Memorial de Sinthia Santos Mayer


“o fato de me perceber no mundo, com o mundo e com os outros me põe numa posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal, minha presença no mundo não é de quem a ele se adapta mas a de quem nele se insere. E´a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História.” (Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia, p.60)

Memorial formativo

A construção do meu memorial formativo. Este tem sido meu maior desafio. Pensar-me no todo para no fim ‘ recortar-me”, destacar de lá quem sou eu profissionalmente.
Preciso fazer um alerta aos leitores: sou uma exagerada por natureza, sendo assim, desde já peço desculpas pelas narrativas épicas que seguem. Fraqueza minha, essa de não saber me conter, mas como diz minha amiga Fabiane Pavani ao se definir “... quando sou, sou toda...” Parece que isso me define também.
Me veio à lembrança, que na inscrição para a Pós em PROEJA, eu já tinha “ sofrido” um pouquinho tentando me lembrar de como me tornei educadora, ao elaborar a Carta de Intenções. Como de fato tornei-me e me torno todos dias uma educadora.
Resistindo à tentação de cair na linha do tempo, me vi sem saída. Só me resta deixar que a memória flua e traga tudo que por ali faz sentido.
Inicialmente, quero contar como foi meu primeiro contato com a escola. Morava em Viamão, na área rural, e minha mãe, certo dia me levou pela mão até a porta da escola. Era uma casa, uma grande sala com muitas classes. Nos fins de semana, aquele espaço se transformava numa igreja. Um homem de meia idade, chamado Neuri, era o professor. Durante a semana ele se desdobrava em ministrar aulas para as quatro séries juntas.
Quando lá cheguei, levada pela minha mãe, me deu um medo, acho que não foi do local, meu medo era da separação. Separar-me da minha mãe naqueles dias não era coisa fácil pra mim. Anos antes já tinha vivido essa experiência e que me marcou muito. Correram as lágrimas, e aquele homem, até então, um estranho, sugeriu
gentilmente à minha mãe, que me trouxesse no ano seguinte, afinal eu ainda não tinha 7 anos completos. Minha mãe, firme como só as mães sabem ser, disse que não. Tempos depois, lá estava eu, com minha saia de 4 machos e uma blusa branca com uma gola que nem sei como explicar.
Ao entrar na sala, aquele homem me esperava e ao me indicar onde eu deveria sentar, qual não foi minha surpresa. Tinha um lápis com um ratinho na ponta. Foi o suficiente para eu nunca mais esquecer meu primeiro mestre. Aquele que me ensinou a gostar da idéia de escola. Um lugar de carinho e afeto. Classes antigas e aquele lápis, com o Mickey na ponta. Orelhas grandes o suficiente para que as roesse toda vez que a insegurança e o medo tomassem conta de mim. O ano era 1976 e ali estudei até o fim de 1977. Em 1978, cursei a 3ª série na Escola Municipal Farroupilha, também em Viamão.
Desde então, estudar sempre foi bom. A escola, sempre um lugar de descobertas. Dos livros cuidados com carinho, da letra caprichada ao refúgio anos mais tarde, quando entrei na adolescência e os conflitos começaram a povoar minha cabeça. Lugar de tirar notas boas, que me proporcionou socializar-me, já que eu tão tímida, ao dar “cola” fui tornando - me popular. Descobri também a biblioteca, lugar de fantasia e acolhida, toda vez que a vida me sufocava.
Ser professora, era isso que repetia até uns 14 anos, talvez já prevendo meu futuro. Ao entrar para o magistério, novos questionamentos sobre a profissão de professora.
O ano era 1985, “ Nova República”; o Brasil estava fervilhando e o Instituto de Educação Gen. Flores da Cunha (IE) também tinha outros atrativos. Só a direção da escola que se esforçava em sufocar manifestações, a organização do Grêmio Estudantil, a participação nos congressos, a militância política. A escola me apresentando a vida, eu construindo minha opinião sobre a vida que se apresentava.
