Memorial de Cláudio Márcio Marques Teixeira

MEMORIAL FORMATIVO
Cláudio Márcio Marques Teixeira
Porto Alegre, maio de 2008.

1 – NASCIMENTO DE UM PROFESSOR

Desde que comecei a prestar vestibular, minha segunda opção sempre foi Educação Física, depois de quatro vestibulares, transformou-se na primeira opção e daí passei e, graças a Deus, me formei.
São várias as passagens boas e ruins que temos na vida. Às vezes, achamos que foi muito ruim ter passado por algumas e outras, que foi muito bom e ainda há momentos que não temos percepção para saber como foi, mas o fato é que tudo vale à pena, quando se faz com vontade e dedicação, para aprender essas coisas, sejam da vida profissional ou pessoal. Penso que temos que vivificar pouco a pouco as coisas da vida, mesmo que para isso atrasemo-nos em alguma das fases, que para muitos são fundamentais.
Quando iniciei a faculdade de Educação Física, tive-a como um prêmio de consolação, por não ter conseguido ser algo que, na época, considerava mais interessante. Hoje em dia, vejo que nada tenho haver e a partir disso faço minha conclusão. Queria ter sido um dentista ou até mesmo um militar, só que as coisas se encaminharam para eu ser um professor de Educação Física, e estou muito feliz, porque agora sei, realmente, no que me enquadro: um gestor de atividades de educação física e lazer.
Muitas vezes desanimei, mas não desisti, foi tudo como deveria ser, entrei na faculdade fazendo só as disciplinas obrigatórias, mas pensando em outras coisas que me interessavam até então, só que não deram certo. Houve alguns concursos para outras áreas de atuação, tentei, mas não consegui. Após isso, quando já era meu quarto semestre, decidi trabalhar em alguma área da Educação Física, veio à oportunidade de fazer um estágio remunerado.
Fiz numa academia, foi minha primeira atuação como “projeto de professor de Educação Física”, comecei como instrutor de musculação e condicionamento físico, só que ainda não tinha feito a disciplina de Cinesiologia, mesmo assim me aceitaram e não precisava mesmo, quem prescrevia as séries iniciais nem sempre tinha alguma formação além da prática como ex-aluno, não tinha nem passado na porta de uma Escola de Educação Física. Logo comecei a perceber que estava entre administradores mercenários e instrutores despreparados, os primeiros, acometidos em lucrar de qualquer jeito, e os segundos, tomando lugar de alguém que poderia fazer um trabalho mais adequado. Livraram-me da musculação e fui para natação, na mesma academia, pelo menos natação já tinha cursado, foi melhor mesmo, pois não viajei muito, ensinei a seqüência que aprendi com o professor “Peixinho”. Fiquei seis meses nessa “loja de trapaças corporais”.

2 – NOVA REALIDADE, DESAFIOS...

