, tive uma nova oportunidade de voltar à estudar denovo, após ter abandonado as aulas. Houve uma inscrição para monitores bilíngües no ano de 1987, para indígenas que teriam terminado a 4° série do primeiro grau, então me escrevi e, como teria sido aprovado para o ano seguinte a 5° série, fui selecionado para cursar o curso de monitor bilíngüe no Estado do Parana município de Laranjeiras do Sul (na missão da ISLB). Tive uma experiencia fantastica, realizei os meus estudos tudo voltado para a cultura kaingang, realizei este curso por um periodo de três anos, terminado o curso no final do ano de 1989 voltando com a minha familia, digo família por que durante estes três anos fora da Guarita, residindo na missão, colégio dos pastores, tive mais um filho o Cleverson Nïvénhmág.
No ano de 1990 foi a minha primeira experiencia como professor bilíngüe, foi justo na Escola Indígena Sepé Tiaraju, onde anos atraz teria sido alfabetizado, hoje Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Completo Antonio Kasïn Mïg. Ali, gostaria ter encontrado aquelas professoras brancas que foram minhas professoras e também gostaria de ter encontrado o meu professor bilíngüe, o Neri Käme sï Ribeiro, mas não tive esse previlegio. Somente uma professora que atualmente é chefe do posto da Guarita a professora Janir Hermann, tive o prrvilegio de ser colega dela. O meu tio que era o cacique na Guarita o Samuel Claudino, conseguiu através da prefeitura do município de Miraguaí e Redentora contratatos de vinte horas cada um, ambos que até hoje fazem limites com a terra indígena Guarita e com esta conquista fui alfabetizar os meus parentes na Língua Kaingang, mas percebi que ainda faltava algo para mim, e era sempre criticado por esta colega branca, pois eu não tinha o ensino funadamental e nem o médio. Como a prefeitura tivera me contratado sem uma base legal me impuseram uma condição para manter o meu contrato. Deveria continuar estudando se quisesse permanecer ajudando o meu povo pois tinha somente o curso de Monitor Bilíngüe, então um acordo firmado entre lideranças e prefeituras, fiquei por um periodo de três anos sem estudar, por que na época não tinha Escola de primeiro grau à noite, somente de dia, naquela região. Como trabalhava durante o dia todo não tinha condição de ferquentar as aulas. Tinha uma Escola que funcionava mas era somente na cidade de Miraguaí e como morava distante não tinha como frequentar as aulas, até que no ano de 1993 a comuniade escolar da vila Irapuá juntamente com a comunidade Kaingang reuniram-se e construiram um documento enviando para a 21° delegacia de educação, hoje (21° CRE) Coordenadoria Regional de Educação localizada no município de três Passos RS, reenvidicando a criação do ensino supletivo de primeiro grau na Escola Estadual de 1° Grau Osmar Hermann. No mesmo ano foi homologado a criação desta modalidade, onde me matriculei e comecei a estudar durante a noite, foram mais quatro longos anos de estudos para completar o famoso 1° Grau, assistiamos as aulas na Escola Osmar Hermann e as provas eram realizadas em Três Passos, até que então no final do ano de 1996 consegui completar o 1° Grau. E no ano seguinte em 1997 foi o ano em que não quis mais trabalhar na escola, pois com o certificado de1°grau achava que poderia arranjar outro emprego melhor, engano meu. Só frustrações encontrei. A partir deste ano em 1997, saí da reserva da Guarita para trabalhar fora da aldeia, consegui um trabalho em uma empresa de vigilantes de São Leopoldo, trabalhei nesta empresa por um periodo de dois anos até que esta empresa me mandou embora do emprego no final do ano de 1999. Então resolvi voltar para minha terra que é a Guarita, e justo no ano de 2000 o governo do Estado através da 21° Coordenadoria Regional de Educação, abriu inscrição para professores temporários para as escolas indígenas do Estado do Rio Grande do Sul, então me escrevi. Como já tinha experiência fui o primeiro a ser selecionado e já me chamaram no mês de março de 2000, de volta à mesma escola onde já havia trabalhado, só que de um enfoque diferente, como a Escola Antônio Kasïn Mïg já estava atendendo o ensino fundamental completo, a direção da escola me impôs que então presidisse as aulas de cultura Kaingang para as turmas de 5°, 6°, 7° e 8° série. Trabalhei nesta escola por um periodo de dois anos, até que no ano letivo de 2002 fui transferido de escola para o setor de três soitas município de Tenente Portela, para a Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Mükëj onde trabalhei por um periodo de um ano. E neste periodo já estava cursando o magistério indígena, promovido pela Fundação Nacional do Indio e a Universídade Regional do Noroeste (UNIJUÍ). E no ano de 2003 fui convidado pelo então Antônio dos Santos Liderança responsavel pelo acampamento Agrônomia, mudando-me neste periodo para o municipio de Porto Alegre e fui morar junto aos indígenas deste acampamento. E no periodo de férias voltava à Guarita para estudar no magistério indígena, que acontecia sempre no recesso escolar e em uma ocasião quando estava em sala de aula recebi um telefonema do Sr: Zílio Salvador me informando que houvera recebido do então Prefeito Tarso Genro, o documento da Terra da Lomba do Pinheiro e neste periodo ela foi considerada Espaço de Sustentabilidade Kaingang. A partir desta conquista começa-se então uma série de reenvindicação, atendimento específico em saúde, atendimento de projetos pela FUNAI e educação escolar bilíngüe ao Estado, neste periodo foi então que a secretaria de educação através da (DPA) Divisão de Educação Porto Alegre, abriu inscrição para professor temporário para as escolas indígenas da Grande Porto Alegre. Neste peiriodo já morando na terra nova, que é a Terra indígena Fág Nhin. Com reenvidicação da liderança local que é o Sr: Antônio dos Santos o primeiro cacique aclamado pela população indígena desta terra, com a vontade de que os filhos da comunidade aprendessem a ler e escrever em nossa Língua materna, fiz minha inscrição e no ano seguinte já fui contratado para alfabetizar o meu povo. E outro fato marcante de minha vida foi a conclusão do curso de magistério indígena, que durou 5 anos. Este curso aconteceu de forma que seu curriculo fez a interlocussão voltado para a cultura Kaingang.

