Memorial de Elda da Silva Nunes

Memorial Formativo:
Uma história de vida – cinqüenta anos de magistério



Elda da Silva Nunes
Taquari, 25 de junho de 2009.



Sou Elda da Silva Nunes, nascida em 10 de janeiro de 1942, 67 anos bem vividos, casada, mãe de três filhos maravilhosos e professora estadual há 50 anos. Nasci em Taquari (colonização açoriana), interior do Rio G. do Sul. Sou a filha mais velha de uma família de oito irmãos, criada pelos meus pais, mais a avó materna e avô paterno que também moravam conosco devido às circunstâncias.
Tínhamos uma vida muito simples, mas éramos muito felizes. Tive uma infância maravilhosa e livre, com muito contato com a natureza, pois vivíamos no interior. Meus irmãos e eu crescemos muito unidos e, até hoje, somos muito companheiros. Compartilhamos toda a atenção a nossos pais que continuam conosco e demandam certos cuidados devido à idade avançada.
Ingressei na escola com oito anos de idade. A mesma era longe e fazíamos o trajeto a pé, calçando tamanquinhos de madeira. De merenda levava bolinho frito, ovo cozido, beiju, banana ou laranja, pois naquela época, não era servida a merenda escolar.
Dona Núbia, minha primeira professora, era bonita e vestia-se muito bem. Éramos oito alunos e ela nos tratava com muito amor e carinho. Foi ela quem me deu uma nova visão do mundo: o mundo da leitura e da escrita. No terceiro ano, as circunstâncias me levaram a mudar de escola, mas a outra professora também era bonita, acolhedora e delicada. E, foi inspirada na sua postura, que me apaixonei pela profissão. Um dia, em aula, conversando com ela sobre sonhos - num diálogo que ela tão pedagogicamente instigou - disse-lhe que o meu sonho era ser professora, ao que ela respondeu: “continue com teu sonho, mas para que ele se realize, cada vez que vires uma estrela correr no céu faça o teu pedido”.
Como morávamos na zona rural, pois meus pais eram pequenos agricultores e tínhamos uma atafona, onde todos da família trabalhavam, a observação do céu era uma atividade corriqueira. Sempre que eu podia, corria para a rua para observar o céu, que quase sempre estava estrelado e lindo, na expectativa de que uma estrela se movesse para eu fazer o meu pedido. E assim, dentro deste simbolismo, meu sonho foi sendo construído.
Quando tinha dezesseis anos, meus pais resolveram morar perto da sede do município, para que meus irmãos e eu pudéssemos continuar os nossos estudos. A proposta era estudar e não namorar. Entretanto enquanto eu freqüentava o curso de admissão, para ingressar no curso de formação de professores – Curso Normal Regional, conheci meu marido e não contei a ninguém sobre o namoro. Mas um certo dia, meu pai me viu namorando e ao chegar em casa ele sentenciou: “ou estuda ou casa”. Optei por casar. E, assim em 02.05.1959 nos casamos.
Eu era jovem, com pouca experiência de vida e, além de tudo, com uma restrita formação educacional – havia cursado somente até o 5º ano. Sendo assim, tentei algumas atividades para adquirir uma independência econômica, tais como: lavar roupas e costurar para fora, utilizando uma pequena máquina manual. Habilidade esta adquirida na infância, quando ajudava minha mãe na confecção do vestuário familiar. Mas isso não me satisfazia. Eu queria realizar o meu grande sonho: lecionar.
Três meses depois, fiquei sabendo que, no município, havia vagas para professoras. Estavam contratando até quem tinha só o quinto ano (que era o meu caso). Pedi ajuda ao meu pai e fomos falar com o prefeito, atrás de meu primeiro emprego. Ele me encaminhou para a pessoa encarregada, dona Maria, que, para minha agradável surpresa, já conhecia o meu pai, pois quando lecionava na zona rural, muitas vezes viajou na carreta de bois que ele conduzia enquanto era empregado de um armazém, fazendo transporte de mercadorias da zona rural para a cidade e vice-versa. Ela conversou pouco e levou-me para uma sala para fazer uma entrevista, que encarei morrendo de medo, mas dizendo para mim mesma: “este emprego é a realização do meu sonho”. Fiz a entrevista e ela só me disse para voltar no outro dia, o que aumentou a ansiedade.
No dia seguinte cheguei lá e estava contratada para substituir uma professora em Licença Gestante no período de 12.08 a 31.12.1959. Foi uma alegria muito grande que senti, junto com o medo e a insegurança - característica desta etapa da vida e de uma situação completamente nova para mim. A professora titular foi ótima, ela ainda ficou uns dias comigo e me orientou, emprestou-me seus diários e livros. Era uma turma de segunda série de uma escola estadual - Grupo Escolar Antônio Leite Costa, onde a diretora e a supervisora também me acolheram de forma muito calorosa, elas revisavam semanalmente o meu diário de classe e orientavam o meu trabalho. Os alunos eram bons e não havia problemas de disciplina
