Memorial de Maria do Carmo Canani

CARTA PARA MARIA ANTÔNIA
São Francisco de Paula, 01 de dezembro de 2006.

Gostaria de iniciar este texto lembrando as palavras de um dos muitos mestres com quem convivi na fábrica: meus queridos educandos trabalhadores. Vanderli escreveu um dia:
Vivendo a vida que levo
Vivendo a vida que tenho
Vivendo a nossa era
Vivendo a longa espera
Vivendo a vida nobre
Vivendo a vida de pobre
Vivendo a vida que Deus nos deu
Vivendo a vida que ele nos tira
Vivendo a vida mentira
Vivendo pelas estradas
Vivendo a noite estrelada
Vivendo abrindo compasso (...)
Vivendo, vida, viver ... Lembro-me, então, das palavras de Olímpio, outro mestre trabalhador que me (re)ensinou a escrever, a pensar sobre a função social da escrita e sobre a própria vida:

Nasido: 21 de Setembro: 1938 Flio de Marcelino Braz dos Santos: Maria Macemilia dos Santos
Família pober nuga tive e tudo porqe tina qetrablira
Ajudar opai nafazeda porqe ganava muito poço
Naudava para oalimto Senpe pecava nodia melhor
Nos era 11: Filios garnde epiqnos ganav tezetos mires poeano para Porbe vir nafazeda qenos trabaliva tenpo rui dias melor pesava udia deusia majudar Pacei mita fome nuga dezisti lutemito dia meliopr virão cevoce tiver feedeus enosa ceinora e nos amicos tudo vaidae certo nuga e tarde parvecer ojania Anosa vidaemtaboa Dabralutar porela naoe defice devecr e oras boas erue ogetudo mudo par melior (...) .

A história de Olímpio repete-se na história de vida e exclusão de muitos trabalhadores. Na verdade, repete-se um pouco, também, no texto da minha vida. Sou Maria do Carmo Canani, 43 anos, filha de Aura da Rocha Canani, costureira por cinqüenta anos, e de Gentil Protásio Canani, açougueiro por mais de vinte anos, mas, também, tropeiro, vendedor de roupas, entre outros ofícios. Nasci em São Francisco de Paula, no dia 8 de março de 1963 (certamente, não foi por acaso), e sou a quinta das cinco Marias: Eva Maria, Miriam Jussara (que também é Maria), Maria Luiza, Maria da Graça, Maria do Carmo. Mas havia, também, o Protásio Joaquim, o César Luís, o Túlio Vinícius e o José Ângelo. Dos nove, ficamos em quatro: Protásio, José, Maria Luiza e eu.
Da infância pobre, lembro poucas coisas (muitas, talvez, não queira lembrar). Lembro-me, por exemplo, de que, por volta dos oito anos, pedia livros emprestados a um vizinho para poder ler (minha grande paixão, que me levaria, anos mais tarde, a cursar Letras). Lembro-me, também, de que, desde muito pequena, brincava de aulinha num quarto velho de minha casa, elegendo como alunos alguns bonecos de papel que eu construía e colava nas cadeiras, como se fossem gente.
Lembro-me, ainda, de dormir escutando as histórias de minha vó Adolfina, que por um tempo morou conosco. Ela me embalava e contava coisas interessantes do tempo em que vivera pelas casas dos fazendeiros, como uma das primeiras professoras do município, na época em que não havia escolas por aqui. Aliás, o “ofício de mestra” dizia ela ter aprendido com meu bisavô Maximiano, que, muitos anos depois, viraria nome de escola: Escola Municipal Maximiano Augusto da Rocha (hoje desativada), na localidade de Faxinal dos Pelúcios, distrito de Tainhas. Contava minha vó que ele chegara ao Brasil com 12 anos, vindo de Minho, Portugal, onde teria iniciado seus estudos. No Brasil, ficou no Rio de Janeiro por algum tempo, indo depois para Minas Gerais, onde permaneceu por alguns anos. Não continuou seus estudos, pois, desde cedo, teve que trabalhar para sobreviver. Mas era um grande estudioso, lia muito, procurando aumentar cada vez mais seus conhecimentos. Com 19 anos, chegou em São Francisco de Paula, e então começou sua carreira como professor, onde lecionava para os filhos dos fazendeiros, em suas casas, tendo sido, mais tarde, nomeado professor municipal, e sua primeira escola aquela que depois ganhou o nome dele. Nessa caminhada, foi inspirando minha vó e uma outra filha a serem também professoras.

Anos mais tarde, analisando alguns documentos e cadernos de minha vó ( do início do século XX), percebo que, apesar de sua pedagogia ser um reflexo da época, intuitivamente ela fazia um trabalho diferenciado (por exemplo, o estímulo à produção da poesia e da escrita de cartas, e os cálculos ligados ao cotidiano das pessoas daquele lugar). Um outro fato interessante: o caderno de chamada ou diário de classe apresentava dados muito importantes sobre cada um dos alunos, bem mais do que os diários de hoje. Importantíssimo: minha vó contava que, geralmente, quem participava de sua aula eram os filhos dos fazendeiros, raramente um peão. Na verdade, ela deve ter sido bastante discriminada na época, pois foi mãe solteira em 1918. Uma mulher forte, persistente, mas que sofreu muito, assim como minha mãe.

Pensando em minha mãe e em meu pai, começo a lembrar-me de outras histórias. Lembro-me, por exemplo, de ouvir minha mãe contar que, em alguns momentos, nossa família chegou a não ter o que comer. Mas lembro-me, sobretudo, de duas histórias que até hoje me entristecem e me revoltam.

Uma dessas histórias ouvi várias vezes de minha mãe. Contava ela que, aos seis anos de idade, lavava roupa na fonte (muitas vezes, com o frio da neve) e também escovava a casa enorme e velha da família. Tudo isso fazia para agradar os tios, por quem foi criada. Ingenuamente, ela dizia que os tios eram muito bons para a sobrinha. Minha mãe quase ficou sem ser alfabetizada, apesar de minha avó ter sido professora. Quando visitava a filha, de vez em quando, vó Adolfina ensinava-lhe um pouco do alfabeto. Ainda assim, minha mãe aprendeu a ler e a escrever, muito bem. Por sinal, lembro que ela tinha o hábito de escrever, no mesmo caderno em que tirava as medidas de suas freguesas de costura, sobre coisas que a entristeciam ou alegravam (uma vez, encontrei, em um de seus velhos cadernos de medidas, um desabafo que fez por causa de uma decepção que teve com meu irmão). Em minha experiência como educadora de adultos, sempre me lembro dela quando vêm à tona as histórias de vida e trabalho, quando alguém se encoraja a escrever sobre isso. Devo dizer que minha mãe é uma de minhas inspirações para abraçar essa causa (a educação de adultos). Quando ela “mudou de lado”, no dia 30 de dezembro de 2004, aos 86 anos, escrevi um pequeno texto, que lembro neste momento:
86 anos costurando vidas ...
Quase sempre, tendo apenas a agulha da fé, a linha da
persistência e
alguns poucos botões de esperança ...
Muitas vezes, eu sei, machucando os dedos e a alma com as alfinetadas
das
dificuldades, da incompreensão, da solidão
no quarto da costura ...
Muitas vezes, já com os olhos e o coração cansado, ajudando
a remendar nossas dores, nossas limitações, nosso desânimo...
Mas era preciso continuar tecendo os dias...
86 anos costurando, desmanchando, remendando, tentando
enfeitar o tecido das nossas vidas...