Noutra fase de minha vida acadêmica, fui contratado pelo Estado / RS para dar aula. Para mim uma dádiva, apesar de todo sofrimento, valeu a pena. Tinha me inscrito para o contrato emergencial, antes mesmo de estagiar na academia, anteriormente citada, só que fiquei de suplente naquele ano de ’95, mas antes que eu renovasse o contrato com a academia me chamaram, faltava uma semana antes do início do ano letivo de ’96. Porém, moro em Viamão e me chamaram para trabalhar em Gravataí, bem longe da minha casa e da ESEF, mas encarei. Foram seis meses de martírio, sem receber um tostão. Minha vida estava resumida a pegar sete ônibus por dia e almoçar três vezes por semana, isso se eu chegasse a tempo no RU da Casa do Estudante e de lá sair correndo para pegar o ônibus “Jardim-Ipê”. Emagreci uns sete quilos nesse período. Recebi, paguei minhas dívidas e melhorou, pois já almoçava todos os dias e, às vezes, podia pegar o ônibus direto de onde trabalhava. Passou um ano e eu ainda estava lá em Gravataí, tentei transferir-me para Viamão, não consegui. Daí comprei um carro, ficou melhor, mas a distância ainda era grande, muito desgastante. Foi no terceiro ano que já estava trabalhando no Estado que consegui transferência para Viamão, onde desde então estou. Tudo melhorou, a distância diminuiu e até para ir à ESEF ficou mais perto e consegui me recuperar na matrícula semestral da Faculdade.
Minha intenção não é me alongar muito nessa explanação, por isso suprimi alguns detalhes, meu estágio final foi a reafirmação do que passei a gostar de fazer e de vivificar; os alunos tornaram-se para mim “molas de impulsão” para crescimento pessoal e profissional, aprendi muito com eles. Detalhes com os quais não me deparava antes ali vinham à tona, os relacionamentos frios, que eu tinha adquirido nas fileiras do Exército Brasileiro, foi aos poucos se transformando em valores para vida de professor e amigo, pois convivi com várias histórias de muitas pessoas que com um sorriso se transformavam em outras. Meu lado humano foi cada vez mais dominante, problemas que eu nada tinha haver foram os mais gritantes e importantes na minha formação profissional e me acrescentaram muito.
Aluno que pede para brincar de boneca na minha aula, há doze anos atrás, jamais permitiria, me faltaria sensibilidade, posso estar exagerando, mas é a impressão que tenho de mim. Alunas que não conhecem seu pai querendo brincar de ser minhas filhas, querendo ser até mesmo xingadas para saberem que alguém se preocupa com o futuro delas. Alunos que fazem fila para dar um beijinho de despedida no final da aula de Educação Física com o novo professor, que legal isso. Surpreendi-me com valores por mim já esquecidos, me vi menino novamente, jogando bolinhas de gude com meus alunos da terceira série. Afinal, regredi? Cresci? Não interessa! Foi bom, é isso que importa, estou feliz por poder ser alguém mutável, mas acima de tudo com o objetivo definido e programado para acolher, quando necessário repreender.
Foi uma experiência inesquecível, ainda não estou na minha edição definitiva, mas nem quero estar, prefiro ser esse “camaleão”, me modificando e melhorando para meus alunos, enquanto aprendo ensinando, ensino aprendendo todos os dias.