Opinião essa que me fez mudar de escola. Saí do IE no ano seguinte e fui estudar Mecânica à noite no Parobé. Minha saída do IE teve seu ápice quando fui chamada à Orientação Educacional, porque eu e minhas amigas estávamos nos reunindo pra ler textos políticos. Quando entrei na salinha da OE, a Orientadora, gesticulando muito com suas imensas unhas e anéis, ficou tentando me convencer que política não era para nós, “éramos as filhinhas do Instituto...tínhamos passado num concurso difícil de admissão, éramos inteligentes demais para perdemos tempo com política...”
Mal sabia ela. No fim daquele ano, só comuniquei à minha mãe, que embora decepcionada, respeitou minha decisão, mas exigiu que eu arranjasse um estágio. Logo consegui estágio dentro do Parobé.Escola organizada, com um público mais velho. Professores politizados. Destaque para o Prof Luis Carlos Borda ( Literatura).
Logo o Grêmio Estudantil era meu espaço preferido e o debate sobre o ensino técnico meu objetivo. A dualidade entre uma escola que desse a formação integral e profissional, já naquela época povoavam os debates promovidos pela União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), entidade da qual fui Vice-sul.
Embora tenha trabalhado como desenhista auxiliar numa metalúrgica, nunca conclui o curso de Técnico em Mecânica. Atuar no movimento estudantil exigia viagens constantes, mesmo dentro do RS.
A militância política sempre me marcou. Com a elaboração da nova constituição em 1988, participei da campanha pelo Voto aos 16. A juventude na rua, exigia ter seu direito assegurado em Lei. Com muito debate nas escolas, conseguimos aprovar na pressão.
Como já disse anteriormente, o Brasil vivia naquele período uma efervescência. Talvez uma ressaca, por tantos anos sem liberdades políticas. Logo estávamos em 1989, discutindo eleições presidenciais, depois de 20 anos de ditadura militar no Brasil.
Penso que esse foi um dos debates mais educativos que vivenciei. Não era só fazer campanha, era preciso que debatêssemos um programa de governo para o Brasil. Pensar Brasil, foi a primeira vez que ouvi esse termo. Papel do Estado e logo discutíamos os 14 pontos do programa da Frente Brasil Popular, que tinha Lula como candidato à presidência. Lançamos Comitês de Juventude por essa cidade afora. Grande experiência de organização.
Em 1991, fiz as provas da Secretaria de Educação (SEC), conclui o Ensino Médio, estudei pro vestibular e no fim do ano fui aprovada para o curso de Biologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Era 1992. Outro ano movimentado na minha vida. Logo que entrei na UFRGS, comecei a participar das reuniões do Diretório Central dos Estudantes(DCE); fui à São Paulo para o primeiro ato no Brasil pelo Fora Collor. A Avenida Paulista parecia um mar de pessoas.
Fui eleita para a diretoria do DCE e a participação política foi intensa. Além da Campanha pelo Fora Collor, debatíamos já naquela época no meu curso a Lei de Patentes. Período marcado também por uma grande onda de privatizações. Todos esses debates mobilizavam e tornavam a universidade um lugar de muitas oportunidades.
À convite da amiga, Fabiane Pavani, comecei a participar de um projeto de alfabetização de adultos, coordenado pela Profª Jaqueline Moll. Os alunos eram funcionários da UFRGS. Ao participar do grupo de estudo, tive contato com os textos de Paulo Freire, Esther Grossi, etc. Ser professora, agora já não era só um desejo de menina. Era concreto, era necessário.
Pensar Brasil, significava pensar Educação, debater processo de aprendizagem, processos de exclusão, escola como espaço de socialização e construção da cidadania. No curso de Biologia, já não havia mais espaço pra mim. A pesquisa realizada nos laboratórios, controle de dados, observação, não eram suficientes para mim. A Pedagogia me fornecia instrumental para a militância na vida. Foi inevitável: fiz transferência interna e iniciei meus estudos no curso de Pedagogia, na UFRGS.
Em 1994, ao me casar, mudei-me para o Mato Grosso do Sul e logo depois para Curitiba. Em 1995, nasceu Gabriel, meu filho adorado. Fui estudar na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e com muita dificuldade, conclui meu curso de Pedagogia. Filho pequeno e longe da família, me vi obrigada a levar o Gabi várias vezes para aula. Diversão garantida para ele e para as minhas colegas. Tensão constante para mim, sempre com a sensação de estar atrapalhando as aulas. Tranquei meu curso duas vezes. Dilemas de ser mãe e prosseguir na formação.