E hoje, no arremate desta vida, sabemos que a peça que
nos entregas precisa
continuar sendo costurada, talvez fazendo
alguns ajustes ou acrescentando alguns acessórios que, com
certeza, sonhaste para a tua e para as nossas vidas: alargar
a fé e a união, estreitar o egoísmo e a intolerância,
encompridar o perdão e a caridade ...

Obrigada, minha amiga querida, por tudo o que me
ensinaste,
na tua oficina de costura, sobre amar e viver ...

Descansa em paz. Que Deus te ilumine e te
acompanhe sempre!!!

Da amiga, eternamente,

Maria do Carmo
30 –12- 04

A outra história era meu pai quem contava. Por incrível que pareça, sua família era considerada tradicional, bastante rica. O que ocorreu foi que os mais espertos acabaram “passando a perna” nos mais ingênuos. Foi o caso de meu pai, que acabou sendo empregado de meu tio, fazendeiro, e trabalhando muitos anos em um açougue do irmão, sem salário. Só saiu de lá quando a doença não mais lhe permitiu continuar trabalhando, sendo substituído por meu irmão, que também acabou sendo “escravo” de meu tio, enriquecendo-o mais ainda. Lembro-me agora da música Cidadão, pensando na relação entre o que um trabalhador produz e do que consegue usufruir dessa produção:

tá vendo aquele edifício, moço/
ajudei a levantar
foi um tempo de aflição
era quatro condução
duas pra ir, duas pra voltar
hoje depois dele pronto
“óio” pra cima e fico tonto
mas me vem um cidadão
e me diz desconfiado: tu ta aí admirado
ou ta querendo roubar?
Meu domingo ta perdido
Vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
Eu nem posso “oiá” pro prédio
Que eu ajudei a fazer