3 - UM MOMENTO MARCANTE DO INÍCIO DE CARREIRA

Antes de tudo, vou explicar o que fiz, desde o anteprojeto até a realização do projeto propriamente dito, estão, entre eles, muitas observações e idéias que descartei e outras que aproveitei. Constatei que uma atividade de alto impacto físico e com dificuldades de momento anularia outras já existentes, como o relacionamento amistoso e/ou hostil de alguns alunos. Montei um grande circuito de atividades que tinham que ser cumpridas uma a uma para dar certo, eram pistas com orientação (senha) para partir de um ponto a outro, observando a paisagem local para descobrir o próximo ponto, assim se deslocando até o ponto final, onde havia um professor à espera da equipe para realizar uma atividade recreativa. Logo após, redirecionar a equipe para um local comum a todos, uma espécie de “Caça ao Tesouro”.
Desde o início dessa idéia havia pensado numa manutenção comportamental dos meus alunos de 5ª série, que eram e são adeptos a ordens justificadas, nas ameaças com suspensão, advertência e descontos na nota bimestral, pois os outros, mais velhos, não estão nem aí. Constatei que eles já estão entrando no ritmo desses que só pensam em competir para vencer, humilhar, aniquilar, desmotivar, ridicularizar seus adversários, o que considero muito negativo, observava isso nas minhas aulas, as “panelinhas”, os confrontos de grupos rivais por qualquer motivo: morar em ruas diferentes ou terem padrões de vida diferentes e vários outros motivos.
A partir disso tudo, planejei um retiro para outro local, que fosse neutro para todos, que fosse um desafio coletivo, através de uma atividade problema, que fosse necessária a integração e cooperação dos componentes das equipes para chegarem à solução de cada etapa. Daí numa reunião de jornada pedagógica feita em julho desse ’97, fui contra a programação da escola, que previa um passeio para as 5a. Séries, mas na Faculdade entrei na disciplina de Recreação III e meus objetivos mudaram, daí banquei o “Judas”, incentivando um passeio para Viamão, no Parque Saint’Hilaire, lugar onde cresci brincando, porque moro bem próximo, mesmo com o mau humor de meus colegas, levei minha idéia adiante, pois agora era necessário para mim e superdidático para meus alunos.
Como já deve ser praxe, planejei de uma maneira, mas executei de outra, pois houve diversas modificações, a começar que na minha primeira tabulação havia noventa e cinco alunos dispostos a participar, depois de alguns terem desistido e outros tendo punições disciplinares pendentes, diminuiu para oitenta e cinco alunos e também iriam a princípio só as turmas que dava aula, mas ficaria excluída uma turma apenas, então os convidei, foram e gostaram. Pena que um desses alunos foi assaltado, perdendo seu tênis novo, porém, mesmo sem seu tênis, foi atuante do início ao fim do evento.
Procedi da seguinte maneira: separei as turmas em grupos por suas afinidades, em número de quatro componentes, feito isso, coloquei os grupos ombro-a-ombro e em fileira única, dentro de cada turma, numerei de 1 a 4, grupo por grupo, resultaram quatro grupos em cada turma; só que o que eles não esperavam era que eu modificasse tudo e determinasse os grupos (equipes) aleatoriamente, ou seja, não nas suas afinidades, pois separei em cada turma todos correspondentes ao número “1”, por exemplo, formando um grupo, os de número “2”, formando outro e, assim sucessivamente, o que foi um tormento para todos. Nunca vi tanta resistência, me transformei num ditador, para poder aplicar essa técnica de socialização. Tinham inimigos tendo que brincarem juntos na atividade de “Caça ao Tesouro”, claro que propus uma competição, só que o que eles não esperavam era essa seleção feita por mim, e essa foi a primeira brincadeira no âmbito geral. Após essa tiveram as suas atividades específicas a cada turma e finalizei com um lanche final com todas turmas, salgadinhos e refrigerantes para todos.
Na minha pesquisa sobre o que tinham achado da atividade, fiz as seguintes perguntas: O que você achou do passeio? Era o que você esperava? O tempo foi suficiente? E o que você achou dos seus colegas? Coloco a seguir as respostas que mais se repetiram: “Foi ótimo, se tiver outro passeio que seja feito lá; Os salgadinhos estavam gostosos, pena que não teve almoço; O tempo foi pouco, voltamos antes do previsto! Meus colegas não brigaram, foram legais e se divertiram bastante”.Teve também resposta do tipo: “Foi tri terror”, gíria deles.
Nas atividades traçadas por mim, que foram quase todas executadas, se destacaram mais as da “Caça ao Tesouro”, que acabou unindo-os pelo problema de ter que reconhecer a paisagem do local proposto pela senha recebida que era enigmática, as outras atividades recreativas também surtiram os resultados previstos: Integração, Cooperação e até Coordenação, tudo como esperado. Não sei se foi por minha pressão e imposição para que não brigassem entre si, mas não houve conflitos, pelo menos na minha frente, devo admitir que toquei bastante nessa “tecla”: Não briguem! Se brigarem, serão suspensos por três dias.
Antes da realização desse evento, fiz com que eles colocassem suas idéias sobre como seria o passeio, o que esperavam, dando resultados como os já apontados anteriormente, mas meu objetivo fundamental, que era a manutenção, não foi tão eficaz assim, claro que eu não esperava mudá-los totalmente no seu comportamento, ou na sua tendência comportamental, só senti uma certa sensibilidade de alguns, ainda mais no acontecido, que foi o assalto do tênis do garoto, vários se compadeceram e citaram o fato nos seus relatórios, para mim também foi uma lição de vida, eu fiquei mais próximo ainda de meus alunos, que são “as molas mestras” da minha vida profissional.

