Memorial de Evelise Neumann Passos
“ESCREVER PARA ESCREVER-SE”
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente”
(Paulo Freire- A Importância do Ato de Ler- p. 11)
Falar de minhas memórias me leva a abrir um parêntese e oferecer este exercício de reflexão ao meu professor e amigo Paulo Coimbra Guedes, o qual dedicou (e ainda dedica, mesmo que aposentado) sua carreira de professor de Língua Portuguesa à preocupação com o ato de escrever como forma de ler sua história. Seu assunto nas aulas que ministrava na Faculdade de Letras da UFRGS ou mesmo na mesa de um bar qualquer era a importância do ato de “escrever-se”, como ele dizia. Um dia ele me disse para escrever-me e eu respondi que não era o momento, que não via um motivo para tal e hoje, me vejo com uma obrigação gostosa de re-visitar minha trajetória, de refletir sobre a mesma e de quem sabe, fazer a minha história.
Para escrever-me, busco inspiração em Paulo Freire, no que se refere à leitura do mundo. Acredito que minha trajetória pessoal e profissional começa com a leitura do um pequeno mundo que vai se ampliando e segue-se nas leituras de “outros mundos” que sequer imaginava existirem e que hoje me apaixonam e me envolvem cada vez mais.
Meu primeiro pequeno mundo era bem escondido atrás da cômoda da minha mãe, onde rabiscava com giz, aos dois anos de idade, falando para uma platéia atenta de bonecas. Meu pai garante que eu estava imitando a professora do meu irmão que, nesta época já estava na Escola, onde eu e minha mãe passamos longas tardes durante sua adaptação.
Bem maior foi o mundo da minha experiência como aluna do Jardim A, antes mesmo de completar quatro anos de idade: aquele monte de materiais escolares, nos quais minha mãe, carinhosamente colava etiquetas com meu nome, mostrando-me as letras para que eu soubesse quais eram os meus lápis de cor, giz de cera, almofada xadrez, toalhinha... O preguinho com meu nome, cheio de folhas penduradas com garatujas que eu jurava serem formas definidas e que adorava expô-las a adivinhações. A professora Olga que me chamava de “minha gorda” com tanto carinho que eu nem me importava. Adorava ser a ajudante do dia, pois assim passeava por aquele imenso colégio para buscar um grampeador ou para dar algum recado. Mas do que eu mais gostava mesmo, era da Hora do Conto, quando a professora nos contava histórias com um entusiasmo que parecia que eu estava vivendo o que ela narrava. Eu era muito curiosa, então, estava sempre fazendo perguntas e tentando descobrir coisas novas, nem que fosse uma maneira diferente de montar os Legos gigantes.
A Escola era de freiras, muito rígidas quanto à relação idade/série e, como eu só faria aniversário em 26 de março, não tinha a “idade certa” para freqüentar o Jardim B nos primeiros dias de março, quando começavam as aulas. Apesar de ser considerada bem esperta para a minha idade e ter acompanhado o Jardim A tranquilamente, tive que “repetir o ano”.
Lembro-me que o início daquele ano foi entediante: a nova professora, chamada Vera, mostrava aos alunos novos (o que não era o meu caso) as dependências da Escola, a diretora, os funcionários... Mas isso tudo eu já conhecia, e o trabalhinho de colar feijão no nome eu já tinha feito, e a música da casinha com uma lagartixa eu já havia cantado durante um ano inteiro. O tédio fez com que eu procurasse, por conta própria, coisas novas para fazer: brigar com os colegas, fugir da sala, cortar o cabelo loiro, lindo e longo da coleguinha Patrícia. As conversas com a professora e com a irmã Lourdinha, freira/professora responsável pelo SOE de nada adiantavam: é claro que eu, naquela época não sabia dizer o motivo dos meus atos, respondendo, apenas, que a Escola era chata. Minha mãe tentou formas mais rígidas comigo como castigo e até mesmo palmadas, que também foram em vão. Em uma das minhas fugas da sala de aula vi a porta da Biblioteca aberta e entrei. Lá ficava a professora Bernadete e muitos livros dos mais diferentes tamanhos. Perguntei se podia entrar e ela, com um sorriso que recordo até hoje, permitiu, com a orientação de que eu não mexesse em nada. Fiquei vidrada nas estantes olhando para cima e para baixo, até que a “Dete” (como passei a chamá-la no decorrer de nossa convivência) me entregou uma cesta plástica com muitos livrinhos de história e me apontou para um canto cheio de almofadas, dizendo que ali eu poderia ficar. Estava fascinada no meio dos livros quando a responsável pela disciplina apareceu na porta com um grito de “te achei!”. A Dete disse que eu não estava incomodando e que não se importava se eu fosse visitá-la diariamente. Então, toda vez que eu estava perturbando a aula, era mandada para a Biblioteca. Com o passar do tempo, Bernadete me contava algumas histórias e depois pedia para eu lhe contar outra, que ela não conhecesse. Passávamos tardes inteiras contando fábulas, lendas e contos de fada uma para a outra. Desta forma, meu desafio era conhecer muitas histórias para lhe contar. Para isso minha mãe me ajudava em casa, comprando livrinhos e lendo-os várias vezes para que eu as decorasse. E eu folhava por horas e horas aqueles livros, como se quisesse entrar neles.
