Memorial de Rosely Hahn Kehl


Meu nome é Rosely Hahn Kehl. Nasci numa quente tarde de primavera, no dia 24 de novembro de 1960, às 17 horas na cidade de Feliz. Segundo relatos de minha adorada mãe , às 15 horas daquela tarde, embarcou num ônibus, com destino a cidade de Farroupilha,minha irmã Anna Maria que tinha 11 anos, para fazer o exame de admissão, onde foi estudar num colégio de freiras, no internato. Minha irmã mais velha 18 anos que , Rosa Maria, foi interna neste mesmo colégio. Sou a nona filha de Ottmar e Laura.Somos dez filhos, cinco rapazes e cinco moças.
Apesar das muitas dificuldades que meus pais tiveram, minha sempre se empenhou para que todos os filhos estudassem. Minhas três irmãs mais velhas, Rosa, Anna e Rogéria,fizeram o Curso Normal. A Anna iniciou sua vida profissional no Magistério, mas depois de alguns anos ingressou na Justiça do Trabalho. A Rosa e a Rogéria já são professoras aposentadas.
Eu iniciei a minha vida escolar aos cinco anos, na Pré-Escola, do então Grupo Escolar Tenente Oldegard Sapucaia, hoje Escola Estadual Saturnina Ruschel, na cidade de Feliz. Lembro-me com carinho de minha primeira professora Ilva Bennemann, também da professora Romana Selbach 2ª e 4ª série, e da professora Hildegardes Hahn, sempre alegre, alto-astral.
Minha mãe sempre nos incentivou a estudar e fez tudo que estava a seu alcance para que todos os filhos estudassem,sempre frisando do quanto o estudo é importante na vida de uma pessoa, mas em momento algum nos impôs a profissão a seguir.
Desde menina sempre gostei muito de crianças e isto fez com que decidisse seguir a carreira do Magistério, também influenciada pelas minhas irmãs professoras, e minha mãe sempre me deu o maior apoio. Quando conclui o 1º Grau, hoje Ensino Fundamental, ainda não havia saído a autorização de funcionamento da escola de 2º Grau. As aulas na recém criada Escola Estadual de 2º Grau Professor Jacob Milton Bennemann, iniciaram no mês de setembro de 1975. Iniciei o meu estágio em março de 1979, na localidade de Arroio do Ouro, município de Feliz, no turno da manhã, na Escola Municipal Jacob Klein, com uma 1ª série de 24 alunos. Foi uma experiência muito gratificante, ver aquelas crianças, irem aos poucos descobrir o mundo das palavras, aqueles olhinhos brilhantes, radiantes de felicidade, a cada descoberta. Confesso que não há nada mais gratificante que isso. Mas lembro também do menino Arlei, que já estava repetindo esta série, das dificuldades que o mesmo tinha e da angústia que eu sentia. Mas durante os 23 anos que estive em sala de aula, encontrei muitos Arleis,e sempre tive um carinho e um cuidado muito especial com esses alunos , acreditando no seu potencial, fazendo-os acreditar que eles tinham condições de aprender , tanto quanto os outros ,que apenas precisariam de um tempo a mais.
Em outubro de 1979, substitui uma Licença Gestante, numa escola municipal, na localidade de Roncador , município de Feliz. Dava aula para 2ª,4ª 5ª séries, além disso fazíamos a merenda e a faxina da escola. Caminhávamos 4km , para chegarmos na escola, o ônibus não entrava na localidade de manhã cedo . Foi uma experiência muito boa, pois as crianças além de estudar, nos ajudavam a fazer a merenda e a cuidar da escola. Tínhamos um trabalho de equipe, de união, de participação tanto dos alunos quanto dos pais.
Iniciei a minha jornada no Estado em 23 de setembro de 1980, na Escola Estadual Marquês do Herval, localidade de Arroio Feliz, com uma 4ª série,em substituição a professora Roseli Pegoraro, que assumiu a direção da escola. Por incrível que pareça, em outubro já participei da minha primeira paralisação, na qual era reivindicado aumento salarial, melhores condições de trabalho. Eu só fui receber o meu salário no mês de fevereiro de 1981, coisas do estado, que não mudaram até o momento. Foram muitas as paralisações das quais participei mas as mais marcantes e longas foram as de1985 , 1987 e em 1989, quando apenas eu e mais cinco colegas da nossa escola paralisamos e como eu trabalhava no turno da manhã em outra escola, nesta fui a única a paralisar. São 28 anos de Magistério , nos quais tivemos muitas conquistas graças as lutas dos professores por melhores condições de trabalho, qualidade da educação e valorização da nossa profissão.
Ingressei na Universidade do Vale dos Sinos (UNISINOS) em 1979, durante o estágio do Magistério. Eu e alguma colegas que também estavam fazendo estágio, cursamos a disciplina de Português,. Uma delas foi a Carlota Schuch, que estudou comigo desde a Pré-escola até esta primeira cadeira da UNISINOS. Eu estava cursando Letras e ela Direito. A Carlota já não se encontra mais entre nós. Saudades.
Em 06 de fevereiro de 1982, deixei a casa de meus pais , para seguir minha vida,junto com meu esposo Luiz. Fomos morar na cidade de Estância Velha . Assumi minhas funções docentes, na Escola Estadual Humberto de Campos de março a dezembro, com uma turma de 4ª série.
Em dezembro de 1982, viemos morar em Nova Petrópolis, terra natal de meu esposo, pois em janeiro de 1983 assumiu a Secretaria de Obras do município.
Em março de 1983, assumi minhas funções na Escola Estadual Padre Werner,com uma turma de 2ª série. Portanto, faz 25 anos que trabalho nesta escola, que vi crescer, junto com meus quatro filhos que estudaram nesta escola, porque sempre acreditei no potencial de nossa escola, uma equipe unida, trabalhando na mesma direção, em busca dos mesmos objetivos uma educação de qualidade para nossos alunos. Em virtude desta mudança, solicitei minha transferência para Universidade de Caxias do Sul (UCS), , onde colei grau em 27 de março de 1987.
Os momentos mais marcantes de minha vida, foram os nascimentos de meus filhos Luiz Gustavo em 26 maio de 1984, Ana Cândida em 8 de setembro de 1985, Lucas Guilherme em 25 de maio de 1987 e Leo Germano em 04 de dezembro de 1989.
Outro momento marcante foi minha colação de grau, pois não foi muito fácil conciliar trabalho, estudo, gravidez, filhos pequenos, viajar diariamente a Caxias do Sul, mas enfim consegui. Minha mãe até meu deu uma medalha de ouro pela conquista.
Durante 23 anos atuei em sala de aula, com as séries iniciais e também com a disciplina de Português. As séries iniciais do Ensino Fundamental são a minha paixão, mas a minha paixão maior é a 2ª série ou hoje 3º ano. Foi a série na qual mais atuei e em que me sentia especialmente realizada, com o crescimento que os alunos alcançam na mesma Nesta minha trajetória atuei em outros setores da escola como a biblioteca ,secretaria e há 5 anos estou diretora.
Confesso que a maior realização é estar em sala de aula, porque não existe nada mais recompensador para um educador ver seus alunos fazer novas descobertas e alegria que eles demonstram a cada nova conquista.