4 – MUDANDO A ROTINA DE PROFESSOR

Essa vida de fazer a faculdade e trabalhar ao mesmo tempo é bem interessante, pois as práticas baseadas nas teorias passadas nas aulas da graduação fazem com que você vá selecionando e aplicando, segundo o que aquele grupo e aquele espaço permitem e tantas adaptações necessárias a cada atividade aprendida.
Diante dessas circunstâncias vividas não era nada animador fazer algo além dos portões das escolas que trabalhava, eram três e não tinha muito apoio para participar de campeonatos externos, já não queriam nem internos, muito menos ter de acompanhar equipes fora da escola. No entanto, estava terminando minha graduação no início ’99 e pensando nisso resolvi inscrever uma das escolas no campeonato interescolar de Viamão e mudei minha rotina de professor acadêmico para professor treinador de equipes de alunos jogadores, e me incomodei bastante, mas valeu a pena, já que não tinha sido nem atleta. Comecei tendo dois grupos campeões e foi muito satisfatório porque ali, naquela vez, eles tinham sido campeões, mas sei lá, o que a vida tinha reservado a eles, por isso minha alegria e emoção em vê-los vitoriosos.
Nesse momento relato uma nova vida profissional e lembro das leituras de “O Massacre dos Inocentes: A criança sem infância no Brasil”, de José de Souza Martins (coord.) (2003), e de “Juventude e Sociedade: Trabalho, educação, cultura e participação”, de Regina Novaes & Paulo Vannuchi (Orgs.) (2004), que fiz a pouco nesse primeiro módulo, sobre as pesquisas de quem vence, de onde vem para onde vai, o que leva para esse ou aquele caminho.
Fiquei conhecido como o professor que levava as equipes e tive apoio de alguns colegas que nem eram da minha área, mas que compartilhavam do mesmo ideal, também queriam ver os alunos felizes, e carregavam em seus carros cinco ou seis alunos para os locais de jogos e assim tem sido minha vida de professor, ajudando meus alunos a colecionar medalhas e troféus.

5 – SER VICE OU NÃO SER... EIS A QUESTÃO?

Quando estava mudando minha vida profissional tive duas conquistas na minha trajetória, deixei de ser professor contratado do Estado, passando a nomeado em março e junho de 2002, além disso, fui admitido por uma escola particular. Em abril do mesmo ano, veio a minha outra função-desafio, o convite para ser vice-diretor à noite, topei e que loucura! Foi aí que ingressei no mundo da EJA, caí de “pára-quedas” em uma nova escola, imaginem a rejeição e o boicote. Com minha inexperiência nessa função, hoje vejo que não gostaria de ter sido professor do grupo do qual era o vice, muita coisa ficou no pessoal, por isso perdi amizades nem bem conquistadas ainda, pelo menos pensava que estava fazendo o certo, pensava nas aulas desses alunos como um direito e não como um turno a mais na escola que ingressava, só que entrei batendo de frente com alguns colegas que queriam continuar uma rotina “básica” e tranqüila. Atualmente estou de novo na vice-direção, só que do turno da manhã.
Com minha primeira experiência, que foi de dois anos, pois saí em 2004, aprendi que mais se deve observar do que apontar os erros dos outros, mostrando-os apenas em momentos oportunos. Depois disso vejam só, passei a dar aulas de Ensino Religioso na EJA, também topei o desafio, pois já tinha lecionado essa disciplina em outra época e noutra escola. Trabalhar Ensino Religioso com a EJA foi bem interessante, trouxe muitos momentos de reflexão e de formação humana para meus alunos e principalmente para mim. Fiz das aulas terapia de vida, aproveitando o dia-a-dia deles e o meu para trocarmos conceitos e pré-conceitos, também trouxe minhas vivências de professor de Educação Física, brincávamos e aprendíamos ao mesmo tempo, muito bom para uma noite de segunda-feira, depois de ter encarado “meus baixinhos” da escola que trabalho em Porto Alegre. Hoje, 2008, também mudei minha disciplina na EJA, fiquei com a Educação Física, mas esses quatro anos me resultaram numa visão bem mais ampla da vida dos meus alunos e da minha.
Para melhorar minha vida profissional, sempre que tive oportunidade fiz cursos, encontros, seminários e assisti palestras que acrescentaram bastante nesses doze anos de docente e hoje estou aqui cursando essa Especialização com muita alegria de poder fazer parte dessa Universidade novamente, estando entre profissionais de outras regiões e com experiências diferentes e semelhantes as que tenho. Faço com muito gosto esse memorial.