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por minha família, fui a única dos nove filhos a seguir adiante nos estudos, ainda que tenha ingressado na universidade somente aos vinte e sete anos (antes disso, após o Magistério, cursei dois anos de Estudos Adicionais em Alfabetização, na FEEVALE – 1986 a 1988).
Do chão de uma família pobre, na pequena São Francisco de Paula, ao chão da universidade, uma grande travessia ... Considero que foi no campo profissional que melhor consegui desenvolver o exercício da rebeldia (e é incrível como as coisas foram encaminhando-se para isso). Já no Curso Magistério (1977 – 1980), pensava eu que a educação tinha que mudar. O que mais me indignava era ouvir os educadores (ou professores?) dizerem que o ensino tinha que ser algo significativo, voltado à realidade dos alunos, e, ao mesmo tempo, perceber que sua prática educativa não tinha nada disso.
Concluí o Curso Magistério em 1981, e em 1982 comecei a lecionar, trabalhando com crianças de pré-escola. Trabalhei na escola pública (municipal e depois estadual, como professora concursada) até o ano de 1988. Nessa época, fui bastante discriminada nas escolas onde trabalhei, pois tentava fazer algo diferente, mas de forma isolada e sem ser compreendida e apoiada pelos colegas e pela direção da escola – meu trabalho era muito questionado. Dessa experiência, uma lembrança bonita, apesar disso tudo, é a do grupo de teatro que organizei com as crianças da quarta série, junto com uma outra colega (eu escrevia as peças, e a gurizada envolvia-se de uma forma muito interessante – íamos para a escola até aos domingos, construir roupas e cenários).
Lembro-me de que, nesse tempo, escrevi uma peça que era uma espécie de fábula sobre a vida em sociedade, e um dos personagens era o Macaco Pinduriba Peludo, prefeito da cidade e corrupto. Havia também a Coelha Orelhucha Coelhudo, uma professora revolucionária, que organizava com seus alunos um protesto, na Semana da Pátria. A peça falava de corrupção, injustiça social, liberdade, numa linguagem infantil. No dia em que a apresentamos na escola (por sinal, a mesma escola onde estudei e concluí o Curso Magistério), estava presente, na platéia, o pessoal do Núcleo do CEPERGS (Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul), que elogiou o trabalho e convidou-nos a apresentar a peça em Taquara (sede do Núcleo). Para surpresa minha, horas depois, fui chamada por uma das vice-diretoras, que me questionou sobre o sentido crítico do texto e determinou que não faríamos a apresentação. O mais triste, ou mais grave, é que, de fato, a peça acabou não sendo apresentada. Mas eu era teimosa, e continuei escrevendo. Anos depois, numa época de greve, na mesma escola, eu e um aluno do Ensino Médio (segundo grau, na época) escrevemos uma peça que tinha a ver com a Velha República e a Nova (foi logo depois que Tancredo Neves morreu). A peça foi apresentada por um grupo de professores e de alunos da escola, mas, dessa vez, não houve nenhum impedimento à apresentação.
Em 1989, fui convidada a fazer parte da Assessoria Pedagógica da Secretaria de Educação, Cultura e Desporto de São Francisco de Paula. Apesar de nesse período ter ficado fora da sala de aula, esse foi um tempo de “graça” em minha vida profissional, sobretudo pela convivência com os educadores e educandos da zona rural, que me ensinaram muito sobre educar, aprender, viver. Através desse trabalho, ouvindo relatos de educadores, educandos e pessoas das diferentes comunidades, visitando escolas no “fundo do mato”, coordenando a formação de educadores, participando de vários seminários e cursos, tive a oportunidade de me repensar como pessoa e como educadora.
Nessa época, tínhamos mais de sessenta(60) escolas municipais, sendo mais de cinqüenta(50) rurais, funcionando em regime de classes multisseriadas. Uma experiência muito gratificante dessa época foi a construção do Jornal Construir, cuja coordenação ficou sob minha responsabilidade. Esse jornal, publicado mensalmente, era expressão da proposta de sociedade e de educação em que acreditávamos e que estávamos buscando construir, embora com muitos limites. Para se ter uma idéia, o veículo era todo feito na Secretaria, quase de forma artesanal (texto datilografado, diagramação feita por uma colega, letreiros por outra, e por aí afora). Mas o bonito era que ele registrava várias vozes, várias expressões, ou procurava fazer isso: educandos, educadores, comunidade, equipe da Secretaria de Educação, Cultura e Desporto.
Em 1993, voltei à escola pública (estadual), como professora de Língua Portuguesa nas turmas de 5ª a 8ª série (estava já cursando Letras, desde 1990, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS). Nada havia mudado nessa escola, e eu, de novo, sentia-me frustrada, impotente.
Mas houve, então, nessa época, algo que revolucionou minha vida profissional, pessoal e social. Depois de tantos anos no chão da escola formal, um grande desafio: pisar o chão de uma fábrica como educadora de Língua Portuguesa no Projeto Supletivo de Trabalhadores (convênio entre a Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – e empresas da Grande Porto Alegre). Foi nesse chão que comecei a descobrir o verdadeiro sentido de ser ou aprender a ser educadora (e, mais do que isso, educanda). Porém, lembro que o início dessa experiência, de certa forma, representou pisar o “chão do medo”. Como em todo processo educativo, houve um momento de estranhamento - nesse caso, também pelo fato de ser a primeira vez em que entrava em uma fábrica. Vem-me à mente e ao coração, neste momento, o texto de um educando, e é preciso, então, contar um pouco da história desse texto. No último encontro de Língua Portuguesa, na turma de Gérson, levei para a fábrica um texto em homenagem à turma (um hábito que construí ao longo dos anos: sempre que encerrava o trabalho em uma turma, escrevia alguma coisa para os educandos). Quando fui lê-lo, já no final do encontro, Gérson disse que ele também havia produzido um e que gostaria de lê-lo antes de mim. Propus, então, que ele fosse à frente e fizesse a leitura do seu texto, e disse que eu sentaria no seu lugar. Ele disse que eu tinha que sentar no meio do círculo, bem no centro da sala, e escutar. O texto não foi lido, foi dramatizado! Gérson, negro, tão tímido no início do processo, consegue, poeticamente, através da escrita, mostrar toda a caminhada de sua turma, de medo e coragem. Principalmente, o educando consegue, como ninguém, falar do medo do desconhecido, por parte da educadora e dos educandos, ocorrido no início da experiência na fábrica:
Foi nesse chão, de tantas contradições, que iniciei meu aprendizado social e político no campo da educação. Foi ali, entre o barulho das máquinas e os cheiros tantos da fábrica, mas, sobretudo, com aquelas mulheres e com aqueles homens, que eu comecei a ter uma melhor compreensão de diferentes realidades e do mundo do trabalho (inclusive, do mundo do meu trabalho), da minha própria condição humana. Acho que ali comecei a compreender um pouco melhor, também, a história de minha mãe, de meu pai, de meu irmão, de tantos outros Josés e de tantas outras Marias, ou seja, a história dos excluídos. Excluídos, inclusive, da história oficial da humanidade, lembrando o texto de Brecht – Perguntas de um Trabalhador que Lê:
Quem construiu Tebas, a de sete portas?
Nos livros estão os nomes de reis.
Arrastaram eles os blocos de pedra?
E a Babilônia várias vezes destruída –
Quem a construiu tantas vezes?
Em que casas da Lima dourada
Moravam os construtores?
Para onde foram os pedreiros na noite em que a
Muralha da China ficou pronta?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os Césares?
A encantada Bizâncio
Tinha somente palácios para seus habitantes?
Mesmo na lendária Atlântida
Os que se afogavam gritaram por seus escravos
Na noite em que o mar a tragou?
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César bateu os gauleses.
Não levava sequer um cozinheiro?
Felipe da Espanha Chorou
Quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?
Cada página uma vitória.
Quem cozinhava o banquete?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava a conta?
Tantas histórias
Tantas questões
No final das contas, pisar num chão de fábrica, durante cinco anos, como educadora, significou, principalmente, pisar num chão de grandes interrogações. Uma dessas interrogações, por exemplo, compartilhei com o trabalhador Geronildo e seus colegas quando a empresa não nos permitiu fazer uma viagem a São Francisco de Paula, minha cidade, há muito sonhada e planejada (nas palavras do Gerente de Recursos Humanos: “quer ver mato, vai no fundo da fábrica, que tem bastante!”). Geronildo tornou-se porta-voz da frustração do grupo, escrevendo “Viagem de Sonho” (a viagem que ele daria a sua filha como presente de aniversário):
Muitas dessas interrogações, em parte, transformaram-se no tema de meu trabalho de conclusão do Curso de Letras, entitulado: Escrita, Subjetividade e Trabalho: “A Fábrica da Vida que Teimosamente se Fabrica” . No texto de introdução, fiz perguntas que até hoje continuam me interrogando:
Quem são esses personagens e essas personagens (ou homens e mulheres?), caras barbudas e lisas, mãos ásperas e calejadas, andar cansado, olhar arrastado, alma escondida, que pisam diariamente o chão de uma fábrica, construindo, ao mesmo tempo, a riqueza do país e a sua pobreza?

De que se faz sua vida (sua vida se faz?), além do relógio-ponto, do barulho das máquinas, do suor no rosto e das dores nas costas, do silêncio no bolso e no peito no final do mês?

Têm eles (ainda) sonhos? Qual é a matéria-prima de seus sonhos? É-lhes permitido sonhar? É-lhes permitido amar?

O que da fábrica está na sua vida? O que da sua vida está na fábrica?

O que pensam os “homens” desses personagens e dessas personagens (ou desses homens e dessas mulheres)? Mão-de-obra barata? Operários sem cultura e sem consciência? Homens sem história? Homens e mulheres que pensam e amam? Sujeitos históricos?

Como se mostram? Qual é sua linguagem? O que é que neles e nelas fala, grita, gesticula, silencia, faz criar?

Qual a sua relação com a escrita? Qual é o material da sua inspiração?

Pode o chão de uma fábrica ser também (ou vir a ser) um “chão de sonhos”, um “chão de conquistas”, sendo, quem sabe, trilha para o “chão de uma nova vida”?

Afinal, quem são esses personagens e essas personagens?