Quase no final do ano fui avisada que no ano seguinte haveria a realização de concurso e, assim, em março de 1960 fiz o concurso e fui bem classificada, pois fiquei em segundo lugar entre quarenta e nove candidatas. Porém, em 25.03.1960 nasceu meu primeiro filho, um lindo menino. E assim minha posse foi protelada - assumi minha sonhada profissão 18.05.1960, como professora nomeada.
Como demorei a assumir, as vagas mais próximas já haviam sido preenchidas, porém, como tinha sido bem classificada fui atrás do meu direito e reclamei, então resolveram o problema, colocando-me em uma escola mantida pela Igreja, situada no centro da cidade. Foi nesta escola que tive minha primeira experiência com a alfabetização. Novamente o medo e a insegurança me tomavam, pois eu sentia que me faltava bagagem cultural devido a minha formação incompleta. Entretanto tinha muita vontade de vencer e os desafios novamente estavam me impulsionando.
A turma era composta por poucos alunos e um deles gostava de bagunçar, mas com o apoio e a orientação da diretora consegui realizar um bom trabalho e criar um vínculo de amizade com todos eles que até hoje perdura. As senhoras colaboradoras da Igreja ministravam aulas de Ensino Religioso e hora de lazer. Eram nestes horários que nos reuníamos com a diretora para fazer o diário e assim fui me apropriando de conhecimentos didáticopedagógicos e construindo a minha “bagagem pedagógica” que eu sentia que me faltava.
Em 1961 tive que assumir como substituta no município com a proposta de que quando não houvesse substituição trabalharia na inspetoria (assim era chamada a Secretaria de Educação). Era um sufoco, porque sempre tinha alguém para substituir. Quando era perto da sede do município ia a cavalo, mas quando era longe, tinha que passar a semana na localidade e ainda levar meu filho junto comigo. Mais um desafio!
Um dia a Coordenadora nos informou que na localidade onde não houvesse escola, haveria a possibilidade de se criar uma. Era só conseguir um abaixoassinado de pais de quinze crianças em idade escolar que estivessem fora da escola. Onde eu morava não havia escola perto e, assim, para ser rápida, montei em meu cavalo e logo estava com as assinaturas necessárias. Ao levarpara o prefeito ele disse :” que ótimo, temos a clientela, as escolas já estão autorizadas, o dinheiro à disposição, mas ninguém quer doar o terreno com a metragem exigida pela lei”. Assim, voltei para casa triste e frustrada, mas ao contar ao meu marido, ele lembrou de um senhor que era proprietário de terras ali e foi falar-lhe da nossa intenção. Prontamente o senhor doou o terreno com um tamanho além do exigido e muito bem localizado. A sua única exigência foi que a escola deveria ter o nome do avô de sua esposa, Emílio Schenk, pioneiro na criação de abelhas em nosso município. E assim aconteceu. Rapidamente construíram a escola. Um prédio de madeira com duas amplas salas de aula, uma cozinha e mais uma secretaria a qual transformamos em biblioteca, pois no momento era mais necessária, haja vista que a diretora quase não ocupava a sala, pois além de diretora ela era professora, merendeira, conselheira e faxineira.
Para mim foi um orgulho, com apenas vinte anos de idade ser professora e fundadora de uma escola que, além da importância para as famílias da comunidade escolar, se fazia inclusiva antes mesmo das idéias de inclusão estarem no texto da lei.
Acolhemos uma aluna que tinha sérios problemas de coração e não podia se deslocar muito longe. Ela era minha vizinha e a conhecia muito bem, então os pais solicitaram que eu fosse a professora dela. Coloquei a intenção para minha colega e para os alunos e todos a acolheram muito bem. Ela era amiga, muito inteligente e sempre colaborava com os colegas. Também acolhemos um aluno com deficiência mental, cujos pais também nos procuraram com o desejo que seu filho fosse para a escola. O menino foi aceito como ouvinte, pois achávamos que ele não conseguiria acompanhar devido às crises. Mas, para minha surpresa, foi um aluno sempre assíduo, nunca apresentou nenhuma crise na escola e conseguiu , com muita dificuldade, se alfabetizar. Em todo o seu tempo na escola ele foi sempre aluno na minha turma, pois não aceitava outra professora. Quando adulto teve uma piora no seu estado e vivia pela cidade, sempre muito amigo de todos, com seu carrinho de mão a recolher jornal e ler textos para os amigos mostrando-lhes suas habilidades de leitura e que tinha aprendido com a professora Elda.
Nossa escola “Emílio Schenk” começou a funcionar em 1962 com poucos alunos e somente duas professoras. Hoje ela é a maior escola municipal da cidade, com
662 alunos distribuídos entre a Educação Infantil, Ensino Fundamental e EJA- Ensino Fundamental. E, para minha satisfação, soube que este ano foi escolhida para receber a biblioteca comunitária do Projeto Ler é Preciso do Instituto Eco do futuro, que será inaugurada em setembro.
À época da criação da escola eu não tinha formação pedagógica e minha colega estava cursando o Magistério, portanto coube a ela a direção da escola. Então, sentindo as dificuldades e as limitações que a falta de formação me impunha, em 1964 voltei a estudar. A esta altura já estava com dois filhos, mas encarei mais este desafio. Era preciso!