A UNIVERSIDADE UM COMPROMISSO
No final do ano de 2005, após ter concluido o curso de magistério indígena o meu primeiro vestibular: prestei no Centro Universitário Metodista do IPA em dezembro de 2005. Aprovado no concurso vestibular para o curso de Pedagogia em licenciatura, matriculando-me então em janeiro de 2006, comecei a cursar a faculdade de pedagogia.
Para fazer o curso de Pedagogia no IPA, eu era obrigado viajar à noite pegando sempre dois ônibus para chegar à Universidade, uma distância de aproximadamente 50 km, que é o percurso de ida e volta entre a aldeia e a faculdade que esta localizada no bairro Rio Branco em Porto Alegre.
Desde o início do curso, fazia de tudo para poder participar do maior número de atividades acadêmicas que tivessem alguma vinculação com o que eu pretendia tornar público, como por exemplo, os dois trabalhos que públiquei como artigos cientificos, cada um com títulos diferentes. Entretanto, o curso que estava fazendo era de licenciatura plena e eu comecei a perceber que o sonho inicial ficava cada vez mais distante, o que ocorreu não pelas dificuldades que sabia que teria de enfrentar para ser um bom pedagogo, mas porque o sentimento de ser professor começou a crescer. Comecei a perceber que, trabalhando como professor, teria oportunidades de contato que a outra profissão não poderia me oferecer. O marco da mudança de pensamento ocorreu em 2008, nesse ano, juntamente com uma colega de turma, Janaína Barbosa da Silva, iniciei uma pesquisa direcionada para Educação de Jovens e Adultos (EJA) a qual tinha como título “Gestão Educacional para EJA” sob a orientação da prof. Ms. Gilda Glauce Martins Alves. Nessa época, a internet foi uma grande aliada para nos auxiliar na investigação sobre o assunto, não tinha-mos computadores em casa, apenas o acesso era feito na Universidade e os computadores conectados à rede na faculdade é que era a salvação para que pudessemos realizar os trabalhos; por isso, toda a orientação era realizada através de encontros. E este trabalho foi muito gratificante pois foi ele que me direcionou e fez com que tivesse o gosto por esta modalidade, hoje com o tema em mente estou preparando uma teoria empirica voltada para a população indígena kaingang.
O objetivo da pesquisa era investigar a existência de uma teoria que suportasse os conflitos dos jovens desta modalidade. Nessa época, esse era um assunto que na área da educação formal poucos alunos pesquisadores trabalhavam; por isso, resolvemos apresentar as nossas conclusões nos nossos TCC e na feira de iniciação científica, do Campus Dona Leonor, tais como: IV e V Salão de Iniciação Científica do Seminário de Iniciação Científica e I Jornada de Pesquisa do Cento Universidade Metodista do IPA. Em todos eles, sempre tivemos uma ótima recepção pelos ouvintes, os quais questionavam se os resultados alcançados por nós eram, efetivamente, implementados, pois, segundo eles, era preciso quebrar paradigmas tanto por parte do professor quanto dos alunos para que qualquer mudança pudesse ser implementada em sala de aula. Procurávamos mostrar que se tratava de um estudo teórico, mas que, mesmo assim, alguns professores da EJA desta escola se sentiam instigados a mudar as suas práticas educacionais depois das reflexões realizadas.