Ainda durante a graduação, fiz estágio numa fábrica, preparava os funcionários para as provas de supletivo promovidas pela Secretaria Estadual de Educação.
Depois participei de um projeto de alfabetização de adultos, parceria da UFPR com o Movimento dos Sem Terra (MST). Íamos todos os sábados durante um ano para um assentamento localizado na cidade de Teixeira Soares, próximo a Curitiba. Durante a semana, debatíamos a partir da leitura dos textos de Paulo Freire, os desafios encontrados. Momento riquíssimo de reflexão e de muito aprendizado. O contato com uma organização como o MST também foi fundamental para pensarmos Educação sob a ótica dos educandos.
Assim que me formei fui trabalhar na Prefeitura de Curitiba, pois havia passado no concurso ainda quando cursava o 3º ano, mas tive de adiar minha posse, por não ter concluído o curso. Trabalhei em bairros de periferia da cidade de Curitiba e quando fui chamada de “professora” pelos meus alunos, a ficha caiu. Lá estava eu em sala, com 30 alunos de uma escola ciclada. O que fazer? Fui buscar na teoria toda a possibilidade de trabalho conseqüente que pudesse ser desenvolvido.
Minha amiga Luciane Pereira, certa vez me disse que ela levou 4 anos para se tornar professora. Para entrar em sala e dar suas aulas com a certeza do que estava fazendo. Confesso que todos os dias sinto “ borboletas no estômago” ao iniciar minhas aulas. Sempre a expectativa daquilo que não foi previsto. As perguntas que você não imaginou que surgiriam. Os dias em que saímos da sala com a sensação da missão cumprida e aquelas noites em que a insônia nos martela com as falhas cometidas durante o dia.
Ao longo da minha caminhada, também atuei como Orientadora Educacional no Colégio Militar de Curitiba. Outro olhar sobre a escola, o currículo e o “ perfil” do aluno. Mais “ borboletas no estômago” ao encontrar alunos tristes, que lutavam contra o rótulo de “ fracassados” numa escola de sistema meritório.
Na minha estada de 3 anos em Goiânia, dei aula de Informática Educacional para alunos de Educação Infantil à Séries Iniciais, além de aulas de Português para alunos de 6ª série. Além disso, iniciei um curso de Especialização em História Cultural na Universidade Federal de Goiás (UFG). Neste período, participei do Colcha de Retalhos, grupo formado por alunos da UFG, que se dispõe a debater as questões GLBTT no âmbito da Universidade, propondo ações, seminários, formulando políticas de ações afirmativas. O que mais me chamou atenção neste grupo, era a sua forma de organização, que em nada lembrava minhas experiências anteriores, pois não há coordenação ou algum “ presidente”, como se está acostumado nas organizações tradicionais. Desafios em me adaptar a outros hábitos culturais e muitas descobertas. Novas aprendizagens, novos amigos.
Ao retornar a Porto Alegre em 2007, minha primeira experiência como educadora, se deu como coordenadora de um curso sobre a Lei 10.639/06 e as Relações étnico-raciais no ambiente escolar voltado para professores da rede pública. A partir do convite de minha amiga Luciane, citada anteriormente, pedagoga, militante do movimento negro e professora cotista da Rede Municipal de Porto Alegre, tive meu primeiro contato com as organizações do movimento negro que atuam em Porto Alegre. Este curso, promovido pela Associação Cultural de Mulheres Negras (ACMUN) em parceria com a Secretaria Especial de Promoção pela Igualdade Racial (SEPPIR), contou com vários palestrantes e com uma ampla programação, entre eles o desenvolvimento da África Pré-Colonial, o que me comprova que a mão-de-obra que foi trazida ao Brasil, na condição de escravos, era altamente qualificada. Outro tema que marcou foi a fala do Profº José Rivair, sobre os intelectuais negros que tanto contribuíram para a formação do Estado brasileiro. Foi meu primeiro contato com professores incríveis. Luis Dario, José Rivair e um em particular que me cativou pelo jeito simples e grande sabedoria, Oliveira Silveira. No início de 2009, Oliveira Silveira, partiu desse mundo, deixando um legado a todos aqueles que lutam por uma sociedade sem divisões, por cor, raça ou crença.