Um comentário:

Claudio Benedito Barbosa disse...

Abençoados os Mestres que fazem do magisterio um sacerdócios de fé e dedicacao.Li seu relato e como menino pobre,residindo na zona rural,distante do Grupo Escolar Professor Ângelo Martino,mais de oito quilometros,não poderia deixar de expressar o meu comentário.
',, Naquela época cursava o quarto ano no período das onze e quinze 'as 14,15 hora,depois ia para o preparatorio,como chamávamos o curso de Admissao.A única alimentação que ingeria era um prato de sopa muito rala,oferecida pela Caixa Escolar.Certa feita passei mal na classe e minha saudosa professora Ofélia Simoes chegou à conclusão de que o problema era a alimentacao.A partir dai passou a me trazer um nutritivo pão de coco todos os dias.
Dentro de minha rebeldia infantil,certa feita disse para um colega de classe que a professora era ', puxa-saco de ricos,e ela ouviu!
No momento nada me falou,após corrigir alguns cadernos ela calmamente deu a resposta de forma filosofica.
- O aluno Cláudio Boninine e pobre,devo dar-lhe uma nota alta,baixa ou de acordo com o seu merecimento ?
Assim ela prosseguiu ate o final da correcao das lições.
Envergonhado,não sabia onde punha a :: cara:
A professora Ofélia nem por isso deixou de trazer o meu pãozinho de cada dia é em momento algum deixou de amar a todos sem
excecao.,da mesma forma que você amou aquele aluno que tinha dificuldades no aprendizado
A professora Ofélia já nos deixou a muito tempo,entretanto navegando na internete a procura de um trecho de Humberto de Campos ,sobre sua primeira escola,deparei através do seu relato com minha saudosa e querida Mestra Ofélia Simoes