No mês de agosto, em uma das minhas visitas à Biblioteca, peguei um livro de Histórias Bíblicas e comecei a ler deitada nas almofadas. Bernadete ficou encantada com a maneira como eu havia decorado a história, ao que respondi que nunca tinha visto aquele livro. Sinceramente, não sei como se deu, mas eu estava dominando o código escrito: estava lendo histórias inteiras. Como prêmio, ganhei de meus pais uma caixa cheia de livros e gibis, muitos beijos, abraços e demonstrações de orgulho.
Fui para novamente no SOE, mas agora para ser testada quanto à leitura e à escrita. Ao final do teste, foi sugerido à minha mãe que eu fosse imediatamente para a primeira série, mas ela não aceitou, pois já estávamos na metade do ano e ela achava que não tinha maturidade suficiente para esta “aprovação”. Terminei aquele ano mais na Biblioteca do que na sala de aula e, no ano seguinte, ao invés de ir para o Jardim B, fui direto para a primeira série.
Na primeira série tive a sorte de conviver com a professora Rose, que entendendo que eu já lia e escrevia, procurava me dar trabalhos diferentes dos que os meus colegas não alfabetizados faziam, procurando sempre ampliar meus conhecimentos. Em alguns momentos, ela me pedia para ajudar os colegas, o que fazia com grande satisfação.
Nos anos seguintes do primeiro grau (hoje Ensino Fundamental) posso dizer que minha vida escolar equiparou-se a dos colegas, pois eu já fazia as mesmas coisas que todo mundo, tinha muitas dúvidas e aprendia com meus colegas. Até a oitava série, alguns fatos foram recorrentes: minha curiosidade ia além dos conteúdos trabalhados em aula, sempre fui sócia assídua da Biblioteca, nunca tive problemas de comportamento além dos esperados para cada faixa etária, nunca fiquei em recuperação e muito menos rodei. Como sempre tive facilidade quanto aos conteúdos, freqüentemente ajudava alguns colegas com aulas particulares na hora do recreio. Também conquistei a simpatia da maioria dos professores e percebi o quanto é bom aprender com quem a gente gosta e com quem olha para a gente com carinho. Muitas vezes, fui escolhida líder da turma, mas só hoje entendo o porquê.
No final do ano de 1988 chegou a hora de pensar no segundo grau. Embora possa parecer piegas, atribuo a minha escolha pelo Magistério a uma boa dose de destino (sabe quando parece que nascemos para aquilo?) aliada à expectativa da minha mãe, como forma de realizar um sonho seu que não aconteceu. Ela queria ter sido professora, mas seu destino assim não o quis.
Foi no Instituto de Educação General Flores da Cunha que dei o que considero hoje, meu primeiro passo em direção a um mundo bem maior do que aquele que ficava atrás da cômoda do quarto dos meus pais e do que o mundo da Biblioteca da professora Bernadete. Conheci um mundo que me vejo lendo até hoje, muitas vezes não o entendendo, mas sempre procurando fazer parte dele: o mundo da crítica, da reflexão, da participação, da valorização do público e da luta pelo cumprimento de direitos e deveres. Esse foi um grande passo na minha trajetória pessoal e que não consigo dissociar de minha prática pedagógica.
