Memorial de Paula Barragana Alves


Aos meus familiares

No final do ano de 2008, eu recebi um convite muito especial, a escola em que trabalho me convidou para fazer um curso de especialização na área da educação, Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para mim, uma oportunidade única, pelo motivo que como trabalho na área técnica e convivo com vários alunos provenientes das modalidades de educação como o EJA, supletivo e ha casos de alunos que estão vários anos sem estudar.
Este curso ira me ajudar a lidar melhor com estes tipos de alunos, na forma de compreender melhor as suas dificuldades e necessidades no aprendizado.
O curso começou na primeira semana de janeiro de 2009, e no dia 19 de janeiro, tivemos a primeira aula com o Professor Rafael Arenhaldt, ele nos informou que para o enceramento do primeiro módulo do curso, dever-mos-ia escrever um memorial formativo, que nos fizesse lembrar em quais foram os motivos que nos levaram a ser professor.
Para mim foi uma experiência muito estranha pelo motivo, O QUE EU VOU ESCREVER, por que eu me considero um MUTANTE, pelo motivo de ser formada em Eletrotécnica, acabar cursando e me formando em Administração em Comércio Exterior e agora estou cursando um pós na área da educação!
Com este memorial, vou tentar narrar a minha vida e com isto tentar me descobrir o porquê decidi ser professora.

Da Persistência a Teimosia a Realização de um Sonho

Descobri como é bom chegar
Quando se tem paciência.
E para se chegar,
Onde quer que seja,
Aprendi que não é
Preciso dominar a força,
Mas a razão.
É preciso,
Antes de mais nada,
Querer.
(Klink, 2007)

Só Relembrando

Nasci em 07 de setembro de 1984, na Santa Casa de Misericórdia na cidade de São Lourenço do Sul, no dia mais frio do mês de setembro, sou filha de Paulo Fernando Alves, industriário e Flora Maria Barragana Alves, dona de casa, tenho dois irmãos Rafael Barragana Alves e Paloma Barragana Alves que até hoje me consideram o bebê da casa. No amo em que nasci, o nosso País passava por um momento muito importante, o Movimento das Diretas Já, o Brasil não elegia diretamente um Presidente desde a década de 60.
As eleições diretas haviam sido suspensas com o Golpe Militar de 1964. Mas, vinte anos depois, os brasileiros queriam escolher o seu governante e se engajaram no movimento social pelas Diretas Já. Comícios gigantes aconteceram nas principais cidades do País e reuniram milhões de pessoas. No entanto, a emenda constitucional do deputado Dante de Oliveira, do PMDB do Mato Grosso, que permitiria a realização das eleições foi rejeitada pelo Congresso e o sonho das Diretas foi frustrado. No mesmo ano aconteceram as eleições indiretas pelo Colégio Eleitoral vencida por Tancredo Neves do PMDB que derrotou Paulo Maluf do PDS.
No ano de 1989, tomei uma decisão que todos se surpreenderam, via todo dia o meu pai ir estudar pela manhã e a tarde ia para o trabalho, a tarde eu e a mãe levava o Rafa e a Pa na escola, e eu ficava sozinha em casa com minha mãe a tarde toda sem fazer nada, e por este motivo, eu tomei a decisão de me escrever na pré escola Dr. Urbano Garcia.
Em uma tarde qualquer em quanto a minha mãe conversava com a professora dos meus irmãos eu fui conversar com a professora da pré - escola. Fiz uma pergunta bem direta a minha futura professora: SE EU PODERIA CURSAR A PRÉ - ESCOLA? "Para uma criança de cinco anos eu já era bem decidida com relação aos meus estudos."
A professora me aceitou na turma sem problema, o maior problema foi contar para os meus familiares, lembro que no momento em que contei os meus pais ficaram surpresos, eles perguntaram se era o que eu queria, quando eu disse que sim eles me apoiaram.

Escola Municipal de 1 grau Dr. Urbano Garcia Pré 1990

Meu primeiro dia na pré - escola, que felicidade e ansiedade, nunca vou esquecer, a minha primeira aula começava às 13h, naquele dia, o meu irmão e irmã, me levaram para a escola, o mano ficou responsável pela a entrega da minha documentação na secretaria da escola e a mana ficou responsável por me levar para a sala de aula, como o mano estava responsável pela minha documentação, na ida para a escola ele começou a ler a minha certidão de nascimento, mas só que a mãe acabou se enganando, com a certidão, ela acabou entregando a sua certidão de casamento no lugar da minha certidão.
Que angústia, meu irmão falou para eu não me estressar com a troca da certidão, que ele trazia outro dia, mas como eu sou uma pessoa muito ansiosa e teimosa, eu comecei a chorar e pedir que ele trocasse as certidões, como eu não parava de chorar e incomodar, ele mandou a minha irmã ir para casa para trocar as mesmas. Após a troca, me tornei outra pessoa, parei de incomodar, e foi como se não estivesse acontecido nada.