O SENTIMENTO DE SER PROFESSOR
Após a formatura, que ocorreu no final de 2008, eu tinha duas opções: continuar lecionando o idioma kaingang na escola da comunidade ou assumir um cargo público na sercretaria de direitos humanos que tinha na Prefeitura Municipal de Porto Alegre que após colar grau em 23/01/2009 fui convidado para assumir esta cadeira. Optei então pela primeira opção, uma vez que já trabalhava na escola da comuniade como professor bilíngüe. Entretanto, uma vez continuando na escola indígena resolvi participar de encontros de seleção para o curso de PÓS-GRADUAÇÃO em Educação, que é o PROEJA. Através de cota que estava direcionado para indígenas nesta modalidade fui contemplado com a vaga para cursar a pós-graduação.
Lecionar Língua indígena para crianças e pré-adolescentes kaingang na escola da comunidade é uma experiência extremamente significativa. Ao conviver com pessoas simples, na sua maioria todos moradores da aldeia, obtive um aprendizado que não é normalmente passado nos bancos das universidades. Por exemplo, não é ensinado como devemos nos comportar nas situações em que a violência a descriminação afeta e influencia na aprendizagem do aluno, ou que atitudes devemos ter quando um aluno vem para a escola completamente sem saber falar a Língua portuguesa. Exatamente por problemas de linguagem. Nesta ocasião a Secretaria de Educação do Estado oferece vagas específicas para professor indígena Kaingang ou Guarani, entre os quais destaco o curso de “Formação Continuada para Professores Indígenas”. e o curso de “Atualização Pedagógica Específica”. Como deve-se buscar estas especializações? Buscando entender como os povos indígenas procedem o ensinamento cultural numa filosofia oral, e como se dá o ensino e aprendizagem com anciões das aldeias.

A PÓS-GRADUAÇÃO: UMA NOVA FASE
Em janeiro de 2009 iniciei o curso da Especialização do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU) da UFRGS, onde pretendo defender o meu TCC “GUFÄ AG JYKRE TU KYRÜ AG VËNHKAJRÄNRÄN ËG VÏ KI” (Perspectiva da EJA com a Educação Escolar Bilíngüe) para o ensino-aprendizagem através da cultura Kaingang e suas linguagens: modelo conceitual e estudo de caso. Já no mês de julho de 2009 ainda não tenho nenhum(a) orientador(a), aliás pretendo convidar para minha orientação a profa. Dra. Maria Aparecida Bergamschi. E todas as disciplinas estão sendo cursadas na FACED e na Escola Técnica da UFRGS.
A minha pesquisa tera dois enfoques; o primeiro será elaborar um modelo conceitual de um ambiente escolar implementado com a linguagem de aprimoramento para uso na educação escolar bilíngüe; o segundo será estudar as possibilidades do uso desse ambiente no processo de ensino-aprendizagem da Educação Escolar Bilíngüe para a EJA. Com o primeiro objetivo, pretendo desenvolver um modelo conceitual de ambientes de aprendizagem tanto para o ensino-aprendizagem da Educação Cultural Kaingang (em especial, os conteúdos culturais, costumes, tradições e as histórias ancestrais Kaingang) com isso pretende-se desenvolver os aspectos cognitivos (com base nas teorias do construtivismo), bem como implementar o modelo proposto numa perspectiva indígena, sempre fazendo um contraponto com o modelo de educação escolarizada, implantado pelo governo brasileiro.
Este trabalho pretende dar o início de um amplo diálogo sobre temas relacionados à questão da etnia Kaingang, aplicando-se não só para a Educação de Jovens e Adultos mas na totalidade da educação escolar indígena, específica e diferênciada. Pois a introdução de uma educação escolar pensada pelos próprios indígenas, para as escolas das aldeias coloca em evidência a necessidade de que é necessário refletir sobre uma série de questões, que vão desde a preparação dos jovens, dos professores, das lideranças até a compreenção da falta de recursos e discutir, portanto, um tema tão importante que é de quem dará continuidade da nossa etnia. Neste sentido, constitui-se um desafio mais amplo, de buscar os conhecimentos tradicionais indígenas e coloca-los como referências para os futuros protagonista da educação escolar bilíngüe, possibilitando quem sabe, a desmistificação dessa teoria como de ensino-aprendizagem acessecivel para este povo, e passando-a denominar-se de ( ÜN SI AG JYKRE TU KAJRÃN ).
As conclusões da pesquisa e da formulação, vai ser escrita na Língua Kaingang e a apresentação da defesa estarei realizando em Língua Portuguesa. Existe também a necessidade de ampliar e aprofundar os conhecimentos sobre o processo da educação formal e informal na construção da identidade existencial na população indígena, as formas institucionais e, a constituição de finalidades e experiências propiciam padrões de desenvolvimento satisfatórios. Dessa maneira, acredita-se que o Estado, a universidade e outras instâncias da sociedade civil são concedentes de identidade pela constituição de funções, tarefas e representações em torno dos cidadões.
A universidade tem a responsabilidade de promover estudos sobre as questões sociais emergentes, sendo a pesquisa fundamental para desvelar o potencial biopsicossocial das populações indígenas e de dar condição favorável e a inserção desta sociedade nas políticas públicas e sociais, pois desde a chegada de Universídades ou a criação de algumas no país, as tribos indígenas sempre serviram de degraus de acadêmicos, para a conquista de seus status e títulos.