Trabalhava pela manhã, e estudava à tarde e, à noite, após todos os afazeres domésticos e, colocar os filhos na cama, ia preparar o meu diário de classe sob a luz de um lampião de querosene. A escola onde eu estudava era longe da minha residência e isso era um fator de estresse físico muito grande, então, em 1965 participei do concurso para auxiliar de disciplina, sendo bem classificada. Em janeiro de 1967 assumi a função de auxiliar de disciplina na Escola Estadual de Ensino Médio Pereira Coruja, onde estudava. Foi uma decisão difícil deixar a escola a qual eu havia ajudado a fundar, pois no momento era a diretora e tinha um bom relacionamento com toda a comunidade. Foi com tristeza que deixei de ser professora para ser funcionária pública, mas preocupada em buscar respostas aos desafios, era importante dar mais atenção a minha formação.
Na escola onde era auxiliar de disciplina, fiz o Normal Regional e Magistério, cursos que foram a base para minha formação pedagógica e me auxiliaram a resolver muitos anseios e conflitos que eu tinha por não ter a formação adequada para atuar em uma sala de aula. Mas, por estar atuando como auxiliar de disciplina e não como professora, meu sonho estava sendo protelado mais uma vez. Até que no ano de 1972, ao realizar o estágio do curso do Magistério, uma professora notou minha habilidade e aconselhou-me a fazer um curso oferecido pela Universidade de Passo Fundo que iria acontecer na região, que preparava para as disciplinas de Técnicas, obrigatórias pela Lei 5692/71. E assim foi. Em dezembro do mesmo ano ingressei no meu Curso Superior de Artes Práticas com Especialização em Educação para o Lar. Em junho de 1973, devido à implantação das técnicas no sistema de ensino, consegui um contrato para trabalhar como professora de Técnicas Domésticas nas séries finais do Ensino Fundamental. Tive de me exonerar do cargo de auxiliar de disciplina, mas o fiz com muito gosto, pois era a oportunidade de retomar o meu sonho. Nesta época já tinha três lindos filhos,
conseqüentemente aumentavam as responsabilidades. Para fazer frente às exigências que se impunham em termos de cuidados e educação para os filhos, me inscrevi para um contrato a fim de atuar num curso de Suplência de Primeiro Grau, que viria a ser instalado à noite em minha cidade. Neste trabalhei com um contrato fechado em duas escolas, de maio de 1974 a janeiro de 1975.
No ano seguinte me inscrevi para trabalhar com séries iniciais, acabei trabalhando com as Técnicas (domésticas e industriais) e Educação Artística e Orientação Educacional. Dessa forma, de 1973 a 1976 trabalhei na E. E. Luiz Barreto, no município de Triunfo. Mas meu sonho era voltar a lecionar na escola onde havia me formado, pois minha casa ficava bem próxima e não precisaria de transporte para me deslocar para o trabalho. Assim, pedi minha transferência e no ano de 1976 retornei à Escola Estadual de Ensino Médio Pereira Coruja, já formada em Artes Práticas, curso que me possibilitou a apropriação de conhecimentos que favoreceram minha atuação educativa na escola, assim como um maior entendimento do sistema educacional. Sentia que tinha um maior discernimento, estava mais aberta ao diálogo e à reflexão sobre a minha prática. Realizava cursos, sempre que possível na minha área de atuação, e no ano de 1976, assumi a coordenação das Técnicas na escola. Nesta função coordenei muitos projetos e buscamos muitos recursos como espaço físico, equipamento para aulas de culinária, estética, costura, artesanato, cerâmica bem como todo o equipamento para Técnicas Comerciais e Agrícolas. Fazia-se um trabalho maravilhoso nesta área, os alunos voltavam no turno inverso para as aulas das técnicas. Grandes profissionais de estética, indústria moveleira e jornalismo que temos hoje no município, despertaram seu interesse a partir das aulas de técnicas.
Este foi o caminho que escolhi em minha trajetória profissional, às vezes errando, mas sempre na intenção de acertar, ciente que para ensinar é preciso pesquisa e para pesquisar é preciso bases sólidas. Nesta angústia de poder dialogar e incentivar meus alunos busquei um novo curso: o curso de Pedagogia, que cursei nas Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, UNISC, o qual conclui em 1985. Neste curso pude conhecer melhor a Pedagogia de Paulo Freire, e senti uma grande identificação com sua proposta, quando ele diz que “o ser humano se educa a partir de si mesmo” que “a educação implica em reeducação” que “ensinar exige pesquisa” (Freire, 2002, que “aprender é mudança cultural” p. 32) bem como as questões de inclusão, vejo aí a minha prática fundamentada. São verdades que eu praticava na inquietude de aprender, buscando novas aprendizagens para minha segurança, para superar meus medos, enfim, para melhorar a minha prática, pois segundo Freire,