Esta foi uma riquíssima experiência, tanto profissionalmente, quanto pessoalmente. Enquanto uma “ parda”, filha de uma mulher negra com um homem branco, me reconhecer como uma mulher negra, sempre foi algo protelado. Ali, foi a primeira vez que me senti herdeira de um povo com história, de forma positiva. O reconhecimento é um processo e enquanto educadora, meu olhar hoje é muito mais atento para as relações étnicas na condução do trabalho pedagógico.
Tempos depois, retomei meu contato com a Educação de Jovens e Adultos. Participei de um processo de seleção promovido pela Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS) e comecei um outro olhar sobre a Educação de Jovens e Adultos. Desenvolvi a função de Coordenadora Pedagógica Regional do Projeto Todas as Letras aqui no Rio Grande do Sul, promovido pela Central Única dos Trabalhadores ( CUT) em parceria com a Petrobrás e o Ministério da Educação. Durante 8 meses pude experienciar uma proposta de alfabetização sobre a ótica dos trabalhadores. O projeto desenvolvia-se em parceria com organizações do movimento social, sendo que os educadores eram da própria comunidade. Tem como compromisso uma proposta pedagógica que entende alfabetização como leitura de mundo. Pois enquanto se aprende a ler e a escrever, também se amplia a leitura da realidade concreta, se enriquece e alarga a relação com o mundo. É por meio dessa reflexão que os sujeitos podem ir além da consciência ingênua e chegar à consciência crítica, assim nos ensinou Paulo Freire. Outro momento de grande aprendizado e reflexões. Desde então, algumas inquietações me acompanham.
Mas antes quero concluir o relato da minha caminhada profissional. De julho de 2008 até março de 2009, atuei com Professora Substituta de Séries Iniciais/EJA – no Colégio de Aplicação da UFGRS. Atualmente atuo como Professora de Currículo, como por aqui costumam chamar as professoras de séries iniciais, nos Municípios de Alvorada e Cachoeirinha. Fiz concurso para estes municípios em 2008 e este ano fui nomeada. Tenho uma turma de 4ª série e uma turma de A30 numa escola ciclada.
Enfim, após esse exaustivo relato, penso que já consigo pontuar algumas inquietações que me acompanham nessa caminhada como educadora.
A primeira delas diz respeito à função social da escola. Entendo a escola como espaço de socialização do conhecimento acumulado ao longo do tempo pela humanidade. Apesar das suas limitações, a escola ainda é para mim a alternativa da qual os trabalhadores dispõem para superar a fragmentação do saber ler o mundo em sua plenitude, tendo a prática social, o mundo do trabalho como ponto de partida. É a partir do trabalho que o homem transforma a natureza e se transforma, se constituindo como sujeito histórico. O ponto de chegada é a igualdade de acesso ao saber, a democratização do saber. Reside talvez aí, outra inquietação minha. A que serve o currículo escolar? Na minha opinião, deve servir a esse propósito. Um currículo que contemple conteúdos como meio de potencializar a organização e a recriação de novos conhecimentos e não como fim em si mesmo, entendendo o aluno como indivíduo concreto, histórico, socialmente condicionado.O currículo não se restringe a métodos e técnicas, nem se confunde com programas. Diz respeito à tarefa que é específica da escola: ensinar.
Ao olhar para uma proposta de Educação de Jovens e Adultos que dê bases para esse indivíduo se inserir no mercado de trabalho, através da capacitação profissional, penso que “ Emancipação”, “ Cidadania” não podem figurar como mero adjetivos. Os trabalhadores vêm realizando experiências emancipatórias a partir de suas organizações sindicais e profissionais. Indivíduos que mesmo excluídos do processo formal de aprendizagem (escola) têm na sua trajetória de militância a possibilidade de constituírem-se como agentes de sua própria história, “ lendo o mundo” a partir de suas experiências.