Já no primeiro ano do curso comecei a freqüentar o Grêmio Estudantil da Escola: no início porque era uma sala onde podíamos fumar escondidos, depois por simpatizar com as pessoas e enfim, por concordar com suas idéias e lutas. Participei da destituição de Presidente deste Grêmio e também do movimento Fora Collor. Abracei o Instituto em seu aniversário e tranquei a Avenida Osvaldo Aranha reivindicando professores que estavam faltando na Escola. E nessa participação muito intensa em manifestações e movimentos, conheci muito de política e também de politicagem. Pude estabelecer contato com ideologias com as quais concordava e concordo e com idéias que eu não concordava, mas que aprendi a respeitar e, desta forma, mais do que assistindo aulas de Didática, comecei a montar minha bagagem profissional. Claro que as práticas de ensino e o estágio obrigatório contribuíram bastante na minha formação, bem como os cinco anos nos quais trabalhei em uma creche como recreacionista (enquanto ainda estudava e logo depois de formada). Tive a honra de assistir Paulo Freire e sua filha Madalena Freire em uma palestra no Ginásio da Brigada Militar, mas só tempos depois pude perceber a proporção daquilo que ouvi e daquele momento que vivi; participei de muitos encontros e seminários do GEEMPA, os quais naquele momento me pareciam bastante próximos à prática, e dos quais por algum tempo tentei “copiar algumas receitas”.
Depois de dois anos formada, realizei o sonho (que depois virou pesadelo) de trabalhar em uma escola particular, ganhando um salário bastante razoável para alguém com dezenove anos de idade. Trabalhei em três escolas no período de seis anos (uma média de dois anos em cada uma). Em todas elas aconteceu a mesma coisa: em sala de aula eu era adorada pelos alunos e também pelos pais, a direção reconhecia meu domínio de conteúdos e minha didática, mas depois de algumas reuniões administrativas e/ou pedagógicas eu passava a ser mal vista por meus posicionamentos, pois ali não se enquadravam as palavras de António Nóvoa que ouvi em um Seminário: “Na docência é impossível separar as dimensões pessoais e profissionais. Ensinamos aquilo que somos e naquilo que somos encontra-se muito daquilo que ensinamos”. Como não podia ser eu mesma e não conseguia ser diferente, acabei sendo sempre demitida.
No ano de 1999 ingressei na UFRGS, para cursar Licenciatura Plena em Letras com habilitação em Língua Portuguesa e Espanhola e suas respectivas Literaturas. Tal escolha deveu-se à minha adoração pela leitura aliada ao meu gosto pelo Português e também ao fato de já ter escolhido o magistério como profissão. Foram cinco anos de muita aprendizagem no campo teórico; tive contato com obras, autores, teóricos, idéias que nunca tinha ouvido falar. Confesso que o contato com o modelo do professor universitário me encantou muito. Vê-los dando aulas fortalecia ainda mais minha opção profissional. Apesar de perceber o curso como muito teórico e pouco prático, tive a sorte de já ter experiência profissional e consegui estabelecer relações que contribuíram muito na minha formação. Quanto aos meus colegas, que nunca haviam dado aulas, tenho as minhas dúvidas...
Em 2002 fui nomeada professora de currículo por atividade no Estado do Rio Grande do Sul. Fui trabalhar na E.E.E.F. Professor Afonso Guerreiro Lima, localizada no “coração” da Vila Cruzeiro do Sul. Assumi uma turma de 2ª série no mês de maio, sendo que os alunos, todos multi-repetentes, estavam desde meados de março sem professora. Confesso que foi um grande contraste com as escolas particulares nas quais eu havia trabalhado: a escola não tinha uma aparência das mais bonitas e bem cuidadas, as crianças na sua maioria eram sujas, cheiravam mal e não tinham, sequer, lápis e caderno. Mas o melhor de tudo foi saber, através da diretora, que não havia orientadora e nem supervisora, e que ela, como professora de Matemática não tinha muita experiência com “os pequenos”, então, eu podia trabalhar como achasse melhor dentro da minha sala de aula. O fato de poder fazer como eu achasse melhor me levou a ter contato com um mundo agora muito maior do que todos os que eu já havia lido. Era um mundo bem diferente do meu, onde as pessoas passavam frio e fome, onde as crianças não tinham o mesmo prazer que eu tive quando era aluna... E aquelas crianças que eu encontrei faziam com que eu me lembrasse da minha experiência no segundo ano de Jardim B. A escola para eles era chata, no caso dos multi-repetentes, já haviam visto várias vezes as mesmas coisas. Nos livros e nos quadros lotados com a letra linda da professora era mostrada uma realidade que não era a deles. Foi então, o meu grande desafio e a minha grande aprendizagem: desconstruí alguns conceitos, construí outros, procurei conhecer a comunidade onde meus alunos viviam, integrei-me à escola fazendo parte do CPM, do Conselho Escolar, Comissão Organizadora de Festas e outras tantas Comissões, até mesmo porque a maioria dos meus colegas não participava de nada. Acredito que passei a conviver não só com a consciência prática, que faz com que nos acomodemos a passemos a repetir mecanicamente as coisas, mas também com uma consciência crítica que estava adormecida no meu lado profissional, mas sempre viva pessoalmente. Passei a refletir e a estudar muito, procurando maneiras para lidar com as surpresas e com o inesperado. A bagagem que adquiri na Escola, através da experiência e da reflexão sobre a mesma é imensurável.