Em 1995, num ato de coragem (ou covardia, quem sabe), exonerei-me da rede pública estadual. Em 1997 (ainda trabalhava, nessa época, na fábrica), fui convidada, por indicação de uma colega que trabalhava comigo no Supletivo de Trabalhadores, a trabalhar como educadora de Língua Portuguesa e Literatura num Curso de Magistério coordenado pelo Setor de Educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Instituto de Educação Josué de Castro, mantido pelo Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária (ITERRA), em Veranópolis, RS. De início, um grande susto, afinal, embora, teoricamente, identificasse-me com a causa da reforma agrária, ainda não a compreendia muito bem e nunca havia tido nenhum contato com o Movimento.
Para surpresa minha, numa turma de aproximadamente oitenta educandos, de todos os “cantos” do Brasil, a metodologia por mim utilizada foi bastante aprovada pelo grupo, talvez por aproximar-se de sua cultura, de seu jeito de ser. Eles esperavam aulas de gramática, e eu investi na linha textual, trabalhando com várias linguagens por eles vivenciadas: música, teatro, literatura. Segundo os educandos, na avaliação do trabalho realizado, a metodologia aproximava-se da sua mística:
Continuei trabalhando com o Magistério, em outras turmas, e essa experiência abriu caminho para várias outras. Passei, então, a fazer assessoria ao Setor de Educação do MST em nível nacional. Entre 1997 e 1999, coordenei várias oficinas pedagógicas relacionadas à educação de jovens e adultos, além de prestar assessoria à Coordenação do Curso de Magistério, através de diversas atividades (por exemplo, acompanhar os estágios dos educandos em acampamentos e assentamentos – Oficinas de Capacitação - OCAPS ).
Em 1998, fui desafiada a acompanhar o trabalho dos educadores do MST no Estado do Maranhão, com o objetivo de, futuramente, coordenar o Setor de Educação nesse Estado. Durante um mês (abril), participei de seminários, visitei assentamentos e acampamentos, conversei com educadores e lideranças locais e coordenei oficinas pedagógicas, principalmente na área de educação de jovens e adultos. Na volta, participei de um grande encontro sobre Educação de Adultos, em Pernambuco, em homenagem a Paulo Freire. Por motivos pessoais, acabei não assumindo tal coordenação. Quando me lembro desse tempo, lembro-me de muitas músicas e poemas do Movimento, mas uma música que não me sai da cabeça e do coração é “Sempre é Tempo de Aprender”, do poeta popular Zé Pinto, que já foi meu educador-educando (EJA – Ensino Médio):
Quem é que tem interesse em participar,
quem é que se prontifica para ensinar
tá lançado o desafio, e o refrão vamos cantar
/: “Sempre é tempo de Aprender,
Sempre é tempo de ensinar”:/

Quando criança nos negaram esse saber;
Depois de grande vamos pôr os pés no chão,
/: a quem não sabe o dever de repartir,
todos na luta pela alfabetização:/

Jovens e adultos, papel e lápis na mão,
Unificando educação e produção,
/: num gesto lindo de aprender e ensinar
se educando com palavra e com ação:/

Na nossa conta um mais um tem que crescer,
A liberdade vai além do ABC,
/: um conteúdo dentro da realidade
vai despertando o interesse de saber:/.
Depois, também trabalhei como educadora de Língua Portuguesa e Literatura num Curso de EJA – Ensino Médio, no Assentamento Sepé Tiaraju, em Viamão, RS. Esse curso era destinado a lideranças nacionais do MST. Nesse grupo, surgiu algo muito interessante: por serem lideranças, com grandes responsabilidades, alguns desses educandos entendiam que deviam estudar a Língua Portuguesa a partir da gramática normativa para melhor se prepararem para a luta, o que provocou, da parte de alguns, uma certa resistência à proposta de trabalho, que priorizava a “linguagem viva”, representada pela poesia, pela música, pelo teatro, pela conversa, pela leitura num enfoque mais informal. Em contrapartida, alguns outros entendiam que essa metodologia era importantíssima no sentido de tirar as “cascas” (termo utilizado por um educando, referindo-se à herança de uma sociedade e de uma educação impositiva, conservadora, burguesa, capitalista. O debate desencadeado por essa divisão de opiniões foi riquíssimo, mostrando, parece-me, o quanto somos contraditórios, independente de nossas vivências, de nossa cultura.
Fortaleci-me nessa experiência, enquanto pessoa, mulher, educadora, cidadã. Nessa caminhada, muito venho aprendendo sobre: Reforma Agrária; Movimentos Sociais; Educação Popular (principalmente no âmbito da Educação de Jovens e Adultos); Cooperativismo (lembrando que o Instituto de Educação Josué de Castro, por exemplo, é gerenciado pelos próprios educandos); Formação de Educadores; Educação no Campo. Importantíssimo: tenho hoje uma compreensão social do Movimento e da Reforma Agrária que me permite compartilhar com outras pessoas o que venho aprendendo com essas experiências, para além do que a mídia apresenta. Acima de tudo, a convivência com os companheiros do MST tem contribuiído, principalmente, para alimentar minha utopia como educadora social, através de sua mística, e então me lembro do um texto de um educando, produzido em um de nossos encontros de Literatura, No Instituto de Ensino Josué de Castro (ITERRA):

Em 1999, fui selecionada para ser Educadora Social do Programa Integrar/Metalúrgicos, em Sapiranga, RS, e, então, pude fortalecer um pouco mais minha utopia, minha rebeldia e minha amorosidade. Em 2000, fui convidada a ser Assistente de Formação no mesmo Programa, mas optei por continuar como educadora, entendendo que, no momento, precisava aprender um pouco mais na experiência de ser educadora social.
Para mim, participar durante quase cinco anos desse programa possibilitou-me, sobretudo: aprofundar a compreensão sobre o mundo do trabalho (iniciada no chão de fábrica, em 1993); participar de um processo de formação de educadores que tem como base a dimensão social e política (o que ainda é raro em termos de formação de educadores); discutir, construir e pôr em prática um currículo que não se baseia na fragmentação do conhecimento, mas na idéia da integralidade dos sujeitos, tomando o trabalho como eixo desencadeador e articulador de toda a proposta político-pedagógica, na perspectiva, também, da construção de alternativas de trabalho e renda.
Mas essa experiência significou muito mais, no plano pessoal, pois essa época coincidiu, também, com os dois momentos mais bonitos e mais dolorosos de minha vida: a gravidez de Maria Eduarda e a de Maria Antônia. Tanto numa gravidez como na outra, os educandos “engravidaram” comigo. Lembro-me muito do chá de fraldas que as duas turmas, num total de sessenta pessoas, organizaram na primeira gestação.. Foi lindo demais, mas Maria Eduarda não pôde ou não quis ficar (nasceu morta, aos oito meses de gravidez, e eu quase fui junto). Nem é preciso dizer o que esses amigos do Integrar me ensinaram, nesse momento, sobre solidariedade ... Mas veio, depois, Maria Antônia, e minha alegria foi a deles, também. Uma de minhas mestras/educandas, Olívia, cuidou de mim como se cuida de um filho, e é uma das madrinhas de minha filha.
São muitas as lembranças desse tempo. Numa das formaturas do Programa, organizada pelos municípios do Vale do Sinos, o grupo de educadores escolheu-me para fazer o discurso em nome de todos. No final desse discurso, trago à tona, poeticamente, um momento muito bonito que aconteceu em uma de nossas turmas de Sapiranga :
(...)Por isso, queridos educandos-mestres-trabalhadores, formandos ou não, esta é uma noite de celebração do espetáculo da vida. E por falar em espetáculo, me vem à lembrança, neste momento, uma certa noite quente, numa certa praça de uma certa cidade, quando, numa roda de viola, entre risos, canções e cochichos, uma educanda-mestra-trabalhadora, num instante de rara beleza, disse: “Meu Deus! Quando é que eu ia pensar que um dia ia estar olhando as estrelas?