A pergunta que me faço é: que saberes são esses que os trabalhadores constroem ao longo de suas práticas sociais que os capacitam para fazerem frente às organizações patronais, enquanto dirigentes sindicais, que lutam para não se adaptar, mas para construir um outro tipo de sociedade, superando a divisão social. Se é verdade que adquirem consciência crítica a partir dessas experiências, também é verdade que muitas vezes a escola não leva em conta toda essa trajetória.
Esta tem sido minha maior motivação ao pensar Educação nos dias de hoje.Penso que um programa de capacitação dos trabalhadores só se efetiva na medida que leva em conta os saberes que estes indivíduos já trazem incorporados a sua prática. Acompanhar com olhar mais atento as trajetórias dos trabalhadores, pode ser uma chance de tornar o currículo concreto e significativo.
Por fim, gostaria de lembrar uma passagem do livro Pedagogia da Autonomia, Cap. 2. onde Paulo Freire diz
“ ...gosto de ser gente, porque como tal me percebo afinal que a construção de minha presença no mundo, que não se faz no isolamento, isenta da influência das forças sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que herdo geneticamente e o que herdo social, cultural e historicamente, tem muito a ver comigo mesmo.”
Fiz este pequeno “ parênteses” para falar dos encontros que tive ao longo da minha vida. Pessoas com as quais me realizo enquanto ser que está no mundo e não se acomoda. Entre várias, convém neste momento que tanto falo de mim, apresentar três dessas pessoas que me acompanham nesta vida.
A primeira delas, Fabiane Pavani, já apareceu ao longo desse texto. Nos conhecemos no período que estudei no Instituto de Educação e pelas mãos dela, recebi meu primeiro “texto político”. Fabiane Pavani, Historiadora, Pedagoga, professora municipal em Porto Alegre, amiga, camarada, parceira, mulher inteligente e bonita, tem sido minha referência na condução do trabalho pedagógico. Com sua experiência e segurança sempre me mostra que é possível. Corro pra ela toda vez que a Escola se torna um desafio.
A outra pessoa, conheci quando morei em Goiânia. João Alberto, professor de História da Universidade Federal de Goiás. As primeiras aulas já me marcaram. Com sua crítica “ácida” ao pós-modernismo me proporcionou inquietações e conversas maravilhosas. Encontro esse, que o tornou presença constante em minha vida. Homem atento às questões de seu tempo, foi quem me chamou atenção para várias experiências autogestionárias dos trabalhadores. Ao pensar uma proposta de currículo que emancipe o indivíduo, penso que talvez devêssemos olhar com mais atenção às essas experiências.
Por fim, mas não mais importante, quero falar de outra amiga, Cora, camarada, irmã. Nos conhecemos já algum tempo, mas foi no meu retorno a Porto Alegre em 2007, que nos reencontramos para dar início a uma caminhada de vida, com direito a risadas, debates, lágrimas, respeito e, acima de tudo, admiração.
Foi nas nossas conversas, quando arranjamos tempo entre as minhas correrias e ela na sua vida de dirigente partidária, que de fato consegui visualizar o meu objeto de pesquisa. Ao dividir minhas impressões sobre as organizações de trabalhadores e o currículo escolar, o olhar atento da Cora sobre a luta do povo brasileiro na construção de uma vida mais digna para a humanidade, me apontou experiências concretas aqui no Rio Grande do Sul, que podem me servir de fonte de trabalho para uma investigação conseqüente.
Enfim, aproveito para falar do “ suporte” que escolhi para apresentar o trabalho. O prof Rafael em suas aulas, por várias vezes nos “ provocava”, relatando trabalhos
anteriores, onde colegas criaram vários artefatos originais. Diante de tal de desafio, me vi motivada, não a fazer algo, tão original, mas algo que de fato, fosse a “Sinthia”, ou pelo menos, carregasse um pouquinho de mim. Assim surge meu “ livro”, construído por mim, dia após dia, com os altos e baixos de nossas vidas. Contei com a ajuda de um amigo, Auracébio Pereira, amigo de longa data, que me deu “as dicas” da construção do livro e um pouquinho de inspiração.

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