Escola Nossa Senhora Estrela do Mar

No ano de 1991, a minha família voltou para São Lourenço do Sul, o motivo foi porque neste ano ocorreu uma crise na economia mundial, a empresa em que meu pai trabalhava, acabou fechando e com isto voltamos para a cidade em que nasci. Neste ano, fiz a minha 1° série na Escola Nossa Senhora Estrela do Mar.
Tenho poucas lembranças desta época, uma das lembranças que eu tenho mais forte é de um dia fazer uma prova de matemática e fazer as continhas de somar e diminuir, nos dedinhos lembro que eu sentava na frente da professora e eu fazia as continhas nos dedinhos, a professora achou que eu estava colando, e ela levantou e veio verificar a minha classe e não encontrou nada.
Ao fazer este memorial, eu comecei a lembrar de alguns casos, que me fizeram ir pelo caminho que menos esperava o de ser professora.

Escola Engenheiro Parobé

Entre os anos de 1992 a 1999, estudei na Escola Estadual de 1° e 2° Grau Engenheiro Parobé, a onde fiz vários amigos e aonde nos anos de 1998 na oitava série, comecei a pensar mais claramente o que eu queria fazer para o resto de minha vida.
Sempre fui muito indecisa, e estava em dúvida em qual curso iria cursar após terminar o 2° grau. A indecisão me rondava, estava indecisa em três cursos de graduação, física, mas gostaria de me especializar na área de física nu clear, direito ou administração.
No ano de 1999, ao ver que faltava dois anos para prestar vestibular, eu percebi que os meus pais não tinham condições de pagar uma faculdade para mim, porque como eu tinha dois irmãos os meus pais não tinham condições de financeiras de pagar faculdade para nós três, por este motivo, percebi que deveria escolher algum curso de especialização profissional que me ajudasse a pagar a minha faculdade.
Neste mesmo ano, conversando com alguns conhecidos, acabei conhecendo a Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato escola mais conhecida como o CIMOL. Lembro que as pessoas que estudavam no CIMOL começaram a me explicara sobre os cursos que a escola fornecia que eram de eletrotécnica, eletrônica e mecânica, a cada história que me contavam criava mais expectativas para conhecer esta escola tão diferente.

Minha entrada no CIMOL

Comentei com os meus pais que gostaria de fazer o curso técnico de eletrônica para poder pagar a minha faculdade e assim conseguir uma qualificação, eles me apoiaram, e no mês de novembro o meu pai foi me matricular, só que ele acabou se confundido no ato da matricula e me matriculou no curso de eletrotécnica, nunca vou me esquecer, como fiquei magoada com ele por ter me matriculado no curso errado, mas, por incrível que pareça, hoje agradeço muito ao meu pai, por ter feito esta confusão. Porque graças a essa troca pude descobrir de como eu gosto do curso de eletrotécnica, e como eu me apaixonei e me tornei uma pessoa realizada pelo fato de ser professora do curso de eletrotécnica.

Escola Técnica Estadual Monteiro Lobato


Entrei no ano de 2000 no CIMOL para cursar o ensino médio e o curso técnico em eletrotécnica, nunca vou me esquecer como eu estava espantada, pelo motivo que 70% dos alunos eram do sexo masculino e os 30% eram do sexo feminino, e ainda para ajudar, a minha sensação de espanto aumentou, naquele ano as escolas estaduais decidiram fazer 15 dias de greve.
Após o termino da greve, voltamos a aulas, lembro que entrei na aula errada, eu estava matriculada na disciplina de eletricidade II (Práticas elétricas) e acabei indo assistir a aula de eletricidade I (Fundamentos de corrente contínua).
A minha turma do curso de eletro era muito unida, como eu era a única menina da sala, nos estávamos sempre nos ajudando com relação a trabalhos, realizar manutenção e montagem de máquinas.
Como eu era a única de "menina" da sala, os professores pediam para eu ficar como monitora. Posso dizer que aí comecei a ter uma pequena experiência de como é ser professora.
Formei-me no ensino médio no ano de 2001 no CIMOL, e foi prestar vestibular para administração nas Faculdades de Taquara FACCAT.

Faculdades Integradas de Taquara - FACCAT
Dos cursos que tinha decidido e sonhado fui obrigada a desistir dos cursos de física e direito pelo motivo que as únicas faculdades que forneciam estes cursos se localizavam nas cidades de São Leopoldo ou Gravataí, das minhas escolhas acabou sobrando o curso de Administração, este curso era disponibilizado pela FACCAT, na cidade de Taquara, como a faculdade ficava na mesma cidade em que estava cursando o curso técnico de eletrotécnica, pude cursar sem problema os dois cursos.
No ano de 2008 realizei um dos meus maiores sonho, o de me formar e me tornar Bacharel em Administração Habilitação em Comércio Exterior. Ao me formar em Administração, veio uma grande dúvida o que eu vou fazer da minha vida, continuo sendo professora ou me torno administradora, por incrível que parece gostaria de trabalhar nas duas áreas, mas só que a minha profissão como professora acabou falando mais alto e optei por continuar sendo professora do curso de eletrotécnica.