"não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um num corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que não conheço e comunicar ou anunciar a novidade." ( Freire,1996, p.32)

Da mesma forma sempre que surgia uma oportunidade de realização de concurso eu me inscrevia e assim em 1977 fui nomeada pelo primeiro concurso que prestei para o Magistério público estadual e em 1984 passei para 40 horas semanais. Em 1986 e 1987 fiz um curso de Pós-Graduação em Folclore de Palestrina, o qual me deu uma grande visão sócio-cultural e criativa de mundo. Em 1988 e 1989 fiz concurso específico para Técnicas Domésticas e Psicologia da Educação. No ano de 1990 fui convidada para trabalhar na E. E. Barão de Ibicuí, convite este que aceitei, pois era para trabalhar com as técnicas e assim assumi um novo contrato em 02/04/1990. Nesta escola foi, e continua sendo muito bom trabalhar. Planejamos o trabalho juntamente com a direção, alunos e pais. Pela manhã os alunos tinham aulas de conteúdo formal e a tarde voltavam para as oficinas de culinária, horta escolar, artesanato, coleta e seleção do lixo na escola, sendo que todos eles passavam por todas as oficinas durante o ano letivo. Que trabalho gratificante! No ano seguinte
trabalhei além das Técnicas Domésticas as Técnicas Industriais nos mesmos moldes, com oficina de produtos de higiene pessoal, higiene da casa, indústria alimentícia e artesanato. Foram seis anos, a cada ano inovando conforme os interesses dos alunos.
No ano de 1991 aposentei-me da primeira matrícula na E. E. E. M. Pereira Coruja, porém, por estar concursada em Psicologia da Educação fui convidada a retornar. Passei a trabalhar no Curso Magistério, com as disciplinas de Psicologia da Educação, Sociologia e Didática e, no Ensino Médio Filosofia e Ensino Religioso. Era difícil dar conta de tantas tarefas, mas a esta altura meu marido e eu já estávamos sós, pois os filhos já haviam saído de casa, os mais velhos já estavam casados e a mais nova já era formada em medicina. Então eu podia me dedicar exclusivamente às tarefas escolares.
Porém na administração pública do Governador Antônio Brito, fui obrigada a exonerar-me de uma das matrículas; optei, então pela referente à Psicologia da Educação, encerrando assim minhas atividades na E. E. E. M. Pereira Coruja. Na escola Barão de Ibicuí os alunos trabalhavam com muita alegria e se mostravam interessados em levar além da escola, a coleta de lixo, para suas casas, para o bairro e para toda a cidade. E, como tinha uma colega em outra escola que fazia o mesmo trabalho, nos unimos e fomos atrás de parceria com a prefeitura. Montamos o projeto de coleta seletiva de lixo na cidade e foi aceito pela administração municipal que achou interessante para esclarecimento da população. Organizamos panfletos e cartazes com os alunos das 7ª séries do Ensino fundamental, que, com o consentimento dos pais, no turno inverso faziam a panfletagem e conscientização nas casas, acompanhados por um adulto. Organizamos palestras com funcionários do DMLU[1] de Porto Alegre para esclarecimento da população e reforço ao trabalho dos alunos. Assim lançamos o projeto no dia 25/11/93, para nossa frustração, só não obteve total resultado porque a administração não assumiu a sua parte na coleta seletiva. Houve, então uma cobrança por parte da comunidade e procuramos o prefeito da época para esclarecimentos. Sua justificativa foi que nosso projeto teve êxito por ter motivado a população a selecionar adequadamente o lixo, facilitando assim o trabalho dos catadores. Em 1997 com a vigência da Lei de Gestão democrática houve a possibilidade de a comunidade escolher os diretores das escolas públicas. Na ocasião integrei uma chapa como vice-diretora, com a proposta de buscar ampliação para o espaço físico da escola, implantação do Ensino Médio e uma maior interação entre direção e comunidade. Ganhamos a eleição. Se a escola é o mundo das mudanças, para que elas aconteçam é preciso criar um ambiente democrático, participativo, dialógico, de integração, onde a direção saiba ouvir e atender os anseios de sua comunidade escolar. E assim montamos o Plano Político Pedagógico da escola com muitas atividades diferenciadas. Um calendário atendendo os interesses da comunidade, porém com muita participação dos alunos, pois eles tinham ajudado na construção e se sentiam integrados. Tivemos uma gestão muito gratificante! Eu atuava como vice-diretora pela manhã, como professora de Educação Artística e Ensino Religioso no Ensino Fundamental vespertino e no Supletivo de Ensino Médio. Enquanto estudávamos os mosaicos portugueses e algumas tradições religiosas de nossa cidade que teve sua origem na colonização açoriana, os alunos tiveram interesse em confeccionar o tapete de mosaicos para celebrar o dia de Corpus Christi.