6- A ESCOLA E A COLOCAÇÃO NO MERCADO

Dentro desses dois pontos farei agora uma síntese da minha trajetória e a dos alunos que tem passado por mim, nesses reencontros depois da saída deles da escola.
Na escola pública, da qual sou filho, desde a alfabetização e até então, deparei-me com vários tipos de professores, desde os mais idealistas até os mais relapsos e com todas suas posturas políticas em relação aos governos que administravam essas instituições, ficavam fazendo oposição a todo o momento ao governo ou à direção da escola, dependendo da conjuntura, observava um movimento em relação às políticas públicas para educação.
Os fatos vão acontecendo e trazendo as leituras adequadas do que estava realmente como objetivo ou perspectiva para nós, os futuros cidadãos pertencentes a uma sociedade capitalista e de cunho neoliberal, além de ter as classes dominantes representadas e permanentes no poder, donde de uma maneira ou de outra, dão a colocação no mercado de trabalho àqueles que são oriundos da escola pública.
Desde muito tempo no Brasil, a partir das leituras que fiz nesse primeiro módulo e reforçado pela minha própria história de vida, reafirmo que a educação pública sempre esteve direcionada a uma continuidade de colocações na sociedade, na qual quem pertence a uma classe social dominante tem mais chance de um melhor emprego, tendo incentivo e orientação vocacional, e quem não pertence busca na adaptação, oportunidade e talento para vaga que lhe é destinada. Os filhos da escola pública, das classes trabalhadoras, não têm muitas escolhas, o que tem é que diante de todas as dificuldades que se apresentam ao longo do caminho é saber o que quer ser e isso é um desafio.
Ter de driblar muitas adversidades, por exemplo, em meu caso, o que eu pretendia ser na vida foi se modificando diante das circunstâncias vividas. Meus pais tão preocupados em dar conta de suas obrigações e sem ter muito conhecimento de mercado de trabalho, incentivavam a compensar uma vida difícil que tiveram, com uma mais fácil para mim, de forma que se eu estudasse e me saísse bem no que me propunha me apoiariam. Claro que não eram ingênuos a ponto de me sugerir ser médico ou advogado, pois tinham consciência das dificuldades enfrentadas na formação escolar básica, mas queriam que eu não sofresse muito. Hoje vejo que na educação recebida por eles, ainda consegui com esforço e boa vontade ser esse cidadão que quer melhorar cada vez mais.
Já alguns alunos que passaram por mim e que encontro de vez em quando, me mostram que sua situação é ou foi bem semelhante a minha, tiveram que ser bem esforçados e até mesmo contar com sorte para se colocar no mercado de trabalho, numas histórias cheias de ilusões e seguidas de desilusões foram conquistando seu espaço que muito raramente chega a ser de nível superior, muitos se dedicam ao mercado informal, comércio sem falar naquele que tem que desistir dos estudos para sustentar-se ou ajudar no sustento de sua família.
Falando em trabalho e colocação no mercado, segundo Gaudêncio Frigotto, em “A dupla face do trabalho: criação e destruição da vida”, da obra “A experiência do trabalho e a educação básica”: trata-se de combater o ideário e os valores neoliberais e de prosseguir lutando para construir sociedades fundadas nos valores e princípios da igualdade, da solidariedade e da generosidade humana, colocando a ciência e a técnica e os processos educacionais a serviço da dilatação da vida para todos os seres humanos.” (2003, p.24-25)