Que essas estrelas que hoje voltamos a olhar (ou olhamos pela primeira vez) nos façam mais brilhantes, mais fortes, mais solidários, mais gente, para que, juntos, possamos nos tirar e tirar outros da fábrica escura da vida. Muito obrigada, educandos-mestres-trabalhadores, por podermos estar fazendo parte desta produção!

No ano de 2003, retornei ao Programa de Educação Básica de Jovens e Adultos Trabalhadores — Supletivo de Trabalhadores (UNISINOS), agora como educadora dos trabalhadores da Doux Frangosul, em Montenegro, e assessora pedagógica na Área de Linguagem. Nessa experiência, foram priorizadas a discussão e a construção da rede temática a partir das histórias de vida dos educandos.
Em junho de 2005, voltei a trabalhar na Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto de São Francisco de Paula, assumindo, entre outras funções, a Coordenação do Programa Brasil Alfabetizado. É preciso, então, contextualizar um pouco a educação de adultos no município.Ainda que considerado o Estado com menor índice de analfabetismo no país, o Rio Grande do Sul possui 501.261 analfabetos absolutos, o que representa 6,7% da população do Estado que não teve acesso à escolaridade mínima, e um percentual de analfabetos funcionais que representa 20% da população do Estado. De acordo com o Parecer 11/2000, “o maior número de analfabetos se constitui de pessoas com mais idade, de regiões pobres e interioranas e provenientes dos grupos afro-descendentes”.
São Francisco de Paula faz parte desse cenário. O município está localizado no Nordeste do Rio Grande do Sul, a aproximadamente 112 quilômetros da capital, tendo como área total 3.289,70 quilômetros quadrados, assim distribuídos: área urbana de 190 quilômetros quadrados e 3.099,70 quilômetros quadrados de área rural, sendo que a maioria da população vive na zona urbana, ou seja, 12.269 pessoas, num universo de 19.968 habitantes. Esse é um dado significativo, que evidencia o êxodo rural na região.
Outro dado importante diz respeito à predominância da população acima de 15 anos no município: 14.220 pessoas. Nesse universo populacional, 1.356 pessoas são analfabetas, num percentual de 9,10%. No período de 2000 a 2004, foram alfabetizadas apenas 62 pessoas. No ano de 2004, somente 33 analfabetos encontravam-se em sala de aula. Portanto, em 2005, havia necessidade de se alfabetizar 1261 pessoas, considerando-se que, até setembro desse ano, existia no município apenas uma turma de alfabetização, com 11 educandos, estando essa turma inserida no Programa Alfabetiza Rio Grande (concluído no município em setembro de 2005).
Diante da situação apresentada, a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto sentiu-se (e sente-se) desafiada a construir uma proposta político-pedagógica de Educação de Jovens e Adultos, voltada para as classes populares. Assim, ainda em 2005, o município começou a desenvolver o Programa Brasil Alfabetizado, com verba oriunda do Governo Federal, contemplando um universo de 100 pessoas – zona urbana e zona rural – num período de oito(8) meses (novembro/2005 a julho/2006). O Programa visa à alfabetização inicial e pós-alfabetização (o equivalente aos quatro anos iniciais do Ensino Fundamental). Os educandos, em sua maioria, têm mais de 30 anos (alguns, mais de 70 anos).
Uma gota de esperança num oceano de exclusão, poder-se-ia dizer. Afinal, em 2005, eram apenas nove (9) turmas - (cinco(5) na zona rural e quatro(4) na zona urbana, num universo que depois não foi mais de 100 pessoas (considerando-se o processo de evasão que ocorreu em algumas turmas), contra a realidade de mais de mil (1000) analfabetos que continuam excluídos de quase tudo. No entanto, entendendo-se que a Educação de Jovens e Adultos comprometida com os interesses das classes populares ocupa ainda um lugar marginal no contexto da educação brasileira, é importantíssimo que cada vez mais se possa refletir sobre experiências nessa área, independente do número de pessoas que sejam envolvidas.

QUE PROPOSTA DE EDUCAÇÃO BUSCA-SE CONSTRUIR?

Na Educação de Jovens e Adultos, no Brasil, podem ser percebidos dois projetos de sociedade e de educação. De acordo com Gaudêncio Frigotto (2005), no primeiro projeto, excludente, a concepção de educação está relacionada a uma visão utilitária e empresarial do saber, dentro da ideologia da empregabilidade, reduzindo o processo educativo a cursos de treinamento e reconversão profissional. Nesse contexto, o objetivo é o de formar um cidadão mínimo, alienado, que não pense e não exerça pressão para mudar os privilégios dos poderosos. Nessa proposta, não há educação, portanto, não há educando e nem cidadão – o ser humano é considerado um objeto. No segundo projeto, a concepção de educação está relacionada à vida, numa perspectiva de humanização e emancipação humana. Valoriza-se a realidade cultural e social dos educandos, numa tentativa de construir capacidade para ler e escrever criticamente a realidade que os cerca, construindo-se, portanto, sujeitos capazes de transformar-se, transformando, coletivamente, seu meio local para transformar a sociedade excludente em sociedade solidária. Essa é a concepção de educação com a qual a Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto de São Francisco de Paula identifica-se. O projeto de sociedade e de educação defendido nessa proposta, dessa forma, busca sua essência nos saberes construídos pelas classes populares, sendo a educação enquanto prática humanizadora seu princípio norteador. A base desse princípio, de acordo com Paulo Freire, é o diálogo, fundamentado pela amorosidade, que é compromisso com todos os seres humanos.

COMO SE CONCRETIZA ESSA PROPOSTA?
Na proposta pedagógica desenvolvida por Paulo Freire, são valorizadas, fundamentalmente, a cultura e a realidade do educando. Para Freire, essa realidade é o ponto de partida para que a pessoa construa compreensão do mundo e de si mesma como sujeito da história. Segundo a concepção freireana, o trabalho pedagógico não se dá pela imposição de conteúdos, mas por uma construção do conhecimento em que o educador e o educando ensinam e aprendem ao mesmo tempo.
Nesse contexto, as histórias de vida constituem-se o elemento desencadeador e articulador de todo o processo educativo. Conforme Charlot (2000, p. 69):