A EDUCAÇÃO ENVOLVENTE E CULTURAL
Sobre a educação e alfabetização. Para mim e para meu povo, ler e escrever é uma técnica, da mesma maneira que alguém pode aprender a dirigir um carro ou a operar uma máquina. Então a gente opera essas coisas, mas nós damos a elas a exata dimensão de que têm. Escrever e ler para mim não é uma virtude maior do que andar, nadar, subir em árvores, correr, caçar, pescar, fazer um artesanato, um arco, uma flecha ou brincar com seu Jamré. Acredito que quando a sociedade indígena elege essas atividades como coisa que têm valor em si mesmo, está excluindo da cidadania milhares de pessoas para as quais a atividade de escrever e ler não têm nada a ver. Como elas não escrevem e não lêem, também nunca serão partes das pessoas que decidem ou que resolvem. E quando aceitei a aprender, a ler e escrever encarei a alfabetização como quem compra um peixe que tem espinha. Tirei as espinhas e escolhi o que eu queria como estou fazendo com os trabalhos na especialização, escolho somente aqueles que acredito ser necessário e realizo. Acho que a maioria das crianças que vão hoje para a escola e que são alfabetizadas é obrigada a engolir o peixe com espinha e tudo. É uma formação que não atende à expectativa delas como seres humanos e que violenta sua memória. Na tradição kaingang, os meninos bebem o conhecimento do seu povo nas práticas de convivência, nos cantos, nas narrativas e até mesmo na confecção do artesanato. Os cantos narram à criação do mundo, sua fundação e seus eventos e narram também às conquistas. Então, a criança está ali crescendo, aprendendo e ouvindo as narrativas. Quando ela cresce um pouquinho mais, quando ela já está aproximadamente com dose ou quinze anos, aí então ela é separada para um processo de formação especial, vai ser orientado, em que os velhos, os caciques, vão iniciar essa criança na tradição cultural. Então, acontecem às cerimônias que compõem essa formação e os vários ritos, que incluem gestos e manifestações externas. Por exemplo, você fura a orelha. Toma banho com remédio. Dependendo de qual metade tribal a que você pertence, Kamë ou kajru você ganha sua pintura corporal, seu paramento, que vai identificar sua metade tribal Rá téj ou Rá ror, seu clã e seu grupo de guerreiros. Esses são os sinais externos da formação. Os sinais internos, os sinais subjetivos, são a essência mesmo daquele coletivo. Então você passa a compartilhar o conhecimento, os compromissos e o sonho do seu povo. As grandes festas se constituem em instantes de renovação permanente do compromisso de andar junto, de celebrar a vida, de conquistarem as suas aventuras. Então a nossa cultura consiste, de maneira resumida, nesses eventos. A formação é isso.
Procurei destacar os elementos que marcaram as quebras de paradigmas, por coerências e incoerências e por meio das relações estabelecidas com o mundo cultural, que possibilitaram a construção da minha vida profissional. Além de considerar este memorial auto-avaliativo eu acredito que ele acaba se tornando um instrumento confessional de meus sonhos.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS
ZAQUEU KEY CLAUDINO
MEMORIAL
PROFESSOR: RAFAEL ARENHALDT
POA – UFRGS
2009/2

Um comentário:

lisiane brufatto disse...

boa tarde,

trabalho em uma escola municipoal de cachoeirinha/rs e gostariamos do contato do sr Zaqueu Key Jópry Claudino. gostariamos de convida-lo a vir em nossa escola. aguardo retorno. lisiane brufatto