Assim aconteceu na quadra em frente à escola. Todas as turmas participaram, cada uma delas confeccionando o seu quadro, utilizando serragem tingida na escola e palha de arroz. No final da tarde houve um culto ecumênico com a participação de toda a comunidade escolar. Foi em 1988 a primeira vez que confeccionamos o tapete de Corpus Christi em nosso município.
Passado alguns anos, a administração do município m ostrou interesse em realizá-lo em frente à Igreja Matriz, com o auxílio da Secretaria Municipal de Educação que passou a coordenar a confecção do mesmo. Como todas as escolas tinham que dar sua contribuição,deixamos de confeccioná-lo em frente à escola, para não tirar a atenção do evento em frente à Igreja onde passamos a colaborar elaborando apenas um quadro, mas os alunos questionaram tal decisão. Voltamos a realizá-lo em nossa escola. É um trabalho interdisciplinar, que culmina com um belo momento de integração. Como equipe, conseguimos realizar grandes sonhos na escola, um trabalho pedagógico satisfatório, sempre em busca de mudanças e melhorias. Foram seis anos na vice-direção. Nos primeiros quatro anos conseguimos o aumento do espaço físico, com a conquista de um terreno baldio ao lado da escola.
Construímos o laboratório de Química, de Biologia, aumentamos a Biblioteca, montamos o refeitório e, através da grande mobilização da comunidade,conquistamos, no Orçamento Participativo, um prédio de alvenaria de dois pavimentos com seis salas amplas, banheiros, e uma quadra coberta poliesportiva. Além de todas estas conquistas conseguimos também ampliar o atendimento a nossa clientela com a implantação do Ensino Médio regular e EJA- Ensino Médio, completando assim a oferta de educação básica à nossa comunidade escolar.
Hoje a escola conta com 1026 alunos nos cursos de Educação Infantil, Ensino Fundamental Completo, Ensino Médio e EJA- Ensino Médio. Nossa EJA é a única do município na modalidade Ensino Médio e é para nossa escola que afluem todos os adultos que precisam terminar a educação básica.
Em 2008 ficamos sabendo do PROEJA[2] e nos inscrevemos para trazer para à nossa comunidade mais uma oportunidade de qualificação. Sinto que intuitivamente já fazia investidas para a área profissionalizante, pois nas minhas aulas de Sociologia com alunos da EJA e 3° ano do Ensino Médio, enquanto estudávamos as vocações e aptidões profissionais, conforme interesse mostrado pelos alunos, criamos a Feira das Profissões que vem acontecendo desde 2006. Este é um momento em que a escola oportuniza,aos alunos, encontros para diálogo com vários profissionais da área técnica que se dispõem a orientar os alunos sobre seus cursos de formação e atividades. Dentro deste contexto, o PROEJA se coloca como mais um desafio na minha trajetória profissional, vindo a somar-se a minha inquietude pedagógica. Freire (1996, p.77) diz que “só ensina quem aprende” e dentro deste pensamento me vejo como uma professora que procurou estar sempre atualizada, incentivando meus alunos, filhos e netos a lerem muito, viajarem, participarem em todas as atividades na escola, na família, na comunidade, nas atividades da sua igreja. Pois tudo isso é aprendizagem, é cultura. Não podemos ser indivíduos isolados, acomodados, precisamos saber ouvir, questionar, participar e buscar as mudanças para um mundo melhor. Ensinar é uma obra de amor e quando se trabalha com carinho e amor se garante uma
verdadeira aprendizagem.
Na minha caminhada procurei colaborar nas atividades comunitárias em geral, pois como adultos na condução da educação das gerações mais novas somos os modelos em quem elas vão se apoiar e espelhar. Dessa forma sempre estive envolvida com atividades extramuros da escola, como a coleta seletiva do lixo no município, palestras nos cursos de noivos na Igreja, Cenáculo de Maria, palestras na LBA[3] para as mães sobre amamentação e Alimentação equilibrada, artesanato no Lar São José, lar de passagem e no Grupo de Idosos “Amor e Integração”.
Não podia deixar de falar de minha família, construída ao longo de cinqüenta anos de matrimônio completados este ano. Sou mãe de três filhos maravilhosos, sadios e inteligentes, trabalhadores e responsáveis. Já tenho seis netos que nos dão muitas alegrias. A Neta mais velha, Júlia, formou-se em medicina aos 23 anos de idade, depois vem a Natália que já é Técnica Agrícola, a Camila que optou por ser Técnica em Meio Ambiente. Todas elas são jovens alegres e trabalhadoras responsáveis. O neto Cândido se forma este ano no curso Técnico em Agropecuária, e fará o vestibular junto com as duas irmãs no meio do ano. Confio que alcançarão seus sonhos. Também o neto Júnior estará se formando no ensino Médio no final do ano e é o nosso músico profissional, baterista desde os doze anos de idade. Na ala mais jovem, temos o nosso Otávio, que é uma graça, com apenas seis meses já conhece a todos nós. E para completar nossa felicidade está a caminho nosso sétimo neto, pois a nossa filha caçula, a Drª Josiane, ganhará seu primeiro filho. Estamos todos muito felizes!