Aprender, sob qualquer figura que seja, é sempre
aprender em um momento de minha história,
mas, também, em um momento de outras
histórias: as da humanidade, da sociedade na
qual eu vivo, do espaço no qual eu aprendo, das
pessoas que estão encarregadas de ensinar-me
(...). Qualquer que seja a figura do aprender, o es
paço do aprendizado é um espaço-tempo partilha
do com os outros.
Assim, desde o início, os educadores, nos encontros de formação, vão discutindo sobre a importância de construir com os educandos um ambiente significativo para que essas histórias sejam trabalhadas, sendo exploradas as mais diferentes linguagens: práticas de fala e escuta, música, imagens, desenhos, fotos, filmes, dança, teatro, leitura de textos diversos (poemas, biografias, letras de músicas), entre outras. Então, a escrita das histórias vai acontecendo aos poucos, e os educadores vão buscando estimular os educandos para que escrevam do seu jeito, ajudando, se necessário, criando um clima de confiança para que, naturalmente, discutam com os colegas sobre a questão da escrita.
O trabalho com as histórias de vida vai impulsionando a análise da realidade, uma vez que nesse contexto estão envolvidos aspectos diversos da conjuntura (local e global): trabalho, sociedade, política, economia e outros. Além disso, essa prática vai estimulando o estudo e a pesquisa sobre temáticas de interesse dos grupos (por exemplo: etapas da vida – infância, adolescência, velhice; relações familiares; valores, sentimentos; espiritualidade etc). Nesse sentido, trabalhando com temáticas significativas para os educandos, os educadores vão procurando construir com eles atividades que lhes oportunizem fazer diversas relações entre as áreas de conhecimento, numa perspectiva transdisciplinar, e, ao mesmo tempo, oportunizem-lhes avançar no processo de alfabetização, pela variedade das situações de leitura e de escrita, tomando-se o texto como unidade de sentido, sempre.
Nessa experiência, é importante salientar a presença do “Banco de Textos” mediando toda a proposta pedagógica. O que é o “Banco de Textos”? Trata-se de uma coletânea de diferentes tipos de texto (poemas, crônicas, fábulas, letras de música, contos, reportagens, artigos etc) – atualmente, mais de 100 textos, selecionados inicialmente pela Coordenação do Programa (com a possibilidade de que esse “Banco” seja ampliado pelos educadores e educandos), a partir de temáticas selecionadas nas formações pelo coletivo dos educadores, tendo por base o trabalho inicial com as histórias de vida (família, trabalho, questões sociais, espiritualidade, entre outros). Esses textos (“Banco”) ficam à disposição dos educandos, estimulando-os, desde o início do processo, à curiosidade pela leitura e ao gosto por outros textos. Assim, num horário que é escolhido por cada grupo, é propiciado – a cada dia, semanalmente, ou de outra forma - um momento de leitura livre (em que os educandos tanto podem ler textos do “Banco” como outros, levados de casa ou disponibilizados pelo educador: revistas, jornais, livros, cadernos de receitas, folhetos e outros), socializado, num segundo momento, de diferentes formas (conversando sobre o que cada um leu, desenhando etc). Além disso, o “Banco subsidia o desenvolvimento das temáticas que vão surgindo nos grupos (por exemplo, a partir do trabalho com as histórias de vida, surgem discussões sobre a questão do trabalho, e então cada turma, de acordo com sua realidade, pode utilizar diferentes textos do “Banco” para trabalhar essa temática: A Trajetória de Josefa – da Bahia para São Paulo (texto biográfico); Cidadão (música de Zé Ramalho); Meninos Carvoeiros (poema de Manuel Bandeira); Mulher na Luta (música do cantor popular Zé Pinto); Há Futuro para o Trabalho? (Rodrigo Gurgel), A Força que Nunca Seca (música de Vanessa da Mata), entre outros, o mesmo ocorrendo com outras temáticas). E, muitas vezes, os textos do “Banco” desencadeiam assuntos inesperados (como o caso de uma turma que passou a trabalhar com a questão das diferentes formas de discriminação a partir da descoberta de um texto do “Banco” por um educando: A Mão da Limpeza, de Gilberto Gil. Cabe aqui destacar, nesse sentido, o quanto a literatura está presente nessa proposta (literatura clássica e popular).
Por tudo o que já foi colocado, ressalta-se, também, que o trabalho pedagógico busca integrar-se a um processo de inserção cultural, econômica, política e social, tendo em vista seu caráter emancipatório e o contexto social, econômico, cultural e político de São Francisco de Paula: a questão do êxodo rural, gerando o subemprego e o desemprego; a extensão territorial do município, que caracteriza um sistema latifundiário, em que predominam situações temporárias de trabalho, trabalho pouco remunerado e a desvalorização do trabalhador; o número de analfabetos do município, e o fato de serem eles e as pessoas menos escolarizadas os que mais sofrem com essa situação). A partir da problematização da realidade, que é uma das bases metodológicas da prática que se está buscando construir, pretende-se oportunizar aos educandos que não apenas construam elementos para melhor se compreenderem e compreenderem sua realidade como para dela participarem e nela poderem intervir. Nesse sentido, é fundamental estimular/desafiar os educandos para que participem de ações/atividades que favoreçam sua inserção no ambiente social, econômico, político e cultural de sua comunidade e de seu município: participação em associações de bairro e em outros movimentos populares: participação em sessões da Câmara de Vereadores e em outros atos políticos de sua comunidade e de seu município; visitas a locais públicos e entidades sociais e culturais; participação em eventos sociais e culturais do município, como feira do livro, festas da comunidade e outros eventos. Considera-se, também, que o trabalho pedagógico deve estimular/desafiar os educandos a buscar alternativas de trabalho e renda (cooperativas, por exemplo), ou a participar de ações que já existam no município nesse sentido.
As primeiras turmas (cinco na zona rural e quatro na zona urbana) concluíram suas atividades no início de julho/2006, e novas turmas estão funcionando hoje, em 2006, a partir de setembro (seis na zona rural e quatro na zona urbana). Além disso, pretende-se solicitar ao Conselho Estadual de Educação a autorização para funcionamento de Educação de Jovens e Adultos nas escolas municipais, no próximo ano, considerando-se que apenas duas escolas (estaduais e urbanas) oferecem educação de jovens e adultos no município (uma no centro da cidade e uma outra na periferia), sendo que na zona rural nenhuma escola oferece essa modalidade de ensino.
A Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Desporto de São Francisco de Paula está desenvolvendo também, desde 2005, o Programa Escola de Fábrica — quatro turmas já concluíram, e outras estão sendo organizadas para o ano de 2007. Além disso, está ocorrendo no município, desde o segundo semestre deste ano, uma experiência-piloto que integra a escolarização em nível de ensino fundamental e a organização de uma alternativa de trabalho e renda ligada ao artesanato (parceria entre a Central Única dos Trabalhadores – CUT – e o Ministério da Educação (MEC). Estão funcionando duas turmas de aproximadamente vinte e cinco (25) educandos, uma na zona urbana e a outra na zona rural. A proposta político-pedagógica é da própria CUT, e a formação dos educadores também é de sua responsabilidade, mas, em nível municipal, sou eu quem está assessorando pedagogicamente as duas educadoras envolvidas nesse processo, embora não seja da minha responsabilidade a coordenação do projeto.
Na verdade, essa experiência é um pouco inspirada no Programa Integrar, também idealizado pela CUT. Digo um pouco porque me parece que, nesse projeto, há algumas perdas em relação ao que propunha o Integrar enquanto proposta de educação preocupada com o mundo dos trabalhadores. Embora minha análise seja muito provisória, esse projeto parece preocupar-se muito mais com a organização de um empreendimento (já não se fala mais em cooperativismo!) do que com uma formação política e social mais aprofundada dos sujeitos envolvidos no processo). Uma prova disso é que todo o planejamento das aulas é feito anteriormente pela CUT, não dando muitas possibilidades aos educadores, embora a idéia seja de construção coletiva.
Voltando ao Brasil Alfabetizado, é importante dizer que a coordenação desse Programa compreende várias funções: realizar levantamento do número de analfabetos do município (absolutos e funcionais); mapear a procedência desses analfabetos, pesquisando em diferentes fontes: cartório eleitoral, agentes de saúde, lista de beneficiários do Programa Bolsa-Família e de outros programas sociais, associações de moradores, entre outras; realizar reuniões nas localidades onde ocorre maior número de analfabetos, para mobilização das comunidades e organização das turmas; elaborar a proposta pedagógica do município para esse Programa, tendo em vista a obtenção de recursos financeiros junto ao MEC; coordenar o processo de seleção de alfabetizadores; cadastrar alfabetizandos, alfabetizadores e turmas; planejar e coordenar a formação inicial e continuada dos alfabetizadores; acompanhar e avaliar o processo de alfabetização.
Porém, a alma dessa experiência está no que realmente é possível acontecer quando as pessoas encontram-se, quer seja nos diferentes espaços onde essa ação desenvolve-se (escola, igreja, casa do educador ou do educando, associação de bairro e outros espaços), quer seja nos espaços de formação dos educadores, com todos os limites que possam ser citados ( por exemplo, o fato de o educador trabalhar quase voluntariamente, e o de não se receber praticamente nada de verba para investimento na formação dos educadores e em recursos, além do fato de que a educação de adultos é ainda tratada como campanha, ou como uma ilha, no contexto educacional do município e do país (a quem e a que a educação de adultos está ainda servindo?). Nesse sentido, atrevo-me a ter esperança, quando tanta coisa bonita acontece: nos textos que nascem, entre “a cruz e a estrela” nossa de cada dia, educandos e educadores; nas trocas de experiência entre os educadores, pela palavra ou até pelo silêncio - que, muitas vezes, fala mais alto: nas conversas descontraídas que surgem na roda das turmas, quando chego como visita; nas lições aprendidas na diversidade (por exemplo, a lição do educador “apenado” Carlinhos, quem sabe condenado injustamente, e mais livre que tantos de nós, com sua alma de poeta e seu violão-pássaro livre); nos momentos surpreendentes que acontecem nas oficinas ( como foi o caso da educadora Luciana, que, na “Oficina dos Sapatos”, construída com a idéia de discutir a temática “trabalho”, olha para um sapato, escolhido por ela entre tantos, e diz: “ Será que quem faz usa os sapatos?” - contando aos colegas, depois, que, quando operária de uma fábrica de calçados, via belos tênis passando pela esteira, mas não conseguia comprar um par para seu filho ou para si mesma. Retornando à esperança, nos diz Frei Beto:

A esperança é um pássaro em vôo permanente. Segue adiante e acima de nossos olhos, flutua sob o céu azul, não se lhe impõe nenhuma barreira. É assim em tudo aquilo que se nutre de esperança: o amor, a educação de um filho, o sonho de um mundo melhor.

Pensando nas oficinas pedagógicas como parte da formação dos educadores do Programa Brasil Alfabetizado, lembro-me de que venho desenvolvendo esse ofício desde 1994, em assessoria a universidades, secretarias municipais de educação, escolas. Essa forma de trabalho, na verdade, nasceu da minha prática com a educação de adultos, nesses anos todos. Recordo que um dia, lá pelo ano de 94, conversando com uma amiga que também tem formação em Letras e naquele tempo era diretora de uma escola aqui em São Francisco, contei-lhe um pouco sobre minha experiência com os trabalhadores, na época, na fábrica. Na metade da conversa, ela pediu-me que eu fizesse uma oficina com seus educadores, que estavam precisando conviver com algo diferente, e eu comentei que nunca havia feito isso e que só sabia trabalhar em sala de aula. Tanto ela insistiu, que eu acabei aceitando. Na época, foi bem interessante, mas não havia nada de tão especial, a meu ver. A idéia era simplesmente trabalhar com a expressão, provocando reflexão sobre aspectos do cotidiano.
Nessa primeira oficina, que depois acabou ocorrendo em outros espaços, começava-se pedindo que cada participante “desse uma palavra para sua vida”. Num segundo momento, era distribuída a cada pessoa uma coletânea de fragmentos de texto (músicas, poemas etc) , com o propósito de que cada educador escolhesse um ou mais fragmentos que se relacionasse(m) com a palavra escolhida inicialmente. A seguir, as palavras e textos escolhidos e sentidos individualmente eram socializados em pequenos grupos, provocando reflexões. Por último, cada grupo tinha o desafio de apresentar aos demais a essência de sua reflexão, expressando-a através de um texto na linguagem escolhida pelo grupo: desenho, teatro, dança, música , entre outras. A partir das apresentações, abria-se espaço para outros comentários, outras reflexões, fazendo-se uma relação entre a atividade realizada e os processos educativos, na escola e fora dela. Logicamente, alguns, inicialmente, foram resistentes à proposta, principalmente por se tratar de algo que, de certa forma, podia mexer com aspectos bem pessoais. Bem, essa oficina foi feita, depois, em outros espaços, como em uma Formação do Integrar, em Capão da Canoa, quando vários educadores choraram ao pensarem em sua história de vida.
Com o tempo, foram surgindo outras idéias, e fui descobrindo que seria interessante trabalhar com outros textos, não-escritos, como, por exemplo, pedras, carvão, sapatos, peças de roupa. Essa idéia exótica (seria mesmo isso?) de trabalhar surgiu quando, numa certa ocasião, eu estava no Paraná, pensando em como montar uma oficina para educadores de jovens e adultos do MST. De repente, no meio de tantos textos literários, dei de cara com o poema “No Meio do Caminho”, de Drummond (No meio do caminho tinha uma pedra!). Por acaso, olhei pela janela e vi muitas pedras, pois o local da formação era rural. Bolei, então, uma oficina que integrava pedras, poesia, música (tudo começava com a escolha individual de uma pedra, entre tantas). Assim, outras oficinas foram surgindo. Hoje, tenho esse ofício como uma grande paixão. Em especial, gosto muito das oficinas que surgiram para discutir a questão do “mundo do trabalho”. A idéia é sempre a mesma: chegar a uma reflexão sobre a dupla dimensão do trabalho (criação e exploração). O que muda são os objetos utilizados para desencadear a reflexão (carvão, roupas brancas, sapatos etc) e os textos utilizados (poemas, músicas e outros).
Na “oficina do carvão”, cada pessoa, primeiramente, tira de um saco, ou de uma caixa, um pedaço de carvão. Depois, o desafio é que cada um expresse, através de desenho ou escrita, a primeira impressão/sensação/sentimento a partir da escolha. Num terceiro momento, em pequenos grupos, são socializadas as impressões/sensações /sentimentos, surgindo uma reflexão, e o próximo desafio é que cada grupo produza um texto para apresentar aos demais, na linguagem que desejar: desenho, música, teatro, painel, dança etc. Feitas as apresentações, eu digo que também vou fazer minha apresentação, e lanço a idéia de trabalho. O que é muito interessante, pensando nos grupos com que já desenvolvi essa oficina (crianças, jovens e adultos, educandos e educadores, participantes de movimentos sociais) é que, geralmente, numa primeira leitura do pedaço de carvão, ninguém o associa a trabalho humano. Surgem muitas idéias: energia, calor, destruição da natureza, churrasco, mas muito raramente fazem uma relação com o “mundo do trabalho”. Depois de uma certa discussão, “saboreamos” o livro “O Velho Vendedor de Carvão”, de autores chineses (na China, esse texto é muito conhecido – um texto de crítica social, de belíssimas imagens). Faz-se, também, uma relação entre esse texto e o poema de Manuel Bandeira, “Meninos Carvoeiros”, além de se trabalhar com três músicas relacionadas à temática “trabalho”: A Força que Nunca Seca”, de Vanessa da Mata, Capitão de Indústria, do Grupo Paralamas do Sucesso, e Cidadão, de Zé Ramalho. Depois de todas essas vivências e reflexões, as pessoas são desafiadas a escrever suas”memórias de trabalho”.