A minha relação tanto com os alunos quanto com a comunidade e com o grupo de professores fez com que, ao final do meu segundo ano na escola fosse convidada a concorrer como vice-diretora. Algumas questões burocráticas não permitiram, mas fiquei bastante orgulhosa com o convite.
Acontece que, infelizmente somos movidos pelo capitalismo e pela sede de ganhar mais para ter mais, e desse mal ainda não consegui me livrar. Então, troquei de escola no intuito de ganhar mais. Fui trabalhar no bairro da Ponta Grossa, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. José Loureiro da Silva, distante a 50 minutos de carro da minha casa. Lá a diretora tinha hábitos e posturas que me faziam lembrar as escolas particulares, e isto me desagradava. No dia em que essa diretora me disse que havia observado que eu era mais de escutar do que de falar, vi que ali não era o meu lugar, eu não estava sendo eu. Ao final do ano, não consegui trocar de escola e tive que ficar lá. Para minha surpresa, em junho a diretora renunciou e sua vice assumiu, me convidando para ser sua vice-diretora. Pensei em não aceitar, mas depois vi o convite como um desafio: era hora de tentar pôr em prática o meu compromisso social e a vontade de mudança. Não adiantava estar insatisfeita e não fazer nada para mudar a situação. Aceitei o convite desde que pudesse continuar em sala de aula, onde me realizo a cada dia. Nossa proposta enquanto equipe diretiva era construir uma nova maneira de estar na escola, fazendo com que os professores que demonstravam vontade de evoluir pudessem se juntar com os colegas para refletir sobre o seu trabalho. Proporcionamos momentos de diálogo para análise das práticas e para procura coletiva de melhores formas de agir. Foi um trabalho bastante enriquecedor para o grupo, que passou a agir de maneira mais autônoma e conseqüentemente com maior qualidade. Profissionalmente, tive contato com as questões burocráticas que fazem parte da instituição escolar; aprendi muito e passei a acreditar que todo o professor deveria passar pela direção de uma escola.
A longa distância percorrida diariamente para chegar à Ponta Grossa estava me desgastando e eu decidi que ao final do ano trocaria de escola embora estivesse feliz com o meu trabalho. E novamente a questão financeira falou mais alto: eu queria uma escola perto da minha casa e com 100% de difícil acesso. No mês de julho fiquei sabendo da existência de uma vaga na Escola Tom Jobim, localizada no Complexo Vila Cruzeiro da FASE. Conversei com a diretora do Loureiro, que me apoiou em minha decisão, e me liberou uma vez que era uma oportunidade financeira boa e um desafio maior ainda.
Em agosto assumi como professora de Língua Portuguesa na Escola Estadual de Ensino Fundamental Tom Jobim. Era realmente uma experiência diferente e desafiadora, pois até então, só havia trabalhado com séries iniciais e a partir daí eu trabalharia com alunos de 5ª a 8ª na modalidade EJA, internos da FASE. Era um mundo que para mim só existia nos jornais, com menores infratores, privados de liberdade por terem cometido todo o tipo de delito, inclusive os mais inimagináveis. Desta vez, o mundo que se apresentava para a minha leitura ia além da minha imaginação e me dava certo medo; medo dos alunos e também da situação, completamente distinta de tudo o que eu já havia vivido. Recorri novamente ao estudo para aumentar meu repertório pedagógico para dar conta do que viria.