Referências Bibliográficas:



FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
DOLL, Johannes. ROSA, Russel T. Dutra da (Organizadores). Metodologia de
Ensino em Foco – Práticas e reflexões. Porto Alegre: Editora da URGS, 2004.



[1] Departamento Municipal de Limpeza Urbana

[2] Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de
Educação de Jovens e Adultos

[3] Liga Brasileira de Assistência

4 comentários:

Josiane disse...

Sao de pessoas com esta força e garra que precisamos neste mundo.
Tenho um orgulho enorme de ser a sua filha mais nova, tudo que faço em minha vida, todo o meu sucesso vem da base que tive na nossa familia. Voce é um exemplo para todos nos, maezinha querida.Parabéns de coraçao. Josiane

JOSIANE disse...

Faltou somente dizer uma coisa: TE AMO MUITO!!!!!!!!!!!!!!!!!

Unknown disse...

Minha irmã me sinto muito honrada por você ser essa pessoa que você o é, parabens.
Parabens pelos filhos e netos que são lindos.
Sei que na vida não são somente rosas sem espinhos mas você tem levado sua vida e de todos da família com muito amor e dignidade, mais uma vez parabens.
Te amamos muito
Vera, Daniel Rafael e Raquel
Brasília 31 de Março de 2010.

Lisete Pôrto Rodrigues disse...

Querida Elda!
Parabéns pela tua trajetória e pela tua garra. É uma honra e um prazer poder compartilhar contigo um pedacinho desta caminhada. Desejo que continues logrando de muito sucesso em todas as tuas investidas, sejam elas pessoais ou profissionais.
Como a Josi já referiu: és um exemplo para todos nós!
SUCESSO!!! E traga o PROEJA para o Barão de Ibicui!!!