Na oficina em que são utilizadas as roupas brancas como desencadeadoras de uma reflexão sobre trabalho, é dada ênfase ao trabalho da mulher (lavadeira, costureira, bordadeira). Inicia-se essa oficina de uma forma muito sutil, pois as pessoas são convidadas, num primeiro momento, a passear por um ambiente constituído de cadeiras caídas e roupas brancas jogadas ao chão (acho que a inspiração vem de uma Bienal da qual participei uma vez), ao som de um fundo musical, sugerindo-se que escolham uma peça no final da música. Da mesma forma que na oficina do carvão, nessa também, num primeiro momento, as pessoas geralmente não associam as peças de roupa a trabalho humano.
Hoje, 2006, volto à academia para fortalecer-me nessa caminhada, percebendo que muito preciso estudar e aprofundar. Está sendo uma experiência fantástica, pela troca com os colegas, pelas discussões com o grupo, pelas leituras, pelo nível de conhecimento dos educadores, pela possibilidade, enfim, de poder redimensionar meu trabalho e minha própria existência. Acima de tudo, estou encorajando-me a continuar estudando, depois que concluir este curso de especialização. E estou bastante animada com a abordagem que estou pretendendo fazer na monografia (como não poderia deixar de ser, pelo apaixonamento, a questão da formação de educadores de jovens e adultos a partir das oficinas pedagógicas, que brevemente comentei.
Volto, neste momento, ao texto que escrevi para os trabalhadores do Programa Integrar, em sua formatura, para concluir provisoriamente este texto:
Da fábrica escura à vida nova explodida. Quantas aprendizagens nessa construção! A maior delas talvez seja a de que as pessoas só se educam pela necessidade, cumplicidade e solidariedade, buscando compreender humanitariamente o mundo para nele poder intervir, o que nos faz descobrir que nesse processo não há educadores e educandos, pois todos somos educandos-mestres-trabalhadores.
Filha querida, as histórias que aqui conto são para ti. Não são histórias de príncipes e de princesas, nem de fadas, nem de um reino encantado, mas de um mundo onde muitas pessoas levam ainda uma vida “borralheira”, inclusive crianças, que, muitas vezes, ajudam a fazer os sapatinhos de muitas Cinderelas . Mas são histórias de sonhos, de coragem, de luta, de persistência, de solidariedade. Quando tu cresceres, tomara que todos esses sonhos “borralheiros”, essa coragem, essa luta, essa persistência, essa solidariedade tenham transformado esse mundo “borralheiro” num outro mundo, não de faz-de-conta, mas de verdade. Que o meu sonho e a minha luta, enquanto pessoa, mulher, educadora social, cidadã, por um mundo mais justo e fraterno, possa ser, também, o teu sonho e a tua luta.
Com carinho, um beijo no teu coração, e este texto, que é um dos prediletos da mamãe, do poeta Thiago de Mello:

OS ESTATUTOS DO HOMEM

THIAGO DE MELLO

Artigo I - Fica decretado que agora vale a verdade.
Agora vale a vida, e de mãos dadas
trabalharemos todos
pela vida verdadeira.

Artigo II - Fica decretado
que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras
mais cinzentas, têm direito
a converter-se em manhãs
de domingo.

Artigo III – Fica decretado que,
a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra,
e que as janelas devem permanecer,
o dia inteiro, abertas para o verde
onde cresce a esperança.

Artigo IV – Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul
do céu.

Artigo V – Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará
a ser servida antes da sobremesa.


Artigo VI – Fica estabelecida, durante todos os séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos,
e a comida de ambos
terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII – Por decreto irrevogável
fica estabelecido o reinado permanente
da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada
na alma do povo.

Artigo VIII – Fica decretado
que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar amor
a quem se ama,
e saber que é a água
que dá à planta
o milagre da flor.

Artigo IX – Fica permitido
que o pão de cada dia
tenha no homem
o sinal de seu suor,
mas que sobretudo
tenha sempre
o quente sabor
da ternura.

Artigo X – Fica permitido
a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.

Artigo XI – Fica decretado,
por definição,
que o homem
é um animal que ama,
e que por isso é belo,
muito mais belo
que a estrela da manhã.

Artigo XII –Decreta-se que nada
será obrigado nem proibido.
Tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela .
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.

Artigo XIII – Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar o sol
das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará
em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.

Artigo Final – Fica proibido
o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
ou como a semente do trigo,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.



Maria do Carmo

4 comentários:

LHROCHA disse...

Sou filho de Alzemiro Augusto da Rocha e neto de Maximiano Augusto da Rocha e tenho tentado reunir documentos e a história da família. Fico feliz em ver referenciado neste trabalho o nome de meus antecedentes.

Luiz Henrique da Rocha
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Anônimo disse...

Oi meu nome é TOM!

LHROCHA disse...

Maria do Carmo.

Sou filho de Alzemiro Augusto da Rocha e neto de Maximiano Augusto da Rocha e tenho tentado reunir documentos e a história da família. Fico feliz em ver referenciado neste trabalho o nome de meus antecedentes.

Luiz Henrique da Rocha
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LHROCHA disse...

Maria do Carmo.

Sou filho de Alzemiro Augusto da Rocha e neto de Maximiano Augusto da Rocha e tenho tentado reunir documentos e a história da família. Fico feliz em ver referenciado neste trabalho o nome de meus antecedentes.

Luiz Henrique da Rocha
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