A Escola Tom Jobim é repleta de particularidades além daquelas que toda a escola tem: está inserida dentro da FASE, e, portanto, submetida às regras da Instituição principalmente voltadas à segurança; os alunos, na maioria das vezes estão há muito tempo fora da escola e, durante sua internação, são obrigados a estudarem; estão “emburrecidos” pelas drogas, como eles mesmos dizem; por questões de segurança, os internos não ficam com seus cadernos e nenhum tipo de material após as aulas, não tendo assim como estudar em horário extra-escolar; a rotatividade de alunos é intensa devido a novos ingressos, fugas, desligamentos, liberdade assistida... A composição das turmas muda quase que diariamente. Lidamos com portas de ferro, cadeados, monitoria, “pedalaços” (forma de manifestação onde os internos deitam-se no chão e batem fortemente com os pés nas portas de ferro de seus dormitórios). Mas, acima de tudo, é uma Escola onde há conteúdos, objetivos, avaliações, conselhos de classe, aprovações, reprovações e, é claro a preocupação com um fazer pedagógico que seja significativo para nossos alunos.
Posso dizer que me adaptei facilmente ao novo contexto. Depois de dois meses trabalhando na Escola, fui convidada a assumir a vice-direção do turno da manhã, permanecendo com turmas à tarde e à noite. Aceitei o convite e mais esse desafio. Acredito que estar em sala de aula e na vice-direção são experiências que se complementam e enriquecem-se mutuamente.
Na Tom Jobim cada dia deve ser visto como uma conquista e uma reconquista, devido à resistência dos alunos durante as aulas. A cada dia nossas certezas a respeito da educação devem ser reforçadas para que possamos passá-las aos alunos. É como uma plantação: devemos plantar, regar as plantas diariamente na medida certa e admirar seu crescimento mesmo que aos pouquinhos.
O cotidiano me mostrou que minha prática deveria pautar-se no respeito, na confiança e na significação. Como os alunos verbalizavam odiar o Português, procurei e procuro a cada dia compreender a matriz histórica, científica e social dos conteúdos que trabalho transformando a matéria em instrumento de cidadania e de autonomia, fazendo com que eles percebam uma utilidade prática para as nossas aulas, que são baseadas praticamente na escrita e na leitura. No começo não foi fácil, diziam que nunca iriam usar nada daquilo, etc., mas hoje, vejo como recompensa o sorriso dos alunos quando me enxergam, três adolescentes do 3º ano do Ensino Médio os quais convenci a fazer o ENEN, percebendo uma possibilidade de conhecer outros mundos ao saírem da FASE e a turma do 2ª ano do Ensino Médio do CASE feminino na qual estamos produzindo textos para a publicação de um livro no final do ano.
Em dezembro de 2007, ingressei no Curso de Especialização em PROEJA, vislumbrando uma grande oportunidade de qualificar minha prática e, conseqüentemente tornar meu trabalho mais significativo para meus alunos. Algumas dúvidas foram sanadas e muitas outras se criaram, assim como algumas teorias já viraram práticas e algumas práticas estão tornando-se teorias que pretendo aprofundar no decorrer do curso.
Desta forma, hoje paro durante algumas horas para dedicar-me a esta escrita de mim mesma e percebo o quanto andei, muitas vezes sem notar e do quanto mudei sem ter percebido. Apesar de em certos momentos ter vontade de correr para trás da cômoda da minha mãe, vou em frente, desafiando os mundos que encontro (ou que me encontram) cada vez mais com a certeza de que ensinar é aprender e de que, nossa história está aí para ser escrita e reescrita.
“O regresso ao começo não é um círculo vicioso se a viagem, como hoje a palavra trip indica,significa experiência, donde se volta mudado. Então, talvez tenhamos podido aprender a aprender aprendendo. Então, o círculo terá podido transformar-se numa espiral onde o regresso ao começo é, precisamente, aquilo que afasta do começo.” (MORIN, 1977, p.25)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENINCÁ, Elli. Prática Pedagógica: Uma questão de método. In.: BENINCÁ, Elli & CAIMI, Flavia Eloisa (orgs.). Formação de professores: um diálogo entre a teoria e a prática. Passo Fundo: UPF, 2004, P. 51-64
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 2001.
GUEDES, Paulo Coimbra. Da Redação Escolar ao texto: Um Manual de Redação. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2003.
PETRAGLIA, Izabel Cristina. Edgar Morin: A educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
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