Complemento e sustento o que penso no meu papel de professor-educador na Educação Básica, querendo uma forma mais justa de acesso ao mercado do trabalho, sendo que as políticas para essa questão ainda estão deixando a desejar, por isso as turmas que concluem esse nível param por aí e vão se dedicar a outras funções mais fáceis de se manipular e explorar.
Transfiro essa visão para EJA, como pensar na colocação no mercado de trabalho, desses alunos que vão ser formados nessa modalidade, haja vista a distinção que já existe na obtenção de vagas para estágios para quem cursa o Ensino Médio. Tenho ouvido que muitas empresas negaram o estágio por se tratar de aluno de EJA. Já foi difícil para esse (a) voltar a estudar, que incentivo terá em continuar, e se estiver fora do mercado, uma esperança transformando-se em limitação, justo a que não poderia ser.
Seria um grande progresso para nossa sociedade poder absorver esses alunos que saem da EJA, como é a temática desse nosso curso de Especialização, porém, acredito ainda ser uma utopia. Temos muito para avançar nas estruturas de escolas e na reformulação curricular dos cursos de EJA, trazer muitas empresas que invistam em nossos alunos, iniciativas de inclusão sem exploração.
Dentro desse contexto, segundo estudos de Sônia Maria Portella Krupa, baseada nas idéias de Celso Furtado, Paul Singer e Ladislau Dawbor, num vídeo que traz o título “Desenvolvimento, trabalho e educação de jovens e adultos”, tem uma organização para implementar esse desafio sendo que como afirma Singer: “Os professores de EJA como agentes de desenvolvimento e igualmente com outros representantes da comunidade terão de ser preparados para sua tarefa árdua e, ao mesmo tempo, delicada”. Para Singer, o ideal é que a preparação se faça em equipe, composta por profissionais ligados a diversas entidades.
A formação profissional deve acompanhar o processo de implementação da atividade escolhida e pode, por esse procedimento, evitar o erro clássico freqüente na Educação Profissional e apontado por Dawbor em diversas instituições de formação: formam-se contadores, torneiros, marceneiros, mas não se ensina como gerar uma atividade nova e nem se dinamiza os empregos locais correspondentes, fazendo com que essa formação apenas gere um desempregado com certificado.” (2005, vídeo de entrevista da Série Salto para o Futuro).
Diante dessas afirmações fecho meus relatos sobre minhas experiências e esperanças de ser um agente da melhoria desse País que precisa dar conta de tantas mazelas ao longo de sua história, sabendo que temos muitos obstáculos para transpor e querendo não sofrer muito, mas disposto a melhorar o que der e em equipe, porque sozinho ninguém faz nada tão amplo e desafiador.
Estou encaminhando uma pretensão de construção de TCC, sobre esse assunto: “Mercado de Trabalho e EJA”, pretendo pesquisar a preparação dos alunos de EJA para enfrentar o mercado de trabalho atual.

Para ilustrar essa minha trajetória pessoal e profissional, montei uma seqüência de músicas que marcaram essas minhas caminhadas da vida, são elas:

1. “Brincar de viver” / Guilherme Arantes
2. “Somos Quem Podemos Ser” / Engenheiros do Hawai
3. “Guerreiro Menino” / Fagner
4. “We’re champions my Friends”/ Queen
5. “Tocando em Frente” / Renato Teixeira
6. “Amor e Sexo” / Rita Lee
7. “Você é Linda” / Caetano Veloso
8. “Professores” / Leci Brandão
9. “Epitáfio” / Titãs
10. “Depende de Nós” / Ivan Lins
11. “Amanhã” / Guilherme Arantes
12. “Sede de Marujos” / Ivan Lins

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