Um Passo Para Me Tornar Professora

No ano de 2003 entrei em estágio, para mim a entrada em estágio foi a pior experiência possível, pelo fato que o curso de eletrotécnica é direcionado para o público masculino e por este motivo acabei perdendo quatro estagio pelo fato de ser mulher, a resposta das empresas eram sempre '' NÃO SABEMOS COMO VOCÊ IRA SE PORTAR, NA ÁREA DE TRABALHO ONDE OS COLABORADORES SÃO DO SEXO MASCULINO''.
Após tantos NÃO, retornei à escola para falar com o professor Sergio que cuidava da parte de estágio e ele me perguntou se eu gostaria de fazer o estágio como monitor dos professores e no fornecimento de matérias para os alunos, eu acabei aceitando na hora, porque vi uma grande oportunidade.
No meu estágio como monitora aconteceu algumas cenas cômicas como:
A primeira vez que fui substituir um professor, era uma turma de eletricidade II (Práticas elétricas), estava um pouco nervosa por ser professora substituta, como a disciplina é prática orientei os alunos no que eles tinham o que fazer e deixei-os montado, até que na metade da noite, o pavor aumentou isto ocorreu pelo fato de que os alunos começaram a perguntar de mais e eu não conseguia auxiliar 20 alunos em uma sala de aula, eu acabei saindo correndo e chorando, eu chorava tanto que parecia que eu tinha me machucado com alguma coisa, que vergonha.
Após este fato ter acontecido, os meus professores decidiram que para eu perder o medo eu deveria ficar em sala de aula auxiliando um professor.
Fui auxiliar em duas disciplinas, a primeira era de eletricidade VI (Comando Elétricos Avançados) e a segunda disciplina era de automação industrial II (Controlador Lógico Programável), ao auxiliar em sala de aula, aonde eu comecei ter mais confiança, segurança e domínio da turma.
Em agosto de 2003, realizei um sonho o de me formar em eletrotécnica, após uma semana da formatura, o professor e coordenador do curso de eletro me "forçou" a pegar a uma turma e por consideração me deu a pior turma da escola, ele chegou para mim e disse: PAULA ESTAMOS COM FALTA DE PROFESSORES E PRESISAVOS QUE VOCE ASSUMA A DISCIPLINA DE ELETRICIDADE IV (MEDIDAS ELETRICA), como não tive escolha assumi, não sei, mas foi uma das piores coisas que fiz na minha vida, até aquele exato momento.
Esta turma acabou me aprontando algumas peripécias como:
- me desafiar e duvidar quando eu explicava a matéria;
- plagiar trabalho da internet, tirar Xerox do trabalho, distribuir o mesmo para os colegas;
- quando eu saia para pegar material, eles só faltavam quebrar a sala de aula.
E após tudo isso eles conseguiram fazer com que eu saísse correndo e me esconde dentro da escola para poder pensar em algo que eu pudesse fazer para controlá-los.
Como sou muito teimosa acabei voltando para a sala e aos poucos fui conseguindo controlar a turma e com isto acabei gostando deles.
Esta turma fez com que eu me superasse e me mostrou como sou capaz de conseguir contornar um desafio.
Entra ano e sai ano e passa por mim vários alunos que cada dia me marcam com algumas atitudes e dizeres, mas o melhor momento e vê-los na formatura, poder os ver alcançando seus sonhos é relembrar que esse sonho eu já realizei, até hoje cada aluno que passa por mim continua me emocionado muito.
Isto faz com que eu me sinta muito realizada em ser professora.

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

No final do ano de 2008, eu recebi um convite muito especial, a escola em que trabalho me convidou para fazer um curso de especialização na área da educação, Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrado a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para mim, este convite esta sendo uma oportunidade única pelo fato que ele esta me trazendo uma oportunidade de crescimento na área pedagogia que eu não tinha.
O conhecimento que adquiri com o curso até agora na área pedagogia, esta fazendo com que eu veja com mais clareza as necessidades e dificuldades que os alunos encontram na aprendizagem.
Ao descobrir as dificuldades dos meus alunos, tento ajudá-los, descobrindo várias maneiras e métodos de ensino que possa ajudar a sanar as suas dúvidas no decorrer das aulas.
Sinto ainda que preciso de um conhecimento muito aprofundado na área do EJA, e isto faz com que eu queira aprender ainda mais sobre este assunto e me faz pensar em buscar um novo sonho, o de me especializar, fazer um mestrado e doutorado na área de educação de jovens